número 1
APRESENTAÇÃO
SILVIO POPADIUK
GESTÃO GERENCIALISTA E ESTILOS DE VIDA DE EXECUTIVOS
LEONARDO TONON e CARMEM LIGIA IOCHINS GRISCI
RESUMO
Aos estilos de vida da sociedade líquido-moderna (Bauman, 2001, 2007), associam-se indicadores de desempenhos vinculados ao curto prazo e à obsolescência condizentes com a gestão gerencialista (Gaulejac, 2007). Tal modo de gestão, constituído em essência por características ideológicas, aproveita-se dos discursos ligados à eficiência e eficácia para gerar uma falsa neutralidade da gestão nos ambientes de trabalho. O gerencialismo ganha vulto ainda ao expandir as mais diversas prescrições para além das empresas, contribuindo para que outras esferas da vida passem a ser produzidas segundo os moldes definidos pela gestão. Nesse contexto, merecem atenção os executivos, por se caracterizarem como ícones da (re)produção de estilos de vida (Tanure, Carvalho, & Andrade, 2007; Gaulejac, 2007; Boltanski & Chiapello, 2009). Diante disso, indagou-se: “Que possíveis influências da gestão gerencialista encontram-se na produção de estilos de vida de executivos?”. E constituiu-se o objetivo de compreender que elementos da gestão gerencialista promovem a (re)produção de seus estilos de vida. Para tanto, tomou-se como método a história de vida. Tecidas a partir da realização de entrevistas em profundidade e analisadas à luz da literatura pertinente, as histórias de vida de dois executivos permitiram apontar que os seguintes elementos contribuem para a (re)produção dos estilos de vida de executivos: a glamourização do mundo executivo; as constantes situações de pressões vivenciadas no dia a dia de trabalho; a despersonalização do trabalhador avaliado com base em índices e resultados; e a relação com a família intimamente alcançada pela lógica da gestão. Ao produzir um indivíduo que se vê seduzido pelo glamour, a gestão gerencialista apresenta sua faceta de máquina produtiva e de controle social, uma vez que os estilos que dela resultam são estilos de vida, não somente de uma parcela da vida. Tal recurso, de certo modo, instila características e sensações compensatórias que mascaram os sofrimentos ou mesmo os mecanismos de poder e dominação existentes em tais modos de gestão.
Palavras-chave: Gestão gerencialista. Subjetividade. Estilos de vida. Executivos. Contemporaneidade.
A DINÂMICA IDENTITÁRIA DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: UM ESTUDO NO BRASIL E NOS ESTADOS UNIDOS
LILIAN BARROS MOREIRA, MÔNICA CARVALHO ALVES CAPPELLE e MARIA NIVALDA DE CARVALHO-FREITAS
RESUMO
A diversidade é um tema bastante complexo e controverso. Engloba as chamadas “minorias” não em termos numéricos, mas em termos do exercício do poder. Compõem as minorias os negros, pessoas com deficiência, mulheres, indígenas e outros. Embora haja avanços nessa discussão, inclusive na legislação, ainda se observam lacunas quando se fala do trabalho para essas minorias. Para o presente trabalho, escolheram-se, entre as minorias, as pessoas com deficiência (PCDs), pois, segundo a Organização Internacional do Trabalho (2010), elas representam 10% da população mundial, ou seja, cerca de 650 milhões de pessoas, dentre as quais aproximadamente 72% estão em idade produtiva. Nesse sentido, o objetivo do presente artigo foi compreender a dinâmica identitária de PCDs inseridas em organizações de trabalho, localizadas no Brasil e nos Estados Unidos. Para isso, elaborou-se um arcabouço teórico com base na abordagem sociológica da identidade de Dubar (2005). Optou-se pela pesquisa qualitativa e exploratória, a partir de uma abordagem interpretativa. As técnicas de coleta de dados utilizadas foram: entrevista semiestruturada e pesquisa documental. Foram entrevistadas 12 PCDs no Brasil e oito nos Estados Unidos, entre homens e mulheres. As entrevistas foram gravadas, transcritas e analisadas por meio da análise de conteúdo. Constatou-se que, tanto no Brasil como nos Estados Unidos, o trabalho das PCDs entrevistadas configura-se como um importante instrumento para dar sentido a suas vidas, e suas respectivas deficiências se fazem presentes no processo de socialização organizacional. Além disso, uma das principais barreiras enfrentadas pelas PCDs entrevistadas, no que tange ao emprego, era a própria deficiência. Assim, percebeu-se um conflito entre quem o indivíduo é e quem ele acha que deve ser para poder trabalhar. Observou-se que a identidade do indivíduo é resultado de um movimento de construção e reconstrução entre as suas (muitas) identidades e que o indivíduo não consegue se identificar apenas por seus olhos, mas ele necessita se ver pelo olhar do outro.
Palavras-chave: Identidade. Dinâmica identitária. Pessoas com deficiência. Trabalho. Organização.
REDES SOCIAIS EMPREENDEDORAS PARA OBTENÇÃO DE RECURSOS E LEGITIMAÇÃO ORGANIZACIONAL: ESTUDO DE CASOS MÚLTIPLOS COM EMPREENDEDORES SOCIAIS
RÚBIA OLIVEIRA CORRÊA e RIVANDA MEIRA TEIXEIRA
RESUMO
Também denominadas como redes de relacionamentos, as redes sociais empreendedoras abordam as relações com outras organizações, com grupos de empresas e com pessoas que os ajudam a criar empreendimentos. O objetivo geral deste estudo é analisar como os empreendedores sociais, durante a fase de concepção dos seus negócios, valem-se das suas redes sociais ou de relações para obter recursos e legitimação organizacional. Especificamente, este trabalho pretendeu identificar os laços sociais conforme definição de Granovetter (1973), apontar os recursos mobilizados por meio das redes de relacionamento de acordo com classificação de Brush, Greene e Hart (2001) e verificar os critérios de legitimação das organizações com fins sociais com base na tipologia de Atack (1999). O presente estudo tem abordagem qualitativa, de natureza exploratória e descritiva. Utilizou-se o estudo de casos múltiplos como estratégia de pesquisa. A coleta de evidências foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas com três empreendedores sociais. Os diálogos foram gravados e posteriormente transcritos. O conteúdo das entrevistas foi analisado com a adoção da técnica de análise de conteúdo. Após a análise dos casos, foi possível observar, nas redes de relacionamentos dos empreendedores, tanto laços fracos como fortes. Estes últimos resumiram-se a família, amigos e colegas de profissão. No que diz respeito aos laços fracos, citaram-se empresas públicas, privadas e doadores/colaboradores pessoas físicas. Os laços fortes, em especial, fomentaram praticamente todos os tipos de recursos necessários à concepção dos empreendimentos analisados. Os laços fracos, por sua vez, promoveram uma boa parcela dos recursos físicos necessários às organizações em questão. Foi possível observar também que as redes de relacionamento contribuíram para a legitimação das organizações com fins sociais analisadas. Verificou-se o quanto elas são participativas com relação ao fomento da legitimidade formal-procedimental. Entretanto, os empreendedores poderiam ainda ter potencializado essa fonte de recursos, aproveitando-as melhor no âmbito da legitimação substantivo-proposital, fomentando a promoção de mecanismos para motivar e captar voluntários, desenvolvendo critérios a fim de mensurar a eficácia das atividades promovidas ou ainda aproveitando o capital intelectual das suas redes por meio da promoção do processo coletivo de tomada de decisão.
Palavras-chave: Empreendedorismo social. Redes de relacionamento. Laços. Recursos. Legitimação organizacional.
EVENTOS ORGANIZACIONAIS RAROS: O QUE SÃO E COMO INVESTIGÁ-LOS?
ANDRÉ LUIS SILVA, MÁRCIA DE FREITAS DUARTE e FLÁVIA PLUTARCO
RESUMO
Eventos raros formam uma corrente de investigação relativamente negligenciada no contexto organizacional, seja por razões conceituais e/ou metodológicas. Neste artigo, apresentamos uma definição para a expressão eventos raros, quando em contexto organizacional, e uma estratégia de pesquisa para investigá-los. Utilizamos os aspectos inusitados que emergiram dos resultados de uma coleta de dados realizada no último dia de funcionamento do Cine Belas Artes (CBA) de São Paulo, o qual foi obrigado a deixar o imóvel que ocupava desde sua inauguração em 19431. Por meio de uma pesquisa exploratória qualitativa, concluímos que um evento organizacional raro é um acontecimento de caráter histórico, que gera propagação em mídia e mobilização social em face de sua relevância emocional para as pessoas envolvidas na situação. Por essa definição, emergiram três perguntas norteadoras que formam uma estratégia de pesquisa para investigar eventos dessa natureza. Na dimensão teórica, esta pesquisa nos dá condições de compreender que, embora um evento acidental possa ser raro, isso não indica que todos os eventos raros são per se acidentais, já que a imprevisibilidade inerente aos aspectos que distinguem os acidentes não necessariamente caracteriza eventos raros. Quanto à prática da pesquisa, chama-se a atenção para os múltiplos aspectos envolvidos na configuração de um evento organizacional raro, o qual se revelou como um fenômeno complexo, cuja origem e assimilação de sua raridade podem assumir formas variadas. Diante desse achado de pesquisa, este estudo procura ressaltar que a abordagem de pesquisa a eventos não usuais não admite escolhas metodológicas e compreensões simplistas por parte dos pesquisadores. Acima de tudo, faz-se necessário compreender que os eventos organizacionais raros criam o desafio, tanto para as organizações como para os pesquisadores que os investigam, de encontrar maneiras alternativas para apreender a natureza e peculiaridades desses eventos, mesmo que os resultados obtidos estejam contingentes a um determinado contexto, tempo e situação.
Palavras-chave: Cine Belas Artes. Eventos organizacionais raros. Estratégia de pesquisa. Estudos organizacionais. Pesquisa qualitativa.
MOTIVAÇÃO DE VOLUNTÁRIOS: PROPOSIÇÃO DE UM MODELO TEÓRICO
CARLOS EDUARDO CAVALCANTE, WASHINGTON JOSÉ DE SOUZA e ANDERSON LUIZ REZENDE MÓL
RESUMO
O presente estudo propõe um modelo estrutural para caracterizar motivos que levam indivíduos ao trabalho voluntário. O espaço empírico do estudo foi a Pastoral da Criança – organismo de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A instituição, de base comunitária, desenvolve trabalhos baseados em valores cristões como ajuda ao próximo, fraternidade, solidariedade e partilha do saber. O referencial teórico discute elementos do trabalho voluntário a partir de autores nacionais e internacionais, como os trabalhos de Wilson (2000), Clary, Snyder e Ridge (1992), Bussell e Forbes (2002), Cnaan, Handy e Wadsworth (1996), Penner (2002), no exterior, e os de Figueiredo (2005), Souza, Lima e Marques (2008), Sampaio (2004), Souza e Carvalho (2006), Piccoli (2009) e Vervloet (2009), em contexto brasileiro. A partir de Mostyn (1983), Carvalho e Souza (2007), Souza, Medeiros e Fernandes (2006), Souza, Dias, Moura e Cunha (2009), Souza, Cunha, Nascimento e Cavalcante (2010), Cavalcante, Souza, Nascimento e Cunha (2011a, 2011b, 2011c, 2012), abordam-se conceitos de voluntariado e reflexões teóricas de motivação voluntária que conduziram à construção do modelo testado. A coleta de dados foi realizada por meio de questionário fechado com 21 indicadores, em duas visitas a cidades da Diocese de Pesqueira/PE. A primeira coleta de dados ocorreu no período entre 30 de maio e 3 de junho de 2011, na cidade de Buíque/PE, e, a segunda, na cidade de Pesqueira/PE, entre 6 e 8 de julho de 2011. Aplicaram-se 720 questionários no total. A amostra foi dividida em duas partes. Com a primeira, foi feita análise fatorial exploratória e, com a segunda, análise fatorial confirmatória, por meio da modelagem das equações estruturais. O exame dos resultados alcançados pelo modelo das expectativas permite concluir pela validade e confiabilidade do instrumento. Assim, as expectativas do voluntário da Pastoral da Criança são explicadas por um conjunto de interações entre os cinco atributos testados: altruísta, afetivo, amigável, ajustado e ajuizado.
Palavras-chave: Trabalho voluntário. Motivação no trabalho voluntário. Gestão de ONGs. Motivação. Terceiro setor.
COOPERAÇÃO NO APL DE SANTA RITA DO SAPUCAÍ
ANA ROSA DE SOUSA, MOZAR JOSÉ DE BRITO, PAULO JOSÉ SILVA e UAJARÁ PESSOA ARAÚJO
RESUMO
Neste trabalho, apresentam-se os principais resultados de pesquisa na qual se investigaram os construtos explicativos das relações de cooperação entre as empresas integrantes do arranjo produtivo local (APL) localizado na cidade de Santa Rita do Sapucaí, em Minas Gerais. Para tanto, recuperaram-se alguns aspectos da gênese, do desenvolvimento e da configuração do referido arranjo. Posteriormente, foi elaborada uma proposta teórico-metodológica que serviu de referência para a produção de explicações sobre relações entre os construtos cooperação, confiança, benefícios, entre outros. Para testar e validar a referida proposta, aplicaram-se duas técnicas de análise multivariada: análise fatorial e regressão polinomial. As análises dos resultados da pesquisa evidenciaram a existência de correlações que indicam percepção positiva dos gestores em relação à governança promovida no âmbito do arranjo produtivo e aos benefícios advindos da cooperação. Estes últimos são vistos pelos gestores como geradores de algumas vantagens individuais e coletivas para as empresas participantes da pesquisa. Finalmente, os resultados desta pesquisa contrariam algumas formulações da proposta teórico-metodológica utilizada para explicar as relações de confiança construídas entre as empresas que atuam numa mesma base territorial. Indicam ainda que esse APL exemplificaria bem a importância de dois elementos institucionais: a governança (no caso, Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do Vale da Eletrônica – Sindvel – e poder público local) e a interveniência de entidades educacionais que, além de assegurarem a qualificação da mão de obra, assumiram a tarefa de incubar empresas. Não parece inapropriado afirmar que o APL deve a sua criação e, mesmo, o seu desenvolvimento à atuação desses entes, conjuminada com a ação de pessoas visionárias, que ocuparam cargos diretivos nessas entidades. Como qualquer outra pesquisa, esta investigação sofreu com limitações. Entre outras, está o corte transversal dos dados: enquanto se admite a importância da dinâmica histórica, apresenta-se uma análise pontual.
Palavras-chave: Cooperação. Confiança. Arranjos produtivos locais. Governança. Santa Rita do Sapucaí.
INCUBADORAS COMO VETORES PARA A PROMOÇÃO DE TECNOLOGIAS LIMPAS EM EMPREENDIMENTOS DE PEQUENO PORTE: POSSIBILIDADES E LIMITES
SERGIO AZEVEDO FONSECA
RESUMO
O artigo relata os resultados de um estudo que buscou refletir, com base em experiências reais, sobre oportunidades e desafios, possibilidades e limites, para a inserção de empreendimentos de pequeno porte – novos empreendimentos e micro e pequenas empresas – na lógica produtiva que passou a ser conhecida, sobretudo a partir da Conferência Rio 92, como economia verde. A busca pelas tecnologias limpas passou a ser o grande desafio e, ao mesmo tempo, grande oportunidade de negócios. As possibilidades se abriram para empresas de grande porte, capazes de mobilizar os recursos necessários a essa transição. Os limites se tornaram evidentes para as empresas de pequeno porte. Desnudam-se as evidências quanto à necessidade da mobilização de instrumentos, sobretudo de políticas públicas, capazes de oferecer suporte aos empreendimentos de pequeno porte para que possam superar seus limites. O foco do estudo foi precisamente neste ponto: na experiência de duas incubadoras, uma norte-americana e outra brasileira, especializadas no apoio a pequenos empreendimentos orientados a mercados de tecnologias limpas. Qualitativa no método e com propósito exploratório, a pesquisa foi delineada como estudo de casos múltiplos (apoiada em dois casos), tendo a pesquisa documental como estratégia de coleta de dados. Referenciada na literatura de gestão ambiental (com maior ênfase em pequenas empresas de tecnologias limpas) e de incubadoras de empresas (com maior ênfase na tipologia de incubadoras), a pesquisa revelou um grande distanciamento entre as realidades dos dois países, seja nos números de incubadoras inseridas no campo das tecnologias limpas, seja na mobilização de atores institucionais que atuam no apoio a essas incubadoras. Com base nos dois casos estudados, identificaram-se uma única afinidade estratégica e um conjunto de elementos dicotômicos, tanto no plano estratégico quanto no plano da gestão. Como base nessas constatações, são apontados, ao final, indicativos para que o movimento brasileiro de incubadoras de empresas venha a incorporar os componentes ambientais em suas estratégias e em seus sistemas de gestão.
Palavras-chave: Incubadoras de empresas. Empreendimentos de pequeno porte. Tecnologias limpas. Gestão ambiental. Incubadoras de tecnologias limpas.
AVALIAÇÃO DE INDICADORES DE DESEMPENHO LOGÍSTICO DO BRASIL NO COMÉRCIO INTERNACIONAL
ROSANE NUNES DE FARIA, CAIO SILVESTRE DE SOUZA e JOSÉ GERALDO VIDAL VIEIRA
ABSTRACT
The importance of efficient logistics for trade growth is widely acknowledged. Literature has shown that better logistics performance is strongly associated with trade expansion, export diversification, ability to attract foreign direct investments, and economic growth. On the other hand, international trade represents a challenge to logistic operations in transporting and storing products. High logistic costs and low quality of services may be considered obstacles to international trade. This research aims to assess Brazil’s Logistics Performance Index (LPI) in relation to its major competitors in international trade. The international trade data was collected from SECEX and COMTRADE, while the LPI was provided by the World Bank. Statistical techniques such as cluster analysis and multiple comparison tests of means have been applied to analyze the data. After using LPI index for the 39 competitors, it has been observed that Brazil occupies the 26th position in the rank of performers, behind South Africa, Kuwait and Saudi Arabia. The top performers are in general the leading exporters and importers worldwide (Germany, U.S.A., Japan and the Netherlands). Furthermore, they are the strongest competitors of Brazil in international trade. Thus, the competitiveness of Brazilian domestic firms depends crucially on a dynamic and competitive internal logistic environment in order to stand up to these countries. The results also indicate the bureaucracy as a major obstacle to the logistic performance of the country. The dimension Timeliness of Brazil is very close to the High Logistics Performance Group (HLPG) while Customs is very close to the Low Logistics Performance Group (LLPG). Although Brazil has failed in its customs operations, there seems to be more credibility in Brazilian dealings. The main contribution of this paper is to reveal logistical aspects in which Brazil has shown large inefficiencies. The difference among the logistic performance indexs also appears to be relevant to governments to address their new public policies and also to highlight the logistic obstacles of the Brazilian international trade.
Keywords: International trade. Logistic performance indexes. Cluster analysis. Logistic. Customs clearance.
número 2
APRESENTAÇÃO
SILVIO POPADIUK
PROCESSOS DE APRENDIZAGEM: UM ESTUDO EM TRÊS RESTAURANTES DE UM CLUBE ÉTNICO ALEMÃO DE NEGÓCIOS, GASTRONOMIA E CULTURA
JORGE FLAVIO FERREIRA e ARILDA SCHMIDT GODOY
RESUMO
As inúmeras, contínuas e profundas mudanças que ocorrem na sociedade e na arena organizacional impactam nos trabalhadores, diretos e indiretos, no sentido em que cada vez mais são exigidos quanto à aprendizagem para demonstrar competências atualizadas no cotidiano do trabalho. Nesta investigação, prevalece o entendimento de que a aprendizagem organizacional ocorre por meio da aprendizagem individual em ambientes organizacionais, compreendida na perspectiva da aprendizagem como um processo social. Esta pesquisa explorou os processos de aprendizagem organizacional presentes no espaço organizacional de três restaurantes na cidade de São Paulo. Uma questão básica orienta a investigação aqui relatada: “Como as pessoas que trabalham em restaurantes aprenderam e aprendem as práticas de trabalho necessárias ao funcionamento do negócio?”. A partir dessa pergunta, estabeleceram-se dois objetivos: 1. identificar como os trabalhadores, da cozinha e do salão, aprenderam e aprendem as práticas cotidianas de trabalho necessárias ao funcionamento desse tipo de organização; 2. descrever os processos individuais e coletivos por meio dos quais esses atores sociais aprenderam o exercício do seu trabalho. O levantamento realizado nas bases internacionais e nas revistas nacionais do campo da administração, focando a aprendizagem organizacional no espaço de restaurantes, no período de 1995 a 2013, mostra que o tema tem recebido pouca atenção no tipo de organização aqui proposto. Foi utilizado o estudo de caso qualitativo, adotando-se um enfoque descritivo e interpretativo complementado por histórias de vida dos sujeitos que atuam nas brigadas de cozinha e de salão do espaço social examinado. A análise textual realizada permitiu a identificação de um conjunto de oito categorias reveladoras dos processos de aprendizagem: aprender por etapas; aprender a partir de erros, acertos e feedback; aprender pela repetição, memória, experiência anterior e analogia; aprender pela percepção e pelo uso dos sentidos; aprender pela expertise e experiência de outro; aprender com as medidas, o ritmo e a rotação; aprender por meio de conflito, estresse e pressão no trabalho; aprender a partir dos valores e da automotivação. Tais processos foram descritos e articulados com resultados apresentados em estudos internacionais e brasileiros que abarcaram o tema.
Palavras-chave: Aprendizagem organizacional. Restaurantes. Estudo de caso qualitativo. História de vida. Paradigma interpretativo.
COMPORTAMENTO DE CIDADANIA ORGANIZACIONAL: CARACTERIZAÇÃO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA INTERNACIONAL NO PERÍODO DE 2002 A 2012
VÍVIAN FLORES COSTA e TAÍS DE ANDRADE
RESUMO
Este estudo bibliométrico se propõe a apresentar uma caracterização das pesquisas internacionais sobre o tema Comportamento de cidadania organizacional (CCO), a partir da análise dos artigos publicados no período de 2002 a 2012, nos principais periódicos internacionais das áreas de administração e psicologia. Como a escolha da literatura analisada é um dos pontos-chave da análise bibliométrica, o critério de seleção envolveu a catalogação pelo Journal Citation Report (JCR). Para cada área pesquisada, administração (management) e psicologia (psychology applied), selecionaram-se os três periódicos com maiores fatores de impacto (FI) e elegeram-se também os três periódicos mais significativos comuns às duas áreas. Em seguida, partiu-se para a escolha das palavras-chave, que caracterizam um primeiro filtro para a seleção dos artigos. No segundo estágio, os textos pré-selecionados foram lidos integralmente, e nove foram descartados do conjunto inicial de 157 artigos, uma vez que ficou evidente que versavam de assuntos não relacionados com a abordagem específica dos CCO. Dessa forma, um total de 148 artigos constituiu o universo de análise, os quais, no terceiro estágio, foram analisados com base em um roteiro desenvolvido especialmente para este estudo. Por meio dessa análise, constatou-se o reconhecimento da importância dos CCO, pois há um número significativo de investigações sobre o tema e, ainda, um crescimento da produção principalmente nos anos 2010 e 2011. Verificou-se a predominância de artigos empíricos, tendo como objeto de análise os indivíduos. Em relação ao método, houve a maior incidência de pesquisas quantitativas, do tipo survey, sendo os modelos de Williams e Anderson (1991) e Podsakoff, Mackenzie, Moorman e Fetter (1990) os mais utilizados. O CCO foi associado, principalmente, aos temas justiça organizacional e liderança. O panorama dos estudos internacionais sobre o tema apontou a relevância do CCO tanto no âmbito acadêmico quanto no contexto das organizações. No entanto, apurou-se também que a maioria dos artigos, por utilizar pesquisas descritivas e quantitativas, não aprofundou análises que vislumbram a maior compreensão acerca da temática, sugerindo a necessidade de ampliação dos estudos. Quanto aos limites do estudo, cita-se, principalmente, a sua abrangência. Assim, visando ampliar esta pesquisa, sugere-se a realização de um levantamento dos estudos nacionais.
Palavras-chave: Comportamento de cidadania organizacional. Estudo bibliométrico. Produção científica internacional. Administração. Psicologia.
GESTÃO AMBIENTAL DE RECURSOS HUMANOS E NÍVEL DE ENVOLVIMENTO DE COLABORADORES NAS ORGANIZAÇÕES
JOSE ALBERTO CAMARGO, LARA BARTOCCI LIBONI e JORGE HENRIQUE CALDEIRA DE OLIVEIRA
RESUMO
O objetivo deste artigo é propor indicadores que possibilitem fazer uma aproximação entre envolvimento de colaboradores e gerenciamento de projetos ambientais realizados nas organizações. Os indicadores desenvolvidos têm a finalidade de mensurar o nível de comprometimento de colaboradores e organização na promoção de projetos relacionados à gestão ambiental. Trata-se, portanto, de uma pesquisa de caráter teórico-empírica. Tais indicadores podem, futuramente, compor uma escala que auxilie a compreensão da efetividade desses projetos ambientais, de modo a envolver funcionários da organização desde o planejamento até a condução e os resultados. Espera-se que as contribuições apresentadas sejam úteis para pesquisadores, de forma a auxiliá-los a propor novos estudos que possam melhorar os indicadores aqui apresentados, além de permitir que outros estudos apliquem esses indicadores em organizações públicas ou privadas.
Palavras-chave: Colaboradores. Gerenciamento de projetos ambientais. Green HRM. Sustentabilidade. Indicadores.
LEMBRANÇAS DEPOSITADAS: A CONSTRUÇÃO DE UMA MEMÓRIA ORGANIZACIONAL NO EXTINTO BANCO DA LAVOURA (BANLAVOURA) DE MINAS GERAIS
DENIS ALVES PERDIGÃO, AMON NARCISO DE BARROS, ALEXANDRE DE PÁDUA CARRIERI e SUÉLEN RODRIGUES MIRANDA
RESUMO
O presente artigo discute a construção da memória organizacional a partir da análise do vídeo Memória do tempo, produzido pelo extinto Banco da Lavoura de Minas Gerais (BanLavoura) em 1960, em comemoração aos 35 anos de sua fundação. Na ação que aqui denominamos de “um exercício de futurologia”, documentos e objetos também ficaram trancados em uma urna criada para tal fim até o ano 2000, quando foi reaberta. Foi analisado o discurso organizacional registrado no vídeo Memória do tempo, que ficou trancado na urna por 40 anos, como programado no planejamento da atividade. Realizamos também a coleta e análise de entrevistas com ex-empregados do BanLavoura. A pesquisa se valeu especialmente de referenciais sobre a construção da memória e da identidade organizacional, a fim de discutir a intencionalidade que permeia a construção de certo registro sobre a memória e história, que busca representar o passado da organização. Os resultados da análise demonstraram que a gestão organizacional tinha o interesse de preservar a história e memória da organização, mas não de qualquer história e memória. Não interessava recordar os insucessos, os fracassos, as fragilidades organizacionais, tampouco visou construir uma história com base nas memórias dos empregados, já que eles pouco aparecem no material que analisamos. Interessava fazer conhecer aquilo que colaboraria para a projeção de certa identidade organizacional e de uma memória de como o passado aconteceu. Assim, a memória se faz objeto de disputa e é construída ativamente de forma a contribuir para a forma como a organização é lembrada. Só assim, seria capaz de ajudar na construção de uma boa imagem perante os trabalhadores e a sociedade. Embora o banco estudado não exista mais e, por isso, não abrigue mais uma comunidade de “lavourenses”, o trabalho permite refletir sobre esforços análogos de preservação (e construção) da memória que possam ser realizados por outras organizações.
Palavras-chave: Memória organizacional. Construção da memória. História. Artefato de memória. BanLavoura.
PROPOSTA DE ESQUEMA ANALÍTICO PARA O PROCESSO ESTRATÉGICO – O CASO DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA
FERNANDO ANTÔNIO COLARES PALÁCIOS
RESUMO
Captar a dinâmica de como ocorrem os eventos estratégicos e identificar fatores externos e internos à organização envolvidos em sua realização vem mobilizando há anos parte dos pesquisadores do campo. O objetivo do artigo é apresentar proposta de esquema analítico sobre processo estratégico em uma universidade pública, no caso, a elaboração e implementação do Projeto Pedagógico Institucional (PPI) de um novo campus. Do ponto de vista analítico, parte-se de abordagem menos linear para mais interpretativa de estratégia, na qual sua formação ocorre por meio de interação social, considerando as crenças e as interpretações comuns dos membros da organização. Especificamente, busca-se saber como determinadas estratégias surgem e quais aspectos conjunturais influenciam na definição de prioridades e nos processos de tomada de decisão de seus implementadores. A proposta está fundamentada, no campo sociológico, nas teorias de estruturação e de transformação social, e no campo organizacional, em perspectiva processual e prática. O esquema foi construído, aplicado e validado quando do episódio da implantação de um novo campus universitário por meio de pesquisa qualitativa, utilizando a metodologia de estudo de caso. Neste artigo, apresenta-se a etapa de elaboração do esquema. Ao se empreender uma busca teórica e metodológica capaz de subsidiar descrições e explicações sobre um processo dinâmico de criação e implementação de estratégia em uma universidade pública, procurava-se encontrar um meio que apreendesse o fenômeno estratégico de maneira integrada, e não de forma compartimentalizada, como se observa em muitos estudos. Por meio do esquema, foi possível perceber as ações práticas dos agentes e a sua influência no processo estratégico, e o quanto a maneira como os eventos se desenvolvem influencia as práticas dos estrategistas. Foi possível intuir que agentes em universidades públicas utilizam o poder de sua expertise para construir um contexto de atuação favorável aos seus interesses, mesmo que isso implique mudanças significativas no PPI. Para o analista organizacional, o esquema é capaz de definir níveis de análise de forma integrada, delimitar temporalmente as ações e delinear procedimentos metodológicos.
Palavras-chave: Estratégia. Processo estratégico. Esquema analítico. Universidade pública. Construção social.
AS PRÁTICAS DE RECURSOS HUMANOS PARA A GESTÃO DA DIVERSIDADE: A INCLUSÃO DE DEFICIENTES INTELECTUAIS EM UMA FEDERAÇÃO PÚBLICA DO BRASIL
NICOLE MACCALI, PAULA SUEMI SOUZA KUABARA, ADRIANA ROSELI WÜNSCH TAKAHASHI, KARINA DE DÉA ROGLIO e SAMANTHA DE TOLEDO MARTINS BOEHS
RESUMO
A gestão da diversidade tem sido um tema recentemente discutido na administração em face das pressões legais e normativas existentes nos diversos países. No Brasil, essa questão ficou evidente após a promulgação da Lei n. 8.213/91 que contempla a obrigatoriedade de organizações públicas e privadas de reservar um percentual de suas vagas para pessoas com deficiência. No entanto, poucas organizações conseguem cumprir o percentual demandado pela lei. Além das dificuldades de encontrar esses novos colaboradores, os gestores precisam lidar com as diferenças entre os atores organizacionais, de modo a garantir a justiça social, assim como devem preocupar-se com as consequências dessa interação, nem sempre harmoniosa. Muitas vezes, ajustes são necessários para evitar segregação e exclusão social no ambiente de trabalho. Com base no exposto, o objetivo deste artigo é analisar a interface entre a gestão da diversidade na inclusão de deficientes intelectuais no contexto organizacional e as práticas de recursos humanos geradas a partir dessa nova realidade. Essa problemática foi investigada em um estudo de caso no Sesi/Senai – Paraná/Brasil, com abordagem qualitativa, por meio de entrevistas com uma gestora, seis funcionários, cinco pessoas com deficiência atuantes na organização e uma pessoa colaboradora externa, responsável pelo acompanhamento do processo de inserção na organização das pessoas com deficiência. Entre os resultados, verificou-se que as práticas de recursos humanos são fundamentais para que a inclusão das pessoas com deficiência ocorra de forma eficaz e gere bons resultados, pois trata-se de práticas facilitadoras da gestão da diversidade no campo da organização. No caso estudado, evidenciou-se que essas práticas de recursos humanos foram bem estruturadas no início do seu projeto de inclusão, porém demandam políticas de manutenção delas. Entre as contribuições deste artigo, destaca-se a constatação da relevância das práticas de recursos humanos (recrutamento, socialização e sensibilização, treinamento) para a gestão da diversidade, apontando a necessidade de as organizações investirem na gestão da diversidade para que a inserção dessa população de fato ocorra, além do cumprimento da lei.
Palavras-chave: Gestão da diversidade. Práticas de recursos humanos. Deficientes intelectuais. Inclusão. Organização.
A ESTRATÉGIA DE PARES NO MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO: O IMPACTO DA FREQUÊNCIA DE DADOS
MARTIN PONTUSCHKA e MARCELO PERLIN
RESUMO
A estratégia de pares é um popular método de negociação de ativos financeiros. Um dos motivos para isso se deve ao fato de que o resultado desse tipo de operação procede somente da relação entre os preços de dois ativos e não da direção do mercado. Somente a possibilidade de capturar ineficiências na precificação dos ativos é o que permite a obtenção de lucros sistemáticos por meio de um método de negociação de ativos. Com base na abertura de uma posição comprada (long) e, no mesmo instante, uma posição vendida (short), essa estratégia de arbitragem estatística busca obter lucros por conta da convergência dos preços dos ativos negociados. Dessa forma, o objetivo deste trabalho é analisar o desempenho da estratégia de pares em diferentes frequências de dados no mercado acionário brasileiro. Esta pesquisa baseou-se em Perlin (2009), em que foi encontrado o resultado de que as ineficiências de mercado aparecem em maior quantidade nos dados de maiores frequências, nesse caso diário, semanal e mensal. O presente trabalho estende o leque de frequências entrando no universo intradiário com frequências de amostragem em 1, 5, 15, 30, 60 minutos e diários. O período de tempo da base de dados utilizada nesta pesquisa se estende de 1º de janeiro de 2008 a 31 de dezembro de 2011. Para compor a base de dados, foram utilizados os 20 ativos com maior número de contratos negociados no período. A metodologia empregada nesta pesquisa utiliza a técnica de períodos de treinamento e de negociação. Nos períodos de treinamento, os pares de ativos são selecionados de acordo com os menores desvios quadráticos nos seus preços normalizados. Nos períodos de negociação, a estratégia verifica as operações realizadas em cada par de ativo previamente selecionado. Os resultados da pesquisa confirmam a hipótese primária de que quanto maior a frequência de amostragem, maiores as evidências de ineficiência de mercado. Para chegar a essa conclusão, foram comparados os índices de Informação da estratégia de pares nas diferentes frequências de dados.
Palavras-chave: Estratégia de pares. Eficiência de mercado. Dados de alta frequência. Estratégia quantitativa. Arbitragem estatística.
PROPOSIÇÃO DE MÉTODO PARA AVALIAR A MATURIDADE DO PROCESSO DE CENÁRIOS NAS ORGANIZAÇÕES
NATHÁLIA MACÊDO DE MORAIS, SÉRGIO HENRIQUE ARRUDA CAVALCANTE FORTE, ODERLENE VIEIRA DE OLIVEIRA e MICHELLE DO CARMO SOBREIRA
RESUMO
Estudos de cenários são desenvolvidos por governos e organizações como meio para vislumbrar futuros possíveis e assim realizar o traçado de suas estratégias. Ocorre que existem poucas pesquisas que avaliem a efetividade desses estudos. Normalmente o que se encontra na literatura são atributos destinados a avaliar o documento de apresentação do cenário. Nesse sentido, uma abordagem possível é a distinção entre o conteúdo, ou seja, o produto cenário propriamente dito, e o processo que dá suporte à sua elaboração. Nesse contexto teórico, a pesquisa objetivou propor e aplicar um método para avaliar a maturidade do processo de cenários nas organizações. Em consequência, identificaram-se os componentes e subcomponentes principais do processo de cenários que permitam avaliá-los; definiram-se as métricas que indiquem os estágios de maturidade organizacional em cenários; e realizou-se um exercício de aplicação do método por meio de pesquisa a um conjunto de organizações brasileiras selecionadas. Como uma alternativa possível para basear o método proposto, foi utilizado o modelo de maturidade em gerenciamento de projetos (MMGP). Assim, empreendeu-se um estudo multimetodológico, qualitativo e interpretativo para a coleta e interpretação dos dados, constando de levantamento bibliográfico, entrevistas com expertises do meio acadêmico e uso de técnica de análise de conteúdo. Como resultado, obteve-se uma proposta de avaliação do processo de cenários nas organizações, na qual se consideraram as seguintes etapas: preparação, elaboração, produção do documento e utilização. Para determinar qual o estágio alcançado em cenários, os estágios foram assim classificados: inativo, iniciado, padronizado, gerenciado e otimizado, culminando nos níveis de maturidade muito fraco, fraco, regular, bom, ótimo e excelente. O exercício de aplicação do método com 13 organizações brasileiras identificou maturidade regular, revelando a predominância do assunto no setor público, com maiores níveis observados em órgãos nacionais de defesa. O estudo traz contribuições aos campos acadêmico e profissional, pois ao primeiro acrescenta um conhecimento novo, representado por uma proposta de avaliação do processo de cenários; com relação ao segundo, disponibiliza às organizações e às consultorias uma metodologia que permita a realização de diagnóstico do processo baseado em cenários, bem como a proposição de ações direcionadas para a melhoria a partir das lacunas objetivamente identificadas.
Palavras-chave: Cenários. Estratégia. Processos. Gestão de projeto. Maturidade organizacional.
número 3 - Fórum Especial Temático sobre inovação
APRESENTAÇÃO
SILVIO POPADIUK
DESAFIOS ORGANIZACIONAIS DO SÉCULO XXI: UMA INTRODUÇÃO AO FÓRUM SOBRE INOVAÇÃO, CAPACIDADES DINÂMICAS, CAPACIDADE DE ABSORÇÃO DO CONHECIMENTO E RELAÇÕES SIMBÓLICAS
THAIS ELAINE VICK, DENISE DEL PRÁ NETTO MACHADO, FERNANDO GOMES DE PAIVA JUNIOR e CLEBER CARVALHO DE CASTRO
RELAÇÕES ENTRE FATORES CONTEXTUAIS INTERNOS ÀS ORGANIZAÇÕES E A ADOÇÃO DE ESTRATÉGIAS PROATIVAS E REATIVAS DE ECOINOVAÇÕES
MARLETE BEATRIZ MAÇANEIRO e SIEGLINDE KINDL DA CUNHA
RESUMO
O artigo se fundamenta na base teórica da mudança tecnológica ou inovação radical, que está ancorada na perspectiva dinâmica evolucionista. Nesse contexto, o estudo trata especificamente das estratégias de ecoinovações, definidas como inovações com ênfase no desenvolvimento sustentável, resultando, em todo o seu ciclo de vida, na redução de riscos ambientais, poluição e outros impactos negativos da utilização dos recursos, em comparação com as alternativas existentes. O objetivo geral foi analisar as relações entre fatores contextuais internos às organizações e a adoção de estratégias de ecoinovação proativas e reativas, tendo como foco o setor de celulose, papel e produtos de papel. A abordagem metodológica é quantitativa, por meio de levantamento de corte transversal, com questionários autoadministrados, respondidos por 117 empresas. Para a análise dos dados, foi utilizada a estatística inferencial pelo coeficiente de correlação de Pearson e de determinação. Os principais resultados apontam que houve relação significativamente positiva entre o apoio da alta administração, a competência tecnológica e a formalização ambiental, com a definição de estratégias de ecoinovação proativas. Isso corrobora, em certo grau, a teoria existente de que esses são fatores altamente condutores de estratégias proativas. Com esses resultados, pode-se considerar que este estudo contribui para o avanço do conhecimento na área de estratégias de ecoinovação, com a definição das variáveis dos construtos e os testes das hipóteses. Portanto, este estudo contribui para a teoria existente e também para a gestão de ecoinovações nas organizações, podendo servir de guia na condução do enfoque inovativo da gestão ambiental em indústrias do setor e de outros setores de atividade, além do incremento de pesquisas nessa área. A originalidade está no fato de ser um estudo especialmente concebido e aplicado de forma empírica, fornecendo informações sobre a gestão da ecoinovação, sobre os condutores e os efeitos, permitindo análises aprofundadas, as quais são consideradas lacunas na literatura.
Palavras-chave: Estratégias de ecoinovação. Apoio da alta administração. Competência tecnológica. Formalização ambiental. Indústria de papel e celulose.
MAPA DO CONHECIMENTO EM NANOTECNOLOGIA NO SETOR AGROALIMENTAR
SIBELLY RESCH e MILTON CARLOS FARINA
RESUMO
A nanotecnologia é considerada por muitos autores como a base para a próxima revolução industrial. O prefixo “nano” equivale a 10-9 m. A manipulação na escala nanométrica pode modificar propriedades como cor, condutividade, reatividade, ponto de fusão, entre outras, criando novas aplicações para os materiais. É considerada uma ciência multidisciplinar com aplicações em distintos setores, tais como física, química, biologia, materiais, informação, entre outros. No Brasil, implantaram-se as políticas de apoio às nanotecnologias em 2001, e, a partir de 2007, a nanotecnologia foi identificada como área estratégica para o governo brasileiro por seu potencial de inovação, crescimento de mercado e benefícios associados à sua utilização. O setor agroalimentar, objeto deste estudo, é uma das áreas que podem se beneficiar com a utilização das nanotecnologias. Considerando a importância do setor para a economia brasileira, este trabalho tem como objetivo identificar e descrever as pesquisas que envolvem a nanotecnologia no setor agroalimentar. Para isso, realizou-se uma aplicação com o software VOSviewer a partir de trabalhos publicados na base Scopus. Para identificar como as pesquisas evoluíram ao longo do tempo, dividiu-se a busca em três períodos: 2001-2005, 2006-2009 e 2010-2013. Os resultados apontam quatro tendências: 1. uso dos biossensores, especialmente para detecção de contaminação; 2. utilização de embalagens ativas, biodegradáveis e indicadoras de deterioração ou contaminação; 3. encapsulamento para entrega de nutrientes; e 4. riscos e benefícios, marcos regulatórios. Os resultados podem subsidiar a elaboração de políticas de apoio e fomento à nanotecnologia para o setor agroalimentar e sugerir temas de pesquisa para identificação do estágio atual dessas tecnologias no Brasil. A prospecção realizada também contribui para a identificação de oportunidades de negócios para os empresários brasileiros.
Palavras-chave: Nanotecnologia. Alimentos. Agricultura. Agroalimentar. VOSviewer.
CAPACIDADES, INOVAÇÃO E DESEMPENHO GERAL DAS EMPRESAS BRASILEIRAS EXPORTADORAS
JOSÉ EDNILSON DE OLIVEIRA CABRAL, ARNALDO FERNANDES MATOS COELHO, FILIPE JORGE FERNANDES COELHO e MARIA DA PENHA BRAGA COSTA
ABSTRACT
This article extends the current research on innovation by investigating the relationship between innovative capabilities and export firms’ overall performance. From the perspectives of the resource-based view (RBV) and dynamic capability, we examine the differential and interactive effects of exploration and exploitation capabilities in product innovation for external markets and overall performance (direct and mediated by a new product). In addition, we test the moderating effect of market dynamism and the controlling effect of firm size on these relationships. Hence, the main contribution of this article is developing and empirically testing an original model, by combining these constructs that address new relationships, in an emerging country. This model was tested with data from 498 Brazilian export firms, distributed throughout all Brazilian manufacturing sectors, by firm size, and in states. The analysis was made with application of the structural equation modeling (SEM). As a result, we found support for the assumptions that exploitation capabilities influence product innovation and overall performance, whereas exploration capabilities and their interaction to exploitation capabilities influence overall performance, but not product innovation. Additionally, the relationship between exploitation capabilities and overall performance is mediated by product innovation. Unlike hypothesized, market dynamism does not moderate the relationship between product innovation and overall performance. Furthermore, firm size works as a controlling variable in the relationships analyzed. Regarding the implications for theory, this study contributes to grasp that exploitation capabilities influences a firm’s overall performance, both directly and indirectly (via product innovation), and highlights the various direct and mediatory effects of innovation on overall performance. These insights show the importance of considering the role of mediating and moderating variables in theory and research models that address the determinants of overall performance to avoid overestimation of certain constructs. Finally, the paper provides original empirical support for the hypothesis of the interdependency of product innovations for external markets and overall performance.
Keywords: Innovation. Export. Capabilities. Performance. Brazil.
A RELAÇÃO ENTRE A ESTRATÉGIA DE PRODUÇÃO E A PRÁTICA DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA: UM ESTUDO EM UMA EMPRESA PRODUTORA DE ALUMÍNIO
MÁRCIA REGINA NEVES GUIMARÃES, FELIPE FERREIRA DE LARA e RAISSA OLIVEIRA PEROBA TRINDADE
RESUMO
A inovação tem sido considerada de fundamental importância para organizações que competem em ambientes dinâmicos. Verifica-se, assim, uma estreita relação entre as estratégias organizacionais e a prática da inovação. No que se refere à estratégia competitiva, sabe-se que ela pode tanto estimular quanto inibir tal prática. A estratégia de produção, por sua vez, deve estar alinhada à estratégia competitiva e ter um conteúdo (formado pelas prioridades competitivas e áreas de decisão) definido de forma que sustente a posição competitiva da organização. Nesse contexto, o presente trabalho tem como objetivo analisar como a inovação tecnológica (de produto e de processo) se insere no conteúdo da estratégia de produção de uma empresa produtora de alumínio da região de Sorocaba. Trata-se de uma pesquisa descritiva e exploratória, de natureza qualitativa, que utiliza o estudo de caso como método de procedimento. A empresa analisada na pesquisa está presente nos setores de metais, cimento, energia, siderurgia, celulose, agroindústria, finanças, além de investir em empresas em estágio inicial com alto potencial de crescimento. A unidade de negócios selecionada para o estudo de caso restringe sua produção a itens de alumínio, atuando nos segmentos de transporte, embalagem, eletricidade, construção civil e bens de consumo. Os resultados foram obtidos por meio de entrevistas e observações que tiveram como foco o setor de laminação da unidade em estudo. Entre as principais conclusões, verificou-se que, nesse caso, há uma maior ocorrência da inovação de processo do que da inovação de produto. Como prioridades competitivas, observou-se a ênfase nas prioridades flexibilidade e custo. A inovação não é vista na empresa como uma prioridade competitiva, no entanto constatou-se que ela ocorre muitas vezes como forma de melhor desenvolver as prioridades flexibilidade e custo. Enquanto algumas características referentes às áreas de decisão facilitam a prática da inovação, como é o caso da integração vertical, outras (principalmente organizacionais) poderiam ser mais bem desenvolvidas para suportar melhor a inovação.
Palavras-chave: Estratégia competitiva. Estratégias de produção. Prioridades competitivas. Áreas de decisão. Inovação.
ANÁLISE DOS ARTIGOS QUALITATIVOS EMPÍRICOS SOBRE MÉTODOS, TÉCNICAS E FERRAMENTAS PARA INOVAÇÃO
GUSTAVO TOMAZ BUCHELE, PIERRY TEZA, GERTRUDES APARECIDA DANDOLINI e JOÃO ARTUR DE SOUZA
RESUMO
A inovação tem sido considerada um elemento essencial para criar vantagem competitiva de longo prazo nas empresas. Porém, estimular e apoiar o processo de inovação ainda é um desafio. Por sua vez, o efetivo uso de métodos, técnicas e ferramentas para inovação pode ser um fator importante para apoiar o processo da gestão da inovação, aumentando suas chances de sucesso. Nesse sentido, o estudo aqui apresentado consistiu em uma análise dos artigos qualitativos empíricos relacionados à difusão e adoção de métodos, ferramentas e técnicas para inovação. Os artigos analisados foram obtidos por meio de um levantamento sistemático realizado a partir de duas bases de dados: Scopus e Web of Science. Esse levantamento sistemático consistiu em sete passos: identificação das palavras-chave, buscas nas bases de dados, filtragem das publicações, padronização, classificação dos artigos, inclusão de publicações relevantes e análise dos artigos. Como resultado, obteve-se um corpus de dez publicações (nove disponíveis na íntegra e uma somente resumo), nas quais, inicialmente, se identificaram os principais artigos, autores, países e periódicos que mais publicaram e as palavras-chave mais utilizadas. Posteriormente, a partir da análise realizada, possibilitou-se um panorama das pesquisas qualitativas empíricas relacionadas ao tema, dada a importância dos MTF-Is para o processo de inovação das empresas. Destaca-se que ainda são escassos os trabalhos nessa temática com a abordagem utilizada nesta pesquisa, além de os resultados encontrados não serem convergentes. Verificou-se a grande diversidade de métodos, técnicas e ferramentas para inovação utilizados pelas empresas estudadas. Contudo, foi possível identificar que a utilização de MTF-Is é importante para aumentar a competitividade e principalmente resolver problemas nas organizações. Observou-se a necessidade de mais estudos com o objetivo de sistematizar a tomada de decisão acerca da escolha de um MTF-I para um determinado contexto organizacional. Dessa forma, espera-se que este trabalho possa servir de base para pesquisas futuras acerca do tema.
Palavras-chave: Inovação. Métodos, técnicas e ferramentas para inovação. MTF-Is. Levantamento sistemático. Métodos qualitativos.
AS RELAÇÕES SIMBÓLICAS E A MOTIVAÇÃO NO TRABALHO VOLUNTÁRIO
KÁSSIA DE AGUIAR SALAZAR, ALFREDO RODRIGUES LEITE DA SILVA e LETÍCIA DIAS FANTINEL
RESUMO
O objetivo deste artigo é compreender as relações simbólicas que envolvem a motivação no trabalho voluntário. A parte empírica do artigo tem como locus a Associação Voluntárias da Apae (Avapae) de Venda Nova do Imigrante. O artigo se legitima na relevância de estudar as organizações por meio de abordagens voltadas para os simbolismos organizacionais (Morgan, Frost, & Pondy, 1983; Gioia, 1986; Carrieri & Saraiva, 2007). Neste artigo, isso se realiza pelo reconhecimento da relação entre a construção social da realidade (Berger & Luckmann, 1985) dos voluntários e suas representações da motivação com base em uma subjetividade (Rey, 2005) articulada nas especificidades do trabalho voluntário. Os dados empíricos foram coletados por meio de 14 entrevistas semiestruturadas com voluntários da Avapae, observação não participante durante três meses no local de trabalho dos voluntários e análise de documentos. Os dados foram tratados com base na técnica de análise de conteúdo. Para as voluntárias estudadas, o trabalho está relacionado com a capacidade de, por meio de um bordado, por exemplo, produzirem-se significados, como ajudar o próximo, divertir-se, mudar a rotina, entre outros. A motivação, observada por meio dos significados da participação voluntária, tem como base o sentimento de fazer parte de algo ou de transformar um meio, tendo um papel importante naquela tarefa social (Palassi & Vervloet, 2011). A pesquisa evidenciou o contexto da Avapae como complexo permeado por múltiplos simbolismos e subjetividades, com destaque para as construções sociais oriundas dos moradores de Venda Nova do Imigrante, além dos limites da organização estudada. O venda-novense configurou-se como produto e produtor de parte dos simbolismos que envolvem a motivação para o voluntariado. Como contribuição final deste trabalho, defende-se que os caminhos para tratar da motivação para o voluntariado devem considerar a ação dos atores socais e os seus contextos de inserção em termos das trocas simbólicas vivenciadas na organização e na sociedade mais ampla, como foi observado na comunidade venda-novense.
Palavras-chave: Simbolismo organizacional. Motivação. Trabalho. Voluntário. Subjetividade.
ANÁLISE DAS PUBLICAÇÕES SOBRE CAPACIDADES DINÂMICAS ENTRE 1992 E 2012: DISCUSSÕES SOBRE A EVOLUÇÃO CONCEITUAL E AS CONTRIBUIÇÕES DOS AUTORES DE MAIOR NOTORIEDADE NA ÁREA
ANDRÉ LUÍS JANZKOVSKI CARDOSO e HEITOR TAKASHI KATO
RESUMO
Alguns elementos constituintes da abordagem das capacidades dinâmicas aparecem em diversas publicações (Schumpeter, 1942; Penrose, 1959, Nelson & Winter, 1982, Prahalad & Hamel, 1990), mas é a partir de Teece, Pisano e Schuen (1997) que o tema capacidades dinâmicas tem despertado interesse crescente dos estudiosos. A relevância do tema tem levado pesquisadores a considerar capacidades dinâmicas como um novo e robusto paradigma no campo da estratégia, principalmente por propor respostas às lacunas deixadas pela resource-based view (RBV). O arcabouço teórico das capacidades dinâmicas sofreu alterações ao longo do tempo (Barreto, 2010) e apresenta, além de convergências, ramificações entre seus defensores, principalmente no tocante ao embasamento e às fontes teóricas utilizadas em suas diferentes concepções. O conceito de capacidade dinâmica como fonte de vantagem competitiva fez com que estudos sobre esse tema proliferassem ao longo dos últimos anos, contudo essa proliferação ocorre de maneira não homogênea e consensual, o que torna o aprofundamento do tema um desafio ainda maior. Dessa forma, considerando as principais publicações sobre o tema capacidades dinâmicas entre os anos de 1992 e 2012, esta investigação apresenta as contribuições dos principais autores para o desenvolvimento da abordagem das capacidades dinâmicas e discute sua evolução conceitual. Trata-se de um estudo bibliométrico com tratamento dos dados por meio de escala multidimensional e análise de rede. Qualitativamente, a evolução da abordagem é analisada considerando os diferentes conceitos e proposições teórico-empíricas apresentados por autores de maior notoriedade na área, em diversos estudos sobre o tema. Os resultados indicam 1. uma evolução conceitual e de proposições teórico-empíricas; 2. um aumento de citações a autores contribuintes do tema; 3. uma diversidade de fontes de publicação e multidisciplinaridade da abordagem; e 4. uma multiplicidade temática relacionada às capacidades dinâmicas. Temas como conhecimento, competências, aprendizagem, criação de valor, capacidade dos gestores, parcerias e alianças estratégicas, e associações com capacidades dinâmicas ampliam os debates em torno de pontos nevrálgicos, ausentes ou obscuros das teorias antecessoras, reforçando seus pontos contribuintes como uma forma de ampliar a possibilidade de testes e comprovações empíricas, suplantando, de certa forma, limitações de teorias anteriores.
Palavras-chave: Estratégia. Capacidades dinâmicas. Notoriedade. Análise bibliométrica. Análise de rede.
CAPACIDADE DE ABSORÇÃO, TURBULÊNCIA AMBIENTAL E DESEMPENHO ORGANIZACIONAL: UM ESTUDO EM EMPRESAS VAREJISTAS CATARINENSES
GRAZIELE VENTURA KOERICH, ÉVERTON LUÍS PELLIZZARO DE LORENZI CANCELLIER e RAFAEL TEZZA
RESUMO
Em mercados cada vez mais dinâmicos e turbulentos, as organizações dependem cada vez mais do conhecimento externo, recurso essencial no centro das estratégias organizacionais, como forma de promover a inovação e melhorar seu desempenho (Ireland, Hitt, & Vaidyanath, 2002; Zollo, Reuer, & Singh, 2002; Cassiman & Veugelers, 2006; Morgan & Berthon, 2008; Lichtenthaler, 2009). A capacidade de absorção (absorptive capacity – Acap) traduz-se como um dos processos-chave de aprendizagem das organizações no que diz respeito à identificação, assimilação e exploração dos conhecimentos do ambiente (Cohen & Levinthal, 1989; Lane, Koka, & Pathak, 2006). Apesar de um considerável número de estudos empíricos ter usado a Acap, uma medida válida que incorpore essas várias dimensões ainda não foi desenvolvida (Wang & Ahmed, 2007). Lane et al. (2006) observam que a maioria dos pesquisadores tipicamente mede a Acap como simples proxies de P&D (por exemplo, Cohen & Levinthal, 1989), ignorando a variedade de suas dimensões e suas implicações para os diferentes resultados organizacionais. Não obstante, poucos estudos empíricos têm capturado a natureza multidimensional da Acap (Jansen, Van Den Bosch, & Volberda, 2005). O presente estudo verifica a influência da Acap no desempenho organizacional sob diferentes condições de turbulência ambiental. Trata-se de um estudo descritivo do tipo levantamento ou survey, com corte transversal. A população-alvo da pesquisa foi composta por empresas de varejo na região da Grande Florianópolis, com pelo menos um ano de atividades ininterruptas. Os dados foram coletados por meio de questionários autoadministrados e respondidos pelo principal dirigente das empresas, quando possível, ou por alguém responsável pelo estabelecimento. Além disso, diferentes características de moderação, como idade e tamanho das organizações, são consideradas. Os resultados a partir de 230 empresas varejistas mostram que a Acap tem efeito positivo sobre o desempenho organizacional. Com relação ao efeito moderador da turbulência ambiental sobre a Acap e os indicadores do desempenho organizacional, verificou-se que, dos cinco indicadores de desempenho analisados, três deles confirmaram a influência da turbulência ambiental.
Palavras-chave: Capacidade de absorção. Turbulência ambiental. Desempenho organizacional. Empresas varejistas. Aprendizagem organizacional.
número 4
APRESENTAÇÃO
SILVIO POPADIUK
PRATICANDO GESTÃO DE OPERAÇÕES EM UM LABORATÓRIO DE GESTÃO
ROBERTO PORTES RIBEIRO, ANTONIO CARLOS AIDAR SAUAIA, ADRIANA MAROTTI DE MELLO e ALVAIR SILVEIRA TORRES JÚNIOR
RESUMO
Descrever modelos de gestão de operações não é suficiente para ilustrar o dinamismo, a complexidade e a importância dessa atividade. As dificuldades de balanceamento entre teoria e prática na formação em gestão de operações sugerem a busca por iniciativas capazes de proporcionar um ambiente de aprendizagem que integre teoria e prática. Desse modo, objetiva-se verificar os temas referentes à gestão de operações pesquisados no ambiente do laboratório de gestão, os principais fatores condicionantes da escolha dos temas e o potencial do laboratório de gestão para a prática dos modelos de gestão de operações. Este estudo aborda os modelos de gestão de operações ligados aos temas estratégia em operações, gestão de cadeia de suprimentos, gestão da qualidade, manutenção, lean production (produção enxuta), sustentabilidade, gestão de processos e produtos, inovação, gestão de estoques, capacidade de produção, teoria das restrições, planejamento e controle da produção, custos de produção, projeto e medida do trabalho, enterprise resource planning/manufacturing resource planning (ERP/MRP – planejamento de recursos empresariais/planejamento de recursos de manufatura), carteira de projetos e o laboratório de gestão apoiado no tripé conceitual: simulador, jogo de empresas e pesquisa aplicada. De acordo com a classificação proposta por Gonçalves (2007), foi realizada uma análise descritiva do laboratório de gestão, na qual se adotou o método de estudo de caso longitudinal, com abordagem quantitativa, na perspectiva de uma pesquisa bibliométrica. Os dados coletados e analisados correspondem a nove anos (2005-2013) de condução do laboratório de gestão em uma universidade pública. O simulador utilizado no laboratório de gestão permitiu aos estudantes gerenciar cinco variáveis de operações explicitamente, o que facilitou 42% das pesquisas em torno desses temas. Variáveis não explícitas no simulador foram trabalhadas em 58% das pesquisas aplicadas que exploraram 14 novos temas devido ao jogo de empresas. No entanto, existem variáveis não abordadas nas pesquisas aplicadas e que poderiam ser utilizadas no ambiente do laboratório de gestão. Verificou-se a utilidade do laboratório de gestão para a prática de conceitos de gestão de operações, indicando possíveis avanços na área de ensino e aprendizagem de gestão de operações com a pesquisa em torno de temas pouco pesquisados ou ainda não pesquisados nesse ambiente de educação gerencial.
Palavras-chave: Gestão de operações. Laboratório de gestão. Aprendizagem. Jogos de empresas. Simulador.
COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL E GESTÃO DE BENS MATERIAIS E PATRIMONIAIS EM UM EMPREENDIMENTO ECONÔMICO SOLIDÁRIO: UM ESTUDO EM UMA COOPERATIVA DE RECICLAGEM
BRUNO DIEGO ALCANTARA CARDOZO, GERALDINO CARNEIRO DE ARAÚJO, CARLOS RODRIGUES DA SILVA e MARCO ANTONIO COSTA DA SILVA
RESUMO
O objetivo é analisar o comprometimento organizacional em relação aos bens materiais e patrimoniais de uma cooperativa de reciclagem. Um processo importante que normalmente constitui problemas para as cooperativas de reciclagem é a gestão de seus bens materiais e patrimoniais. A gestão de bens materiais e patrimoniais pode ser realizada de forma mais racional, gerando ganhos de produtividade, maior capacidade de controle dos resultados, melhorando a qualidade das decisões do empreendimento e, consequentemente, os resultados operacionais e financeiros. Realizou-se uma pesquisa empírica, descritiva e qualitativa. Como procedimento técnico escolheu-se o estudo de caso. A Cooperativa Recicla Paranaíba (Coorepa) foi selecionada como objeto de estudo, pois possui destaque estadual, sendo a única cooperativa no Estado registrada regularmente na Organização das Cooperativas Brasileiras de Mato Grosso do Sul (OCB/MS), além de ter sido reconhecida no “Prêmio Santander Universidades”, em 2011, o qual lhe concedeu cem mil reais. A coleta de dados envolveu a triangulação das fontes de evidência: observação direta, documentos e entrevistas. Para o tratamento dos dados, utilizou-se a análise de conteúdo. A Coorepa enfrenta muitos problemas relacionados à gestão de seus bens materiais e patrimoniais, e, considerando essa perspectiva, é necessário estabelecer métodos racionais e adequados de gestão, realizar pequenos investimentos e elaborar mecanismos simples para gerenciamento de materiais e patrimônio. Entretanto, um aspecto primordial para gestão com qualidade dos bens materiais e patrimoniais é o comprometimento dos cooperados. O modelo conceitual de análise do comportamento organizacional elaborado neste artigo vincula os enfoques do comportamento organizacional com os principais autores e categorias de análise, permitindo avaliar que os níveis de comprometimento dos cooperados da Coorepa são baixos nos três enfoques avaliados: afetivo, instrumental e normativo.
Palavras-chave: Comprometimento organizacional. Cooperativa de reciclagem. Gestão de materiais. Gestão patrimonial. Enfoque tridimensional.
JEITINHO BRASILEIRO VERSUS GUANXI CHINÊS: INVESTIGANDO SUAS INFLUÊNCIAS INFORMAIS PARA NEGÓCIOS INTERNACIONAIS
CLÁUDIO V. TORRES, SOLANGE ALFINITO, CÉSAR AUGUSTO DE SOUZA PINTO GALVÃO e BRUNA CHIE YIN TSE
ABSTRACT
The Brazilian jeitinho and the Chinese guanxi are considered indigenous forms of informal influence. The first can be described as behavior tactics aimed at resolving social problems. The latter is broadly described as achieving goals through the use of social networks. These influence processes were chosen because they are commonly used in business negotiations in Brazil and China. Thus, understanding their peculiarity is fundamental for the management of organizations involved in business in those two cultures. Therefore, we seek to determine whether such influence processes differ, as it is possible that a process said to be indigenous to a particular cultural context might be, in fact, also found elsewhere. To investigate their uniqueness and the relationship between them, two studies were carried out. In both studies, participants rated representativeness, typicality and positivity of social scenarios, besides completing a 21-item version of the Schwartz’s Portrait Value Survey and a scale regarding attitudes towards corruption. Data were analyzed by a series of mean difference tests and stepwise regressions, separately for each nation, and the results are presented by sample. There were two samples: university students’ sample (with 266 Brazilian and 220 Chinese) and managers’ sample (with 101 Singapore Chinese and 246 Brazilian). Brazil scored significantly higher on conservation and selfenhancement values when compared to China. Chinese respondents perceived the guanxi scenarios as more typical of what happens in China than the jeitinho scenarios, with a reverse pattern being observed for Brazilians. Although Brazilian respondents evaluated jeitinho less positively than Chinese respondents evaluated guanxi scenarios, but they also did perceive jeitinho as more positive than. For the managers’ samples, it was observed that Brazilians had a significantly lower score on attitudes toward business corruptibility when compared to Chinese managers. Stepwise regressions suggest that positivity is linked with business corruptibility for each respective scenario type by nation.
Keywords: Cross-cultural management. Informal influence. Corruptibility. International business. Brazilian jeitinho.
A CONCENTRAÇÃO ACIONÁRIA NO BRASIL: ANÁLISE DOS IMPACTOS NO DESEMPENHO, VALOR E RISCO DAS EMPRESAS
THIAGO DE ÁVILA MARQUES, THAYSE MACHADO GUIMARÃES e FERNANDA MACIEL PEIXOTO
RESUMO
No Brasil, a estrutura de governança corporativa é marcada pela forte concentração do direito de propriedade e controle em um acionista ou um bloco de controle. A teoria retrata os potenciais impactos da concentração acionária sobre o desempenho corporativo por meio das definições de efeito incentivo e efeito entrincheiramento. Inicialmente, a existência de um controlador tende a reduzir os custos de agência incorridos pela empresa e, portanto, representa benefícios a ela. No entanto, níveis elevados de concentração acionária podem implicar expropriação dos minoritários. Além de verificar empiricamente a eficácia de um mecanismo de governança corporativa para o desempenho, este estudo buscou avaliar em que medida a estrutura de propriedade afeta o risco e o valor das empresas. Nesse sentido, o objetivo principal da pesquisa foi investigar a relação entre a estrutura de propriedade e controle e valor, desempenho e risco das empresas brasileiras não financeiras listadas na BM&FBovespa entre os anos de 2004 e 2012. A pesquisa se classifica como descritivo-quantitativa e utilizou dados secundários, coletados do banco de dados Economática®, do site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da BM&FBovespa. Os procedimentos econométricos envolveram o uso do modelo de regressão com dados em painel. Os resultados demonstraram a relação negativa e estatisticamente significativa entre concentração do direito de voto e valor de mercado (medido pelo Q de Tobin), corroborando o estudo de Claessens, Djankov, Fran e Lang (2002), e o efeito entrincheiramento. As variáveis de desempenho (ROA e Ebitda) e risco (volatilidade do retorno das ações) não foram afetadas de forma estatisticamente significativa pela concentração acionária. Em relação às dummies de crise e considerando em especial a crise de 2008, a significância e o sinal negativo na especificação de valor indicam que, na ocorrência de choques de retorno, as estruturas mais concentradas penalizam o valor da firma. Por sua vez, nos modelos cuja variável resposta foi o risco, as dummies alternaram de sinal conforme o período, ou seja, no auge do choque as empresas mais concentradas apresentaram maior volatilidade, mas, após o período agudo de crise, essa mesma estrutura de propriedade e controle reduziu a volatilidade.
Palavras-chave: Efeito incentivo. Efeito entrincheiramento. Valor. Desempenho. Risco.
DETERMINANTES DA FOLGA ORGANIZACIONAL EM UMA EMPRESA COM ESTRUTURA DESCENTRALIZADA
ILSE MARIA BEUREN e COSMO ROGÉRIO DE OLIVEIRA
RESUMO
O objetivo do estudo é identificar os determinantes da folga organizacional em uma empresa com estrutura descentralizada, com ênfase no modo como os controllers das unidades de negócios afetam a folga. Foi realizada uma pesquisa descritiva com abordagem quantitativa, por meio de survey, utilizando o instrumento de pesquisa concebido por Indjejikian e Matëjka (2006), que se constitui de dois questionários, um para o gestor e outro para o controller de cada UN. A empresa objeto de estudo apresenta estrutura descentralizada com 45 UNs, das quais 32 responderam aos questionários. Os resultados da pesquisa indicam que as metas de desempenho, quando o crescimento das UNs é provocado pelo aumento das vendas e do market share, com sacrifício do retorno sobre o investimento no curto e médio prazos, são mais fáceis de alcançar e permitem maior folga organizacional do que em situações de UNs mais estáveis. Também indicam que a folga organizacional é maior em ambientes caracterizados por maior assimetria de informação entre a holding e os gestores das UNs, definidos pelo foco do controller da UN. Os resultados dos testes da relação entre as variáveis foco do controller da UN e folga organizacional evidenciam que os controllers das UNs priorizam o apoio à tomada de decisão na UN, em detrimento de suas responsabilidades com o sistema de controle gerencial corporativo. Quanto maior o tempo de atuação do controller na UN, maior é a sua dedicação às responsabilidades relacionadas à gestão da UN em detrimento do foco nas tarefas da holding. Conclui-se que a relação constatada nesta pesquisa entre o nível de folga organizacional e o foco dos controllers das UNs se coaduna com aquela enunciada no estudo de referência. De maneira geral, os resultados das análises estão alinhados com os da pesquisa de Indjejikian e Matëjka (2006), consideradas as limitações de comparabilidade em função das diferenças amostrais.
Palavras-chave: Folga organizacional. Controllers. Gestores. Unidades de negócios. Estrutura descentralizada.
A MULTIDIMENSIONALIDADE DA IMAGEM DE PREÇO DE PRODUTO: UM ESTUDO COM A IMAGEM DE PREÇO DE VESTUÁRIO
DEONIR DE TONI, JOSÉ AFONSO MAZZON e GABRIEL SPERANDIO MILAN
RESUMO
A compreensão das imagens formadas por diversos públicos sobre o preço constitui um importante elemento para o direcionamento de estratégias de posicionamento de produtos no mercado, bem como do composto de comunicação para melhor apoiar a performance do preço dos produtos. Esta pesquisa teve por objetivo, em primeiro lugar, identificar, a partir da revisão da literatura, as dimensões que melhor explicam como a imagem de preço de produtos pode ser formada e, em segundo, verificar como elas se configuram na imagem mental de uma população-alvo. Os resultados sugerem que a imagem de preço de produtos, compreendida como uma variável latente e multidimensional, pode ser configurada a partir de seis dimensões: funcional, emocional, simbólica, de justiça, axiomática e social. Esses atributos associados ao valor percebido retratam o benefício ou sacrifício de cada atributo relacionado à dimensão analisada. Com base no método de configuração de imagem (MCI), foi possível estudar como essas dimensões se configuram em uma amostra de 337 estudantes de graduação, a partir de uma “peça de vestuário ou um acessório”, cujo preço aproximado de venda nas lojas é de R$ 500,00. Os resultados apresentam 627 citações dos respondentes, das quais 68% estão relacionadas aos benefícios percebidos. Além disso, as dimensões mais salientes foram as seguintes: funcional (relacionada à qualidade percebida), de justiça (verificada a partir da relação custo versus benefício) e simbólica (identificada a partir do status e do luxo). Para melhor visualização dos resultados, um gráfico e um quadro explicativo apresentam como a imagem de preço do produto pode ser configurada para auxiliar no melhor direcionamento de estratégias de comunicação e apreçamento dos produtos.
Palavras-chave: Imagem de preço. Valor percebido. Configuração de imagens. Multidimensionalidade da imagem. Método de configuração de imagem.
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA EM FOCO: UM ESTUDO SOBRE A PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA
MARIANA PAIVA DAMASCENO SILVA, MARLENE CATARINA DE OLIVEIRA LOPES MELO e CRISTIANA FERNANDES DE MUYLDER
RESUMO
A educação a distância (EaD) vem se revelando como uma significativa tendência na esfera educacional, principalmente na educação superior. A modalidade já não é novidade no mundo educacional, uma vez que os primeiros registros de sua utilização foram identificados em 1728, por meio de um curso por correspondência na cidade de Boston, nos Estados Unidos. Contudo, na atualidade, a palavra que se instala no auge da EaD é “interação”, que se torna possível mediante as tecnologias de comunicação cada vez mais fluentes e eficazes. Hoje, já se é possível falar, inclusive, em interação em tempo real, proporcionada pelas videoconferências, por exemplo, em que pessoas, espacialmente separadas, assistem a uma aula de forma síncrona. Dessa forma, as instituições de ensino que a ofertam precisam estar atentas à melhor maneira de agir com relação a seus alunos e aos processos organizacionais. O objetivo deste estudo consiste em investigar a produção científica no campo da administração acerca do tema EaD, bem como identificar os modelos de fatores críticos de sucesso desenvolvidos em artigos científicos da área. Nesse intuito, apresentam-se os principais conceitos sobre EaD. Foram identificados e analisados todos os artigos publicados nos anais de todos os eventos organizados pela Associação Nacional de Pós–Graduação e Pesquisa em Administração (Anpad) e os artigos publicados nos periódicos brasileiros da área de administração com maior pontuação (A1, A2, B1 e B2), conforme a classificação Qualis-Capes 2010, sem delimitação temporal, que abordassem questões relacionadas à EaD disponíveis em meio eletrônico. Ao final, encontraram-se 71 trabalhos científicos, cujos conteúdos foram classificados de acordo com os seguintes critérios: distribuição por periódico/evento e anual, natureza da análise, tipo de abordagem, principais técnicas de coleta de dados, fator bibliográfico e identificação dos fatores críticos de sucesso. Tais critérios foram inspirados nos trabalhos de Paiva, Oliveira e Melo (2008) e Riss e Grohmann (2011). Percebeu-se que a EaD ainda desperta um tom de “novidade” no ambiente acadêmico e que necessita de pesquisas que busquem esclarecer melhor os subterfúgios de seu processo, de modo a minimizar falhas e barreiras e maximizar os resultados positivos.
Palavras-chave: Educação a distância. Fatores críticos de sucesso. Classificação Quali-Capes. Produção científica. Educação superior.
OBSOLESCÊNCIA ACELERADA DE PRODUTOS TECNOLÓGICOS E OS IMPACTOS NA SUSTENTABILIDADE DA PRODUÇÃO
ANTONIO CARLOS ZAMBON, ANA ESTELA ANTUNES DA SILVA, GISELE BUSICHIA BAIOCO, ANDRÉ LEON SAMPAIO GRADVOHL e PEDRO IVO GARCIA NUNES
RESUMO
O objetivo deste artigo é apresentar um estudo crítico sobre a geração de resíduos associados ao consumo de produtos cujo ciclo de vida reduzido provoca substituição e descarte em alta frequência. Sua base teórica é a abordagem sistêmica, conforme proposto pela teoria de system dynamics, apoiada pela modelagem conceitual modelo orientado à representação do pensamento humano (Morph). A metodologia empregada se baseia na abordagem schumpeteriana. Com o apoio do Morph, foi organizado um modelo conceitual composto das principais variáveis pertinentes ao cenário de produção industrial, em um ambiente de inovação e obsolescência acelerada de bens. Para que se pudesse analisar a dinâmica dessas variáveis, esse cenário foi simulado por meio de um software apoiado na metodologia de system dynamics, que recriou a dinâmica do mercado para produção e substituição de bens. Emprega-se, neste trabalho, o método indutivo para composição do modelo conceitual, o qual é organizado com base em uma abordagem econômica clássica, que permitiu o teste de algumas premissas por experimentação, a partir de simulação. Dentro desse escopo, buscam-se um estudo empírico sobre o cenário de inovação e uma análise de sua dinâmica, visando à avaliação de cenários futuros. O modelo simulado permitiu a construção de três cenários em que foi possível observar que a ausência de preocupação com a recondução de produtos para a reciclagem influencia negativamente os fatores de produção, exaurindo-os. Também foi possível demonstrar que a recondução de produtos para a reciclagem atua positivamente na manutenção dos fatores de produção, sem prejudicar o nível de inovação alcançado, produzindo um equilíbrio no sistema. As considerações presentes neste estudo têm como implicação prática a oferta de uma nova maneira de interpretar a criação de valor pela introdução da inovação, considerando o paradoxo da perda pela predação de recursos naturais. A contribuição teórica, a descrição do cenário da inovação, torna possível interagir com variáveis e simular diferentes cenários para melhor compreensão dos resultados. O desenvolvimento desta pesquisa, a partir de variáveis de um modelo teórico, pretende ser instrucional e formador de opinião, servindo como auxiliar e não como único instrumento para tomada de decisão de produção.
Palavras-chave: Sustentabilidade. System dynamics. Morph. Inovação. Tecnologia.
número 5
APRESENTAÇÃO
SILVIO POPADIUK
EPISTEMOLOGIA CRÍTICA DO CONCRETO E MOMENTOS DA PESQUISA: UMA PROPOSIÇÃO PARA OS ESTUDOS ORGANIZACIONAIS
JOSÉ HENRIQUE DE FARIA
RESUMO
O objetivo deste estudo é propor, a partir de uma epistemologia crítica do concreto (ECC), um procedimento metodológico que explicite os três momentos fundamentais de toda a pesquisa orientada por tal epistemologia. Não se trata de um roteiro a ser seguido, mas de uma reflexão sobre a forma processual de ação do pesquisador que tem a finalidade de orientá-lo em sua prática de maneira que ele possa compreendê-la. A pesquisa não se realiza de forma automática, direta e simples. Toda a pesquisa comporta momentos distintos, porém integrados, em seu processo de realização. Tais momentos não se reduzem a contatos e tampouco à quantidade de vezes em que o sujeito pesquisador estabelece relações com o objeto de sua pesquisa, mas às formas como essas relações se desenvolvem e se transformam. São, de fato, momentos caracteristicamente distintos e integrados de apropriação do real pelo pensamento a partir do real. Cada momento da pesquisa é constituído de um conjunto de ações interativas entre o pesquisador e o seu objeto, e não há uma sucessão predefinida de eventos tais que de um momento a outro haja uma passagem linear, natural e automática. O pesquisador evolui de um momento a outro quando supera as limitações de cada momento anterior, porém não de forma sucessiva, pois não existe qualquer garantia de que, a partir das ações interativas do sujeito pesquisador com o objeto, não haja necessidade de se voltar ao entendimento de determinados elementos constitutivos da fase anterior. A proposição dos três momentos da pesquisa em uma ECC para os estudos organizacionais procura sugerir que toda a pesquisa, nessa dimensão, é um processo que tem o real como primazia e que a relação do sujeito pesquisador com o concreto não é direta, imediata, simples e definitiva. Há um ir e vir necessário entre o sujeito e a realidade estudada para que ele possa apreendê-la em sua totalidade cognoscível e, portanto, em sua essência dinâmica e contraditória, e não apenas em sua aparência fenomênica.
Palavras-chave: Epistemologia crítica do concreto. Momentos da pesquisa. Estudos organizacionais. Primazia do real. Metodologia.
DETERMINANTES DO DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS COLETIVAS NA GESTÃO DE PESSOAS
JANDMARA DE OLIVEIRA LIMA e ANIELSON BARBOSA DA SILVA
RESUMO
Este artigo objetiva identificar os fatores determinantes para o desenvolvimento de competências coletivas dos servidores da área de gestão de pessoas da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Para balizar teoricamente a compreensão do fenômeno, fez-se uma revisão da literatura sobre a noção, o processo e os fatores individuais e organizacionais associados ao desenvolvimento de competências coletivas. O estudo, de natureza qualitativa, foi realizado com gestores e servidores da Secretaria de Recursos Humanos (SRH) da UFCG, a partir de entrevistas e de grupos focais. A análise dos resultados possibilitou a identificação de oito determinantes do desenvolvimento de competências coletivas. Alguns fatores identificados representam limitações para a formação de competências em nível coletivo e outros facilitam esse desenvolvimento. A ausência da unidade de equipe é um fator limitante no desenvolvimento de competências coletivas em decorrência da fragmentação das atividades e da falta de integração entre as coordenações. Com base nos resultados do estudo, considera-se que a pesquisa traz uma contribuição teórico-prática para o contexto do setor público. Em relação à contribuição teórica, o estudo reúne as principais abordagens sobre o tema que balizaram a categorização proposta nos resultados, o que possibilita uma análise mais ampla dos aspectos conceituais e permite uma avaliação crítica da difusão da Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoal. Como contribuição prática, o estudo apresenta elementos que podem fundamentar um projeto de gestão por competências no contexto social da pesquisa, bem como em outras instituições públicas. Tanto as barreiras identificadas quanto os fatores determinantes das competências coletivas, conforme descritos neste trabalho, podem ser úteis no planejamento da implantação de um sistema de gestão por competências não apenas com enfoque no indivíduo, mas também no ambiente coletivo. Apesar de o estudo ter sido feito em um contexto específico (SRH), de uma universidade específica (UFCG), acredita-se que os resultados desta pesquisa também podem caracterizar outros contextos institucionais, em função da trajetória histórica, cultural e social comum e marcada por dispositivos legais que orientam as decisões estratégicas e operacionais da gestão de pessoas nas instituições federais de ensino superior (Ifes).
Palavras-chave: Competências coletivas. Fatores determinantes. Servidores públicos. Gestão de pessoas. Setor público.
DISCURSOS, PRÁTICAS ORGANIZATIVAS E PICHAÇÃO EM BELO HORIZONTE
GLAUCE CRISTINE FERREIRA SANTOS VIEGAS e LUIZ ALEX SILVA SARAIVA
RESUMO
A cidade tem sido encarada tradicionalmente na administração sob a ótica funcionalista, ao ser entendida como campo de atuação profissional ou objeto da administração pública e gestão urbana. Todavia, estudos que versam sobre a urbe em uma perspectiva não funcionalista têm se tornado cada vez mais recorrentes, principalmente a partir de uma visão que focaliza a complexidade urbana e evoca a vida social organizada de indivíduos e grupos oprimidos em diversos âmbitos sociais. Neste artigo, buscamos analisar os discursos que orientam práticas organizativas relacionadas à pichação em Belo Horizonte, o que foi feito mediante um estudo qualitativo baseado em análise do discurso. Além de pesquisa em documentos oficiais sobre as ações governamentais no combate à pichação, foram efetuadas entrevistas individuais em profundidade com nove sujeitos, entre gestores públicos municipais responsáveis pelo combate à pichação, indivíduos da sociedade civil participantes das ações do projeto municipal e representantes da pichação belo-horizontina. O tratamento dos dados foi efetuado por meio da análise francesa do discurso, pela qual se buscou a identificação e análise de aspectos e elementos discursivos segundo roteiro constituído por: 1. seleções lexicais; 2. percursos semânticos; 3. interdiscursividades; 4. discursos principais; 5. reflexão e refração linguísticas; 6. aspectos ideológicos combatidos e defendidos; e 7. posicionamentos discursivos em relação aos discursos hegemônicos na sociedade. Os principais resultados sugerem que o governo da cidade tanto orienta as representações de combate à pichação como é pressionado para enfrentar o fenômeno segundo os vários modos de fazer, pelos quais imperam os instrumentos de controle sobre as práticas de organização da cidade e se instituem agentes sociourbanos de legitimação estratégica. Conclui-se que a gestão pública é ressignificada pelos distintos atores sociais, em particular pelos pichadores, que adotam uma espécie de ética do picho, que antagoniza o programa da prefeitura, à conduta policial e ao pensamento dominante sobre a pichação e os pichadores, manifestando sua posição por meio da pichação.
Palavras-chave: Cidade. Práticas organizativas. Discurso. Pichação. Gestão urbana.
ESTUDO COMPARATIVO DO VIÉS DO STATUS QUO E PERFIL DE RISCO EM TOMADAS DE DECISÕES POR ESTUDANTES DE CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO
VALTER SAURIN, JOSÉ MANUEL JANEIRA VAREJÃO, NEWTON CARNEIRO AFFONSO DA COSTA JR. e WLADEMIR RIBEIRO PRATES
RESUMO
No contexto da gestão financeira de uma organização, existem padrões comportamentais que podem enviesar o processo de tomada de decisões, fazendo que o gestor financeiro não consiga atingir seu objetivo de maximização de valor em atividades ligadas às decisões financeiras, principalmente àquelas relacionadas a investimentos. Um desses vieses é denominado de status quo. De acordo com Samuelson e Zeckhauser (1988), esse viés indica que os indivíduos tendem a manter o estado atual de seu portfólio e têm dificuldades em mudar de posição patrimonial. Esta pesquisa procura verificar se existe relação entre o viés do status quo, o perfil de risco e a habilidade quantitativa, em estudantes de pós-graduação em Economia, Contabilidade e Gestão. Para essa finalidade, realizou-se uma pesquisa com 330 estudantes de pós-graduação da Universidade do Porto (Portugal) e da Universidade Federal de Santa Catarina (Brasil). Para o cálculo e apresentação dos indicadores que apontam para a presença do status quo, a metodologia utilizada foi baseada em Samuelson e Zeckhauser (1988). Além disso, realizaram-se análises de regressão para buscar uma relação entre o perfil de risco dos participantes e o status quo, incluindo variáveis de controle. Os resultados mostraram que os respondentes propensos ao risco parecem não ter sido afetados pelo viés do status quo em suas decisões, diferentemente dos demais. Quanto aos participantes que estudaram finanças comportamentais previamente nos cursos de licenciatura e/ou graduação (uma proxy para o conhecimento prévio do viés estudado), verificou-se, em média, um aumento de respostas nas opções alternativas ao status quo. No entanto, a presença do viés ainda foi predominante no total de respostas obtidas. Isso mostra que os respondentes que haviam estudado finanças comportamentais optaram mais por opções alternativas do que os outros, porém, mesmo esses indivíduos apresentaram o viés do status quo. Dessa forma, enfatiza-se a importância de compreender a influência de vieses comportamentais nas tomadas de decisões, pois eles podem comprometer decisões importantes dentro de uma organização.
Palavras-chave: Finanças comportamentais.Viés do status quo. Aversão ao risco. Cultura financeira. Efeito dotação.
MARKETING DE RELACIONAMENTO (CRM): ESTADO DA ARTE, REVISÃO BIBLIOMÉTRICA DA PRODUÇÃO NACIONAL DE PRIMEIRA LINHA, INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PESQUISA NO BRASIL E AGENDA DE PESQUISA
GISELA DEMO, NATASHA FOGAÇA, VALTER PONTE, THAIS FERNANDES e HUMBERTO CARDOSO
RESUMO
Já é consensual entre os principais autores da área de customer relationship management (CRM) ou marketing de relacionamento, a relevância da gestão estratégica do relacionamento entre as organizações e seus clientes, especialmente em um contexto de competitividade recrudescente. Destarte, este estudo enseja desenhar um panorama dos estudos sobre CRM, apresentando os resultados de uma revisão bibliométrica que abrange sínteses do estado da arte e dos estudos empíricos produzidos em periódicos nacionais de primeira linha (≥ Qualis Capes B1), no período compreendido entre 2001 e 2013, para destacar a produção no novo milênio. Tal análise permitiu o delineamento de uma agenda de pesquisa, bem como a institucionalização da pesquisa sobre CRM no Brasil. As informações extraídas dos artigos para análise foram: nome do periódico, ano de publicação, enquadramento do estudo, instituições de origem dos autores dos estudos e assuntos mais estudados dentro do tema CRM. No caso de estudos teórico-empíricos, selecionaram-se os seguintes dados: a natureza do estudo, o setor em que a empresa pesquisada se insere, o ramo de atuação, os instrumentos de coleta de dados utilizados pelos pesquisadores e os métodos de análises de dados realizadas. Foram encontrados 52 artigos. As revistas REAd, RAC e Faces são as que possuem mais artigos publicados sobre CRM, sendo a USP a instituição que liderou as publicações no período analisado. O CRM no contexto business-to–consumer (B2C) e suas variáveis correlatas (por exemplo, satisfação e lealdade) foram os assuntos mais trabalhados nos artigos, cuja maioria constituiu-se em trabalhos teórico-empíricos, de natureza quantitativa e com foco no setor privado da economia, mormente nos ramos bancário e varejista. Os resultados engendrados apontaram, de fato, a relevância estratégica para as organizações dos estudos sobre CRM, o que foi demonstrado por um patente aumento no interesse de pesquisadores, considerando a criação de grupos de pesquisa sobre CRM no Brasil e os indicadores de produção científica, técnica e de assessoria da base de dados da Plataforma Lattes.
Palavras-chave: Marketing de relacionamento (CRM). Revisão bibliométrica. Produção nacional. Institucionalização da pesquisa. Agenda de pesquisa.
CAPACIDADES E TRAJETÓRIAS DE INOVAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS
FERNANDA MACIEL REICHERT, GUILHERME FREITAS CAMBOIM e PAULO ANTÔNIO ZAWISLAK
RESUMO
Todos os tipos de empresa têm condições de inovar e precisam fazê-lo? Como se dá o processo de inovação? Quais são as características necessárias para inovar? O setor de atividade e o nível tecnológico influenciam? Para responder a esses questionamentos, é preciso ir além do conceito de inovação como simples criação de algo novo. É preciso considerá-la, principalmente, como uma iniciativa de mudança para preencher lacunas de conhecimento e de mercado, e, assim, gerar resultados para as empresas. Sabe-se que todas as empresas sempre têm uma base tecnológica (um produto e seu processo) como objeto de seus negócios (a saber, a gestão interna e as transações externas). E, por isso, sempre são constituídas, em menor ou maior grau, por quatro funções básicas: desenvolvimento, operação, gestão e comercialização. A inovação emerge justamente dessas funções, e a cada uma delas corresponderá uma capacidade de inovação. Assim, o objetivo do presente artigo é identificar as capacidades de inovação de empresas industriais brasileiras e, com isso, explicitar suas trajetórias de inovação. Para realizar o objetivo proposto, utilizaram-se como base de dados os resultados oriundos de um projeto de pesquisa com uma amostra de 1.326 empresas industriais brasileiras. O projeto desenvolveu-se em três fases: 1. desenvolvimento de um modelo teórico de capacidades de inovação da firma, 2. fase exploratória e 3. levantamento de dados (survey) nas empresas de setores industriais do Estado do Rio Grande do Sul. Considerando o perfil da amostra, concluiu-se que a empresa típica é uma prestadora de serviços industriais com baixo potencial de inovação. Seja por conta dos ramos de atividade, em sua maioria de baixa e média baixa intensidades tecnológicas, seja pela predominância de um modelo de gestão familiar focado em custos, a trajetória de inovação é restrita à manutenção da qualidade e à maximização da produção.
Palavras-chave: Inovação. Capacidades de inovação. Setores industriais. Trajetórias de inovação. Indústria brasileira.
SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL NO VERDEGREEN HOTEL – JOÃO PESSOA/PB: UM ESTUDO DE CASO SOB A PERSPECTIVA DA RESOURCE-BASED VIEW
CAMILA CRISTINA RODRIGUES SALGADO e CILIANA REGINA COLOMBO
RESUMO
A pressão por um novo padrão de desenvolvimento sustentável passou a exigir das organizações modernas a busca da competitividade, mas respeitando e considerando as questões ambientais. Nesse sentido, uma ferramenta que atua na implantação de estratégias estruturadas é o sistema de gestão ambiental (SGA), que tem como foco a melhoria do desempenho ambiental. Essa melhoria, por sua vez, pode proporcionar às organizações diversos benefícios, como a obtenção de vantagens competitivas, passíveis de mensuração a partir de diferentes perspectivas. Uma dessas perspectivas é a aplicação do modelo VRIO, fundamentado pela resource-based view (RBV), segundo a qual a heterogeneidade entre as empresas decorre de diferenças entre os seus recursos internos e capacidades. Contudo, apesar de serem encontrados na literatura alguns estudos que avaliam o potencial competitivo de determinadas organizações, essas avaliações não têm sido realizadas em objetos específicos, a exemplo dos SGAs. Desse modo, o objetivo deste estudo foi avaliar os recursos e as capacidades (estratégias ambientais) do SGA adotado pelo Verdegreen Hotel, a fim de identificar quais deles possuem potencial de gerar vantagem competitiva. Para tanto, este estudo de caso de caráter exploratório-descritivo utilizou como ferramentas de coleta de dados: pesquisa bibliográfica, entrevista semiestruturada, pesquisa documental e observação direta. A interpretação dos resultados e a consolidação das informações foram realizadas a partir de uma abordagem qualitativa, em que se utilizaram duas técnicas de análise de dados, quais sejam: análise de conteúdo e análise por meio do modelo VRIO. Os resultados encontrados mostram que o hotel está bastante estruturado em relação ao seu SGA, além de a empresa ter alcançado benefícios referentes à melhoria da gestão dos fatores ambientais, ao fortalecimento da imagem e aos ganhos em competitividade. Entretanto, as principais dificuldades para a implantação do sistema estão relacionadas aos colaboradores e fornecedores. No que se refere às estratégias ambientais adotadas, das 25 estratégias identificadas, dez apresentaram potencial de gerar vantagem competitiva.
Palavras-chave: Sistema de gestão ambiental. Vantagem competitiva. Resource-based view. Modelo VRIO. Verdegreen Hotel.
ELABORAÇÃO DO MAPA DE RECURSOS: PROCESSO DE APOIO AO PLANEJAMENTO DE UM NOVO NEGÓCIO DE INTERNET
JOSUÉ VITOR DE MEDEIROS JÚNIOR, MIGUEL EDUARDO MORENO AÑEZ, MANOEL VERAS DE SOUSA NETO e MARCELO HUGO DE MEDEIROS BEZERRA
RESUMO
O artigo tem como objetivo apresentar a aplicação de um método de elaboração do mapa de recursos para apoiar o planejamento de um novo negócio baseado na internet a partir da percepção do seu empreendedor. O mapa de recursos resultante é uma representação visual das inter-relações entre os recursos estratégicos, assim caracterizados em função dos pressupostos teóricos da visão baseada em recursos (resource-based view – VBR), bem como da dinâmica de sistemas, que caracteriza tais representações por enlaces de feedback, fluxos e acumulações, responsáveis por comportamentos de aspectos sistêmicos como o desempenho organizacional. Em relação à metodologia, a pesquisa se caracteriza como exploratória descritiva, subtipo de estudo de caso. Para a coleta de dados, realizaram-se entrevistas com o empreendedor responsável pelo negócio. O método da elaboração do mapa ocorreu em algumas etapas: levantamento e seleção dos recursos estratégicos da empresa, definição dos fluxos de acúmulo dos recursos e dos relacionamentos entre eles, identificação das políticas de desenvolvimento dos recursos, incorporação de variáveis financeiras e identificação das capacidades responsáveis pelo desenvolvimento do negócio. Como resultados da pesquisa, obtiveram-se a identificação e classificação dos recursos estratégicos da organização, e verificou-se como esses recursos se inter-relacionam e impactam o desempenho deles. A originalidade do trabalho se justifica pela construção do mapa de recursos em uma empresa nascente, de modo a auxiliar o empreendedor a identificar e explorar os recursos estratégicos iniciais. Além disso, verificou-se como a tomada de decisão por parte do empreendedor pode impactar o desempenho da empresa. Como contribuição, o processo de elaboração do mapa, por meio de uma representação visual não linear dos recursos estratégicos e com base no modelo mental do empreendedor, mostrou-se como um processo de aprendizado e reflexão sobre aspectos do negócio ainda não vivenciados, mas expostos a uma lógica de verificação da consistência do equilíbrio do sistema de recursos idealizado para gerar vantagem competitiva sustentável.
Palavras-chave: Visão baseada em recursos. Dinâmica de sistemas. Mapa de recursos. Recursos estratégicos. Negócio nascente.
número 6 - Fórum Especial Temático sobre a Construção do Percurso na Vida Laboral e suas Múltiplas Dimensões
APRESENTAÇÃO
SILVIO POPADIUK
INTRODUÇÃO AO FÓRUM ESPECIAL TEMÁTICO SOBRE A CONSTRUÇÃO DO PERCURSO NA VIDA LABORAL E SUAS MÚLTIPLAS DIMENSÕES
MARIA LUISA MENDES TEIXEIRA
SENTIDOS DO TRABALHO APREENDIDOS POR MEIO DE FATOS MARCANTES NA TRAJETÓRIA DE MULHERES PROSTITUTAS
KÉSIA APARECIDA TEIXEIRA SILVA e MÔNICA CARVALHO ALVES CAPPELLE
RESUMO
O trabalho, que antes era visto apenas como meio de sobrevivência e acúmulo de riqueza, tornou-se uma das principais dimensões da vida humana, fazendo com que os indivíduos sejam identificados mediante as atividades que realizam. Assim, o trabalho adquiriu um novo sentido para os indivíduos, uma vez que a realização pessoal está intimamente relacionada ao seu reconhecimento perante a sociedade. Diversos estudos têm abordado o trabalho por meio dos sentidos que os trabalhadores atribuem à atividade que realizam, como é o caso da presente pesquisa que investiga os sentidos produzidos por uma categoria distante das profissões formais: as prostitutas. Nesse intuito, objetiva-se apreender os sentidos subjetivos produzidos por mulheres que atuam na prostituição, em boates do interior de Minas Gerais. Para tanto, buscou-se, inicialmente, contextualizar a prostituição como profissão, desvendar a trajetória das participantes e a inserção delas nessa atividade, e levantar os sentidos subjetivos relacionados ao trabalho na prostituição. Participaram da pesquisa seis prostitutas que trabalham em boates. O levantamento dos dados deu-se por meio de uma entrevista que focou especificamente um fato marcante na trajetória profissional dessas mulheres. Optou-se pelo estudo de natureza qualitativa baseada na epistemologia qualitativa (Rey, 2005), e as análises foram fundamentadas pela acepção de sentido subjetivo. Rey (2005) defende que, entre o pensamento e a linguagem, está a emoção e que, por isso, nem sempre os sentidos subjetivos podem ser captados nas expressões diretas do sujeito. Ao final, apreenderam-se sentidos subjetivos relacionados ao trabalho na prostituição que se relacionam a violência, aborto induzido, abandono, desconfiança, preconceito, discriminação, humilhação, medo, insegurança e solidão. A análise dos sentidos subjetivos das prostitutas perante o trabalho que realizam mostrou-se oportuna para o entendimento de aspectos importantes da relação entre as participantes da pesquisa e os sentidos que atribuem ao seu trabalho, e possibilitou evidenciar que as relações no espaço do trabalho estão permeadas por inúmeras outras que ocorrem em outros espaços sociais de atuação dos sujeitos.
Palavras-chave: Trabalho. Sentidos subjetivos. Mulheres prostitutas. Relações de gênero. Prostituição.
RELAÇÕES ENTRE AUTENTICIDADE E CULTURA ORGANIZACIONAL: O AGIR AUTÊNTICO NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL
GERMANO GLUFKE REIS e MARCIA CARVALHO DE AZEVEDO
RESUMO
A possibilidade de agir de modo autêntico no trabalho condiz com perspectivas de carreira que tenham maior significado e sentido para as pessoas, alinhando-se a seus valores e aspirações. O comportamento autêntico, ou autenticidade, envolve um modo de agir e expressar-se que é consistente com crenças e experiências pessoais. As interações do adulto na vida em sociedade impõem, contudo, limites ao comportamento autêntico. Considerando que a cultura de uma organização influencia os comportamentos dos seus profissionais, o objetivo deste trabalho foi investigar as relações entre tipos culturais e o agir autêntico das pessoas nas empresas. Para isso, foi realizado um survey com uma amostra de 199 profissionais que atuam em diferentes empresas e níveis hierárquicos. A coleta de dados foi realizada por meio de questionários aplicados em cursos de graduação e pós-graduação em Administração de Empresas. Os resultados da pesquisa indicaram que determinados perfis de cultura organizacional (culturas clã e inovativa) estão positivamente relacionados à autenticidade no trabalho, tendendo a favorecer a expressão de autenticidade. Outros perfis de cultura organizacional (culturas de resultado e hierárquica) estão negativamente relacionados, podendo inibir a expressão de autenticidade. Observou-se ainda que a posição de chefia está associada a maiores escores de autenticidade no trabalho, independentemente do tipo de cultura organizacional. O estudo oferece uma contribuição teórico-empírica ao explorar as relações entre cultura organizacional e autenticidade, situando a primeira como antecedente da segunda. Ele também aporta considerações relevantes para as organizações e os gestores, ao indicar o modo como determinadas características das empresas podem impactar a autenticidade das pessoas. Também incita reflexões úteis para os profissionais em geral, no que diz respeito à identificação dos tipos de empresa que melhor se alinham às suas aspirações quanto ao agir autêntico no trabalho. Alguns limites deste estudo devem ser lembrados. Um primeiro aspecto a mencionar é a composição da amostra, que poderia ser ampliada; além disso, o fato de não ser aleatória não permite que haja generalização dos resultados obtidos. Novos estudos poderiam também testar a ação combinada e interativa entre os tipos culturais e o efeito mediador de características pessoais.
Palavras-chave: Cultura organizacional. Tipos culturais. Autenticidade no trabalho. Carreiras. Comportamento autêntico.
BEM-ESTAR NO TRABALHO E PERCEPÇÃO DE SUCESSO NA CARREIRA COMO ANTECEDENTES DE INTENÇÃO DE ROTATIVIDADE
PAULA RODRIGUES AGAPITO, ANGELO POLIZZI FILHO e MIRLENE MARIA MATIAS SIQUEIRA
RESUMO
O objetivo geral deste estudo foi analisar, interpretar e discutir as relações entre as percepções de sucesso na carreira, o bem-estar no trabalho e a intenção de rotatividade em trabalhadores da Região Sudeste do Brasil. Participaram desta pesquisa 500 trabalhadores que atuam no Estado de São Paulo, em organizações não governamentais, públicas e privadas. Como instrumento para coleta de dados foi utilizado um questionário de autopreenchimento composto de cinco escalas que mediram as variáveis da pesquisa. A presente pesquisa se propôs a apresentar, interpretar e discutir as relações entre as variáveis, como também testar as hipóteses referentes ao modelo conceitual proposto, por meio de uma pesquisa de natureza transversal com abordagem quantitativa, cujos dados coletados foram analisados por aplicação de técnicas estatísticas paramétricas (cálculos de estatísticas descritivas: médias, desvio padrão, teste t e correlações; cálculos de estatísticas multivariadas: análise de regressão linear múltipla stepwise e teste da normalidade das variáveis, por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov). O tratamento e a análise dos dados foram realizados pelo software estatístico Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão 18.0. Os resultados obtidos demonstraram que as dimensões de bem-estar no trabalho exercem forte e significativo impacto sobre a intenção de rotatividade dos profissionais, enquanto a percepção de sucesso na carreira contribuiu com valores baixos nesse impacto, devido ao formato do modelo hipotético. A pesquisa possibilitou concluir que quanto mais a empresa se preocupa em proporcionar um ambiente de trabalho que seja animador, interessante e que cause entusiasmo, menos os profissionais pensarão em deixá-la.
Palavras-chave: Comportamento organizacional. Bem-estar no trabalho. Percepção de sucesso na carreira. Carreira. Rotatividade.
ORGANIZAÇÕES E AMBIENTE LEGAL: A CONSTRUÇÃO DO SISTEMA DE IDENTIFICAÇÃO CIVIL BRASILEIRO
THAÍS GUALDA CARNEIRO AKIYAMA, VERONICA EBERLE DE ALMEIDA, LUCIANA GODRI e EDSON RONALDO GUARIDO FILHO
RESUMO
O presente artigo visa compreender a influência da articulação de organizações públicas e privadas, por meio da mobilização de recursos e estratégias de framing, no processo de construção social da Lei Federal n. 9.454/97, que instituiu o Registro Único de Identificação Civil brasileiro (RIC) no período de 1997 a 2011. O trabalho se fundamenta na ideia de que textos legais são passíveis de interpretações acerca de sua aplicabilidade, alcance e validade no campo organizacional, o que implica admitir diferentes concepções de legalidade. Para tanto, considera organizações públicas e privadas como agentes engajados na política de produção e manutenção de significados legais. A coleta dos dados considerou fontes documentais, tratadas longitudinalmente, e entrevistas semiestruturadas, de natureza seccional retrospectiva. Utilizou-se análise qualitativa de conteúdo, de base temática, a partir de categorias predefinidas e emergentes. O período considerado vai de 1997 a 2011, marcado pela lacuna entre a vigência legal e a vigência social da Lei Federal n. 9.454/97. Apesar dos interesses distintos, resultados evidenciaram o engajamento de organizações públicas e privadas com o compartilhamento de uma interpretação acerca da legalidade. Também foram constatadas ações que conflitavam com parâmetros institucionalizados e que contrariavam leis existentes – as quais foram legitimadas em função de sua aderência à noção de legalidade socialmente compartilhada. Conclui-se que noções de legitimidade e legalidade estão articuladas por meio do significado dado às leis e compartilhado entre os pares no campo organizacional. Nesse sentido, o trabalho favorece a aproximação de aspectos do institucionalismo organizacional e da sociologia do direito no tratamento do ambiente legal, como parte do contexto institucional das organizações.
Palavras-chave: Ambiente legal. Articulação de atores sociais. Legalidade. Framing. Registro Único de Identificação Civil.
NECESSIDADES DE TREINAMENTO: UMA PROPOSTA DE AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA NO CONTEXTO DE EMPRESAS JUNIORES BRASILEIRAS
ELZIANE BOUZADA DIAS CAMPOS, GARDÊNIA DA SILVA ABBAD, ANDRESSA GONZALEZ AZEVEDO PINHEIRO SOARES MACEDO e NATÁLIA PIMENTA SILVA
RESUMO
A análise da literatura aponta ser necessário realizar pesquisas empíricas fundamentadas nas proposições e modelos teóricos de avaliação de necessidades de treinamento (ANT). Não há relatos de identificação de necessidades de treinamento no contexto de empresas juniores (EJs), organizações que contribuem para a formação profissional de alunos do ensino superior. Esta pesquisa teve como objetivos analisar as necessidades de treinamento de empresários juniores brasileiros e identificar os desafios e as mudanças enfrentados pelas EJs que podem gerar futuras demandas por treinamento. Foram realizados dois estudos. O estudo I identificou as necessidades de treinamento de uma amostra de empresários juniores e foi realizado em quatro etapas: 1. concepção de um questionário de ANT com 43 itens associados a escalas de 11 pontos para domínio e importância, 2. validação semântica, 3. aplicação em uma amostra de 447 empresários juniores de todo o país e 4. análise dos dados para identificação de necessidades de treinamento prioritárias. O estudo II identificou os desafios e as mudanças vivenciados pelas EJs que podem gerar futuras necessidades de treinamento para empresários juniores e envolveu as seguintes etapas: 1. concepção de roteiro de entrevista semiestruturado, 2. entrevistas individuais com amostra de 21 profissionais e docentes, 3. entrevistas coletivas com amostra de 34 empresários juniores e 4. análise dos dados para descrição e categorização dos desafios e mudanças. Os achados do estudo I indicam que as necessidades de treinamento prioritárias referem-se a capacidades de gestão estratégica da EJ e de gerenciamento pessoal do tempo; e as de menor prioridade referem-se à comunicação efetiva e à capacidade de estabelecer relacionamentos cooperativos. Os resultados do estudo II descrevem desafios e mudanças diversos, mais bem especificados pela amostra de profissionais e docentes, que podem gerar futuras necessidades de treinamento. Discute-se a possibilidade de promover ações de treinamento estrategicamente elaboradas que impliquem o aprimoramento das atividades e dos projetos dos empresários juniores, e a oferta de produtos e serviços de qualidade superior. Contribui-se para o avanço de uma visão integrada entre análises diagnósticas e prognósticas de necessidades de treinamento, ainda que com limitada precisão.
Palavras-chave: Necessidades de treinamento. Empresários juniores. Competências. Contexto. Desenvolvimento profissional.
DESISTÊNCIA DE COOPERAÇÃO EM REDES INTERORGANIZACIONAIS: REFLEXÕES INSPIRADAS NA AÇÃO SOCIAL WEBERIANA
JOSE LINDENBERG JULIÃO XAVIER FILHO, FERNANDO GOMES DE PAIVA JÚNIOR e JANANN JOSLIN MEDEIROS
RESUMO
Estudos desenvolvidos acerca da cooperação interorganizacional enfatizam os motivos para se iniciar a cooperação, bem como o desenvolvimento de métricas para avaliar seus resultados, tendo os motivos da desistência pouca atenção teórica ou empírica. Nesse sentido, o objetivo do estudo reside em descrever a racionalidade subjacente aos motivos da desistência por parte de dirigentes de empresas, no sentido de manter a participação em redes interorganizacionais. Para tanto, realizou-se uma revisão do tema desistência da cooperação e dos mecanismos de cooperação em redes interorganizacionais, bem como dos motivos ou tipos de racionalidade presentes em decisões no âmbito social com base na tipologia da ação social weberiana. A lógica dessa construção consiste em evidenciar os motivos elencados pela literatura nacional e internacional para a desistência e constituir uma base teórica para entender o tipo de racionalidade presente em decisões de desistência da cooperação. Foi construído e tratado, por meio da análise de conteúdo, um corpus contemplando artigos publicados em eventos e periódicos nacionais, dissertação e tese, perfazendo dez estudos publicados entre 2003 e 2013. O procedimento para levantamento das obras contemplou consultas às bases scielo.org e periódicos Capes, efetuado por meio da seleção de estudos empíricos publicados no Brasil a respeito da temática desistência de cooperação. Como resultado, são evidenciados indícios tanto da presença da racionalidade formal instrumental quanto da racionalidade valorativa substancial nos relatos de desistência, destacando como seu motivo primordial o choque ou conflito cultural entre os participantes. Por essa evidência, as teorias que estudam a cultura devem ser adicionadas ao debate, em função de sua centralidade no entendimento de fenômenos relativos a tecnologias contemporâneas de gestão, complementando abordagens teóricas já utilizadas em pesquisas a respeito de redes de cooperação interorganizacionais que enfatizam uma visão linear e prescritiva, a exemplo do paradigma racional e econômico. Nesse sentido, o estudo contribui para o avanço na discussão sobre a desistência de cooperação em redes ao abordar a emergência de novas perspectivas teóricas, aportando o tema da racionalidade valorativa substancial sob o enfoque da abordagem cultural.
Palavras-chave: Redes interorganizacionais. Desistência da cooperação. Ação social weberiana. Racionalidade valorativa substancial. Abordagem cultural.
PRÁTICAS COLABORATIVAS EM P&D: UM ESTUDO NA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE SEMICONDUTORES
KADÍGIA FACCIN e ALSONES BALESTRIN
RESUMO
Recentes estudos apontam a necessidade de abertura do modelo de P&D para uma maior interação, complementaridade e cooperação com atores externos. Assim, o ambiente da empresa passa a ser um ecossistema de relacionamentos orgânicos entre as diversas fontes de conhecimentos que interagem de forma dinâmica, criando o conhecimento aplicado no processo de P&D. A questão que se coloca para a presente pesquisa é: “Quais são as práticas colaborativas de P&D em uma indústria de alta complexidade tecnológica e como ocorrem?”. Para lançar luz à presente pesquisa, buscou-se investigar projetos colaborativos de P&D na indústria brasileira de semicondutores. O presente artigo investiga a estrutura dos projetos colaborativos de P&D na indústria de semicondutores conduzidos no Brasil, bem como desvenda as práticas colaborativas mais comuns entre os atores. Para o estudo de campo, foram investigados 21 projetos de P&D, desenvolvidos por design houses brasileiras de 2008 a 2013. O estudo faz uma abordagem contextual dos projetos brasileiros, identificando quem são os principais atores, quais as suas contribuições mais relevantes e as formas de colaboração com seus parceiros. Os resultados demonstram uma série de práticas colaborativas nos projetos de P&D. Na nascente indústria nacional de semicondutores, existe uma diversidade de interações entre fornecedores, clientes, universidades e agências de fomento, inclusive com concorrentes estrangeiros. De acordo com os resultados do estudo, parece possível enfatizar que, na indústria brasileira, há um conjunto amplo de laços não familiares e bastante fluidos, que se movem e configuram-se rapidamente. Cabe também ressaltar que o governo tem um papel importante na influência da inovação, baseando-se no princípio da interdependência, haja vista a criação de mecanismos dinâmicos e o fomento por parte de políticas públicas e ações governamentais, principalmente aquelas ações para incentivo da inovação e interação entre os atores, formação e capacitação de pessoas, exploração do comércio internacional, incentivo à captação de recursos, redução da carga tributária etc. Entre as principais práticas colaborativas empregadas, estão a colaboração em P&D e aspectos gerenciais, a cocriação a montante e a jusante na cadeia produtiva, o financiamento de P&D e a aquisição de tecnologia.
Palavras-chave: Práticas colaborativas. Projetos colaborativos. P&D. Colaboração. Semicondutores.
ANÁLISE EMPÍRICA DOS FATORES QUE POSSIBILITARAM ENTRADAS NA INDÚSTRIA DE CIMENTO BRASILEIRA
PRISCILLA YUNG MEDEIROS e DAVID CARLETTI LEVY
RESUMO
A indústria de cimento é um exemplo clássico de uma indústria concentrada–homogênea, onde a entrada é difícil. Ainda assim, ocorreu um aumento no número de entrantes na indústria de cimento brasileira nos últimos anos. O objetivo do presente estudo é identificar os principais fatores que impactaram as decisões de entrada regionais no mercado de cimento brasileiro, no período de 2003 a 2012. Outro objetivo é explorar possíveis causas para as firmas incumbentes dessas regiões terem decidido acomodar essas novas entradas. Outros estudos que analisaram a indústria de cimento (Salvo, 2010; Miller & Osborne, 2014; Zeidan & Resende, 2009, 2010; La Cour & Møllgaard, 2003) não focaram as entradas. O presente estudo se integra à literatura acadêmica sobre o comportamento de firmas brasileiras em estruturas de mercado concentradas ao focar a análise da ocorrência de entradas nesses mercados. Os principais fatores considerados são: consumo, crescimento do consumo, custo de transporte, número de empresas atuantes, número de fábricas e características regionais no período entre 2003 e 2012. Um modelo logit é utilizado para estimar o impacto desses fatores nas probabilidades de entrada e expansão das incumbentes. Uma análise exploratória baseada em discussão de casos também é realizada na tentativa de explicar o comportamento das incumbentes. Os resultados indicam que, além das características regionais, um alto nível de consumo corrente e uma menor concentração de mercado – medida pelo número de firmas atuantes ou de fábricas existentes por região – são as condições que mais significativamente favorecem a ocorrência de entradas. As decisões de expansão das incumbentes, por sua vez, são mais fortemente correlacionadas com o potencial de crescimento de consumo, permitindo que a entrada ocorra em regiões brasileiras com alto nível de consumo corrente mas baixo potencial de crescimento.
Palavras-chave: Estratégias de entrada. Estratégias das incumbentes. Indústria de cimento. Competição espacial. Concentração.