número 1
APRESENTAÇÃO
BATAGLIA, WALTER
CARREIRA E FAMÍLIA NA SOCIEDADE LÍQUIDO-MODERNA
OLTRAMARI, ANDREA POLETO; GRISCI, CARMEM LIGIA IOCHINS
RESUMO
Este artigo objetivou compreender como aqueles que compõem as relações familiares de executivos bancários percebem como estes enfrentam seus dilemas pessoais relativos à carreira, bem como analisar que estilos de vida resultam da condução da carreira de executivos bancários em contexto de trabalho imaterial. Para tanto, em termos teóricos e com o objetivo de sustentá-lo, trabalhou-se com os conceitos de dilema, de subjetividade e estilos de vida, modelos de carreira sem fronteira e proteana, além de trabalho imaterial. Foram entrevistados quatorze representantes das relações familiares de executivos bancários. As entrevistas estruturadas foram realizadas com os familiares em suas residências ou em estabelecimentos comerciais por eles indicados. A análise dos dados foi realizada de maneira qualitativa; os resultados indicaram dilemas relativos à mobilidade espacial e funcional, e à privação da convivência. A existência dos dilemas não se mostrou inédita, porém, na contemporaneidade, eles tomam a vida profissional e pessoal dos sujeitos independentemente de limites espaçotemporais, afetando o modo de viver do executivo bancário e de sua família. Esta configuração está relacionada a um “modelo” de carreira profissional meteórica, de responsabilidade única do próprio trabalhador, em um contexto em que prevalece o trabalho imaterial. Qualquer que seja a escolha do executivo e da família, ambos sofrem as consequências das suas decisões. Sob a metáfora da vida líquida, portanto, foi possível refletir acerca do tema da fluidez da existência e, assim, pensar a construção da carreira também a partir de trajetórias líquidas, fluidas, sinuosas. A metáfora da sinuosidade permitiu pensar que a construção da carreira pode ser incerta, insegura e vulnerável. Os resultados também apontaram a falta de convívio com a família, uma vez que ofertar tempo para os familiares seria deixar de estar nessa promissora rede de relacionamentos diretamente associada ao sucesso profissional. Assim, com base no olhar da família acerca dos dilemas vivenciados pelos executivos bancários, observaram-se estilos de vida que condizem com a vida líquida da sociedade líquido-moderna.
Palavras-chave: Carreira. Dilemas. Executivo bancário. Relações familiares. Estilos de vida.
O PROCESSO DE IDENTIFICAÇÃO ORGANIZACIONAL ANTE A REFORMA ADMINISTRATIVA: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO
MARRA, ADRIANA VENTOLA; FONSECA, JEFERSON ADERBAL; MARQUES, ANTÔNIO LUIZ
RESUMO
Este artigo tem por objetivo analisar como se configura o processo de identificação dos servidores públicos de Minas Gerais ante a implantação da Avaliação de Desempenho Individual e do Prêmio de Produtividade. A discussão tem como embasamento teórico os pressupostos da Teoria da Identidade Social, bem como os trabalhos que discutem o processo de identificação com as organizações, como em Ashforth e Mael (1989), Pratt (1998), Dutton, Dukerich e Harquail (1994) e Ashforth, Harrison e Corley (2008). O foco deste estudo restringiu-se à percepção dos sujeitos entrevistados sobre seu próprio processo de identificação, mediante os novos instrumentos de gestão de pessoas implantados pelo governo de Minas. Seguindo esses pressupostos, a identificação organizacional é entendida como uma das possíveis formas de identificação social e, dependendo da intensidade dessa identificação, configuram-se a superidentificação e a desidentificação, além da identificação ambivalente e identificação neutra. No estudo empírico realizado, optou-se por uma pesquisa exploratória, de cunho qualitativo, na qual foram feitas observações e entrevistas, em profundidade, com os servidores públicos lotados em uma Secretaria Estadual de Minas Gerais. As análises permitiram averiguar que os policiais militares entrevistados possuem uma identificação de caráter ambivalente. Os vários níveis de intensidade da identificação organizacional envolveram a apropriação de atributos e valores associados à identidade da organização e a de seus membros. No entanto, essa identidade precisa ser modificada durante a mudança organizacional, promulgando a seus membros os novos valores e atributos na nova situação. Esses valores e atributos têm de ser desejáveis anteriormente por seus membros para diminuírem as resistências às mudanças. Apesar de os aspectos salariais e de reconhecimento profissional serem recorrentes nos depoimentos por meio de menções à progressão na carreira, o Prêmio por Produtividade e a Avaliação de Desempenho Individual (ADI) não constituíram fatores que efetivamente influenciaram o processo de identificação dos servidores estaduais.
Palavras-chave: Processo de identificação. Identificação organizacional. Reforma administrativa. Avaliação de desempenho. Prêmio de produtividade.
COLA, PLÁGIO E OUTRAS PRÁTICAS ACADÊMICAS DESONESTAS: UM ESTUDO QUANTITATIVO-DESCRITIVO SOBRE O COMPORTAMENTO DE ALUNOS DE GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO DA ÁREA DE NEGÓCIOS
VELUDO-DE-OLIVEIRA, TÂNIA MODESTO; AGUIAR, FERNANDO HENRIQUE OLIVEIRA DE; QUEIROZ, JOSIMEIRE PESSOA DE; BARRICHELLO, ALCIDES
RESUMO
As atividades fraudulentas no mundo corporativo têm sido motivo crescente de preocupação da sociedade e podem estar associadas a falhas na formação educacional dos gestores. Este estudo tem por objetivo analisar o comportamento dos alunos de cursos relacionados à área de negócios no que tange a práticas acadêmicas desonestas, como cola e plágio; a base teórica adotada para o desenvolvimento da pesquisa foi o trabalho de Chapman, Davis, Toy e Wright (2004). O escopo teórico do estudo versa sobre ética, competitividade e “jeitinho brasileiro”, assim como o emprego de práticas acadêmicas fraudulentas no Brasil e no mundo. Foi realizado um levantamento por meio de questionário com 164 estudantes de pós-graduação lato sensu e 179 estudantes de graduação. O questionário abordou a opinião dos respondentes diante de diversas situações envolvendo fraudes acadêmicas, incluindo o questionamento se os alunos já haviam participado pessoalmente de alguma dessas situações, assim como seus amigos e conhecidos. O questionário também explorou as intenções comportamentais dos respondentes em fraudar diante de quatro cenários acadêmicos diferentes, considerando seu relacionamento com terceiros, se amigos ou não. Além disso, os respondentes apresentaram seu grau de concordância em relação a diversas crenças relacionadas à fraude de atividades escolares. Na análise, foram utilizadas técnicas estatísticas univariadas e bivariadas, como teste t e correlações. Os resultados mostram que mais de 70% dos alunos de ambos os cursos já se envolveram em situações fraudulentas na sala de aula e mais de 90% deles acreditam que outros alunos já participaram de fraudes acadêmicas. Suas intenções de fraudar são maiores quando os amigos estão envolvidos. Os estudantes de graduação tendem a minimizar a gravidade de atos escolares fraudulentos. O artigo sugere ações para as instituições de ensino na acepção de não apenas reduzir o uso de cola e o plágio, mas também promover a integridade que deve nortear as ações acadêmicas e profissionais. Entender o comportamento acadêmico ante as práticas desonestas pode ajudar a prever e prevenir procedimentos desonestos quando do exercício da profissão.
Palavras-chave: Ensino superior. Cola. Práticas acadêmicas desonestas. Administração. Ética.
CONEXÕES POLÍTICAS EM ESTRUTURAS DE PROPRIEDADE: O GOVERNO COMO ACIONISTA EM UMA ANÁLISE DESCRITIVA
BREY, NATHANAEL KUSCH; CAMILO, SILVIO PARODI OLIVEIRA; MARCON, ROSILENE; BANDEIRA-DE-MELLO, RODRIGO
RESUMO
Com o crescente interesse da literatura econômica sobre o ativismo do governo, percebe-se que este passa a influenciar a atividade produtiva e econômica no Brasil de maneira mais intensa (Fucs & Coronato, 2011). Sob a ótica da teoria da estratégia política corporativa, o principal objetivo deste trabalho é analisar a estrutura de propriedade com participação societária do governo nas empresas brasileiras listadas na BM&FBovespa, no período de 1999 a 2010. O estudo explora a presença do governo em diversas esferas, sendo elas federais, estaduais e municipais nas estruturas de propriedade das empresas brasileiras listadas na BM&FBovespa, o que demonstra seu ineditismo em relação a outros estudos no país. Considera duas formas de identificação do governo como acionista: direta (empresas públicas, empresa estatais, autarquias federais, bancos de desenvolvimento nacional ou regional, fundos de desenvolvimento social e fundos de participação social) e indireta (fundos de pensão de empresas públicas e estatais), segregando-as em participação majoritária ou minoritária. Entre os principais resultados encontrados, primeiramente se confirmou o pressuposto de estudos anteriores, que investigam a estrutura de propriedade no Brasil, de que a maioria das empresas brasileiras listadas na BM&FBovespa possui estrutura de propriedade concentrada, indicando a existência da figura de um acionista majoritário. Foi encontrado que em média o maior acionista possui 62,77% do capital votante, e 49,78 do capital total das empresas. Também os resultados encontrados indicam que o governo, quando compõe a estrutura de propriedade das firmas, tem participação relevante na economia, chegando a participar diretamente em 13,71% das empresas abertas negociadas na BM&FBovespa, sendo que nos últimos 12 anos possuiu, em média, 49,72% das ações com direito a voto e 39,01% do total de ações de cada empresa, o que indica que o governo controla as empresas quando está diretamente envolvido com elas. Assim, é perceptível que o governo ao mesmo tempo diversifica suas relações societárias em setores, pois não está concentrado apenas em poucos deles, e está presente em todos os setores da economia em diferentes níveis de atuação.
Palavras-chave: Estrutura de propriedade. Conexões políticas. Estratégia política corporativa. Governo. Privatização.
SELEÇÃO DE ATRIBUTOS NA PREVISÃO DE INSOLVÊNCIA: APLICAÇÃO E AVALIAÇÃO USANDO DADOS BRASILEIROS RECENTES
HORTA, RUI AMÉRICO MATHIASI; ALVES, FRANCISCO JOSÉ DOS SANTOS; CARVALHO, FREDERICO ANTÔNIO AZEVEDO DE
RESUMO
Previsão de falências pode ter grande utilidade para instituições financeiras e não financeiras no que se refere a tomar, antecipadamente, as melhores decisões possíveis quanto a empréstimos ou investimentos. Na literatura específica, muitos modelos de previsão de falência têm feito uso de técnicas de data mining (mineração de dados). O pré-processamento é passo importante para selecionar dados de boa qualidade para utilização em operações de mineração. Mesmo assim, apesar de a seleção de atributos poder ser muito benéfica para pré-selecionar dados representativos visando melhorar o desempenho da previsão final, não se sabe que método de seleção é o melhor. Este trabalho tem como objetivo principal comparar as duas abordagens mais utilizadas de avaliação de subconjuntos de atributos: Filtro e Wrapper. Apesar de serem fundamentadas em técnicas de mineração de dados e muito utilizadas na etapa de seleção de atributos em modelos de previsão de insolvência, essas técnicas são muito pouco utilizadas para tratar dados obtidos em demonstrativos contábeis de empresas brasileiras. Por isso, a base empírica deste estudo consiste em uma amostra de empresas comerciais e industriais brasileiras, coletando-se dados relativos ao período 2004-2011. Os resultados indicaram que, na amostra estudada, a abordagem Filtro foi a mais eficiente, fornecendo melhores resultados de classificação tanto para a técnica de regressão logística (91,80%), quanto para redes neurais (93,98%). Foi demonstrada, ainda, a importância da explicitação da etapa de avaliação da seleção de atributos para a obtenção de melhores resultados em aplicações de técnicas de mineração de dados na previsão de insolvência. Uma conclusão específica a respeito das vantagens da abordagem Filtro aponta que ela pode ser a preferida para avaliar os atributos que irão compor os modelos preditivos.
Palavras-chave: Índices econômico-financeiros. Previsão de insolvência. Mineração de dados. Seleção de atributos. Abordagens Filtro e Wrapper.
A CONSTRUÇÃO DO MERCADO EDITORIAL ELETRÔNICO NO BRASIL POR MEIO DE PRÁTICAS DE MARKETING
MEDEIROS, JULIANA; VIEIRA, FRANCISCO GIOVANNI DAVID; NOGAMI, VITOR KOKI DA COSTA
RESUMO
Este artigo apresenta um estudo sobre a construção do mercado editorial eletrônico no Brasil. Para tanto, desenvolve uma análise que considera todos os agentes de mercado envolvidos, direta e indiretamente, bem como as práticas de troca, normativas e representacionais de tais agentes para formatar o mercado editorial quanto à introdução dos e-books. A base teórica adotada para o artigo está alicerçada na literatura de market-making, que envolve os pressupostos de que o conhecimento especializado em marketing é performativo e formata mercados; a construção dos mercados envolve enquadramento de regras e regulamentações, bem como externalidades; mercados são híbridos e coletivos; e mercados são resultados de práticas. O procedimento metodológico adotado concerniu à pesquisa qualitativa, com caráter descritivo, por meio de análise do conteúdo de dados secundários coletados em relatórios e documentos de entidades e associações do mercado editorial brasileiro, bem como dados primários coletados em trabalho de campo por meio da realização de observações em eventos destinados ao mercado editorial, e entrevista semiestruturada com representante de associações ligadas ao setor editorial. Os resultados encontrados indicam reposicionamento no mercado por meio de estratégias individuais de marketing, prezando por valores relativos à cultura local (práticas de troca); espetacularização da realidade por meio de imagens e estatísticas estimulantes que representam como é e deve ser o mercado editorial eletrônico (práticas representacionais); e atuação com poder público para garantir interesses dos agentes de mercado e, ainda, tentativa de proporcionar capacidade aos agentes para que possam representar o mercado perante a esfera governamental (práticas normativas). Implicações práticas, sociais e setoriais, e de políticas públicas decorrentes do estudo consistem, respectivamente, na necessidade de criação de novas experiências de compra por parte de gestores de marketing, cujas organizações operem no mercado editorial; necessidade de organização dos agentes de mercados em torno de associações de classe e entidades para a divulgação do novo modelo de negócio; e necessidade de regulamentações e normatizações para a consolidação do novo mercado.
Palavras-chave: Construção de mercados. Práticas de mercado. Práticas de marketing. Mercado editorial eletrônico. E-books.
GESTÃO DA QUALIDADE COMO RECURSO PARA REDUZIR OS CUSTOS DE TRANSAÇÃO: EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS NO COMÉRCIO INTERNACIONAL DE FRUTAS
CARVALHO, JOSÉ MÁRCIO; THOMÉ, KARIM MARINI; LEITÃO, FABRÍCIO OLIVEIRA
RESUMO
A fruta é um produto altamente perecível, suscetível a riscos biológicos, físicos e químicos. Tais riscos são agravados quando os frutos são transacionados no mercado internacional. Neste caso, os fornecedores e compradores de frutas estão expostos a elevados custos de transação, uma vez que ambos os lados precisam lidar com questões como as especificações do produto, o processamento pós-colheita e logística. A gestão da qualidade pode ser empregada a fim de organizar toda a produção, processamento e operações de logística. O presente trabalho tem o objetivo de verificar se os produtores, exportadores e importadores de frutas estão fazendo uso de conceitos de gestão da qualidade a fim de reduzir riscos e custos de transação. Como método de investigação, foi realizada uma pesquisa no Brasil e no Reino Unido utilizando entrevistas semiestruturadas. O conteúdo das perguntas da entrevista semiestruturada foi determinado com base na revisão da literatura sobre ECT, sobre comércio internacional de frutas e sobre gestão da qualidade. Os temas investigados foram: as atividades técnicas realizadas pelas organizações que operam no comércio de frutas, os principais tipos de clientes comerciais (parceiros) da empresa, a natureza das relações do tipo mercado mantidas pela empresa, o nível de problemas de qualidade percebido pelas empresas, e as estratégias de gestão de qualidade adotadas pelas empresas envolvidas. Esses temas serviram como referência para a elaboração das questões principais e das questões secundárias decorrentes. Eles também deram a direção para possíveis perguntas exploratórias. Os resultados da pesquisa dão suporte à ideia de que a gestão da qualidade é fundamental no comércio de frutas. A maioria das empresas abordadas não indicaram perceber como problemáticos os vários parâmetros que afetam a qualidade do produto final. Os resultados sugerem que as empresas que são incapazes de lidar com questões de qualidade de maneira satisfatória encontram pouco espaço no comércio de frutas. Conceitos de gestão da qualidade são muito utilizados para garantir as especificidades do produto e a racionalidade nos processos de operação e, por fazê-lo, contribuem para reduzir custos de transação nesse tipo de comércio.
Palavras-chave: Economia dos custos de transação. Gestão da qualidade. Comércio entre Brasil e Inglaterra. Operações internacionais de comércio. Especificações de produtos.
AGÊNCIA E REDES MUNDOS PEQUENOS: UMA ANÁLISE MULTINÍVEL DA PRODUTIVIDADE ACADÊMICA
ROSSONI, LUCIANO
RESUMO
Neste artigo, objetivamos avaliar empiricamente a capacidade da agência dos pesquisadores do campo da pesquisa em organizações e estratégia no Brasil quando imersos em redes mundos pequenos (small worlds). Para tanto, assumimos que a agência pode ser avaliada quanto a seu efeito na produtividade. Depois, advogamos que tal agência pode ser explicada pela imersão em redes de coautoria, em que tanto o posicionamento privilegiado dos pesquisadores em relação às lacunas estruturais quanto a configuração de facções da rede sob a forma de mundos pequenos podem afetar a produtividade. A análise de como a estrutura social influencia o comportamento e a performance dos indivíduos é primordialmente fundamentada em estudos de análises de redes sociais. Mesmo se reconhecendo as limitações, ela é frutífera e coerente enquanto arcabouço metodológico. Contudo, paralelamente, modelos estatísticos multiníveis vêm sendo empregados. Comumente conhecidos como modelos lineares hierárquicos, ou modelos HLM, eles buscam avaliar como o contexto interfere na ação social. Diante dessas duas possibilidades, buscamos neste estudo conciliar a análise de redes com modelos hierárquicos para avaliar a agência como socialmente imersa em redes de relações. Para tanto, o campo científico é tomado como um tipo de sistema social, cujas redes de relações de coautoria são avaliadas como dimensão estrutural quanto a posição-prática. Isso porque há indícios de que a estrutura de relacionamento interfira tanto no processo de institucionalização das ações, quanto na capacidade de agência dos pesquisadores. Verificamos que pesquisadores com maior proporção de laços não redundantes são mais produtivos. Além disso, as análises apontaram que em redes mais coesas a respeito de mundos pequenos, tanto individual quanto coletivamente, a produtividade é maior. Todavia, quando essa coesão é muito alta, há tendência de a produtividade decair. Tais resultados apontam para a relevância de se avaliar a capacidade da agência quando imersa em redes de relações, já que diferentes mecanismos de capital social condicionam a ação e seus resultados.
Palavras-chave: Agência. Estrutura. Redes mundos pequenos. Buracos estruturais. Produtividade acadêmica.
número 2
APRESENTAÇÃO
BATAGLIA, WALTER
CORPOREIDADE E ESTÉTICA NA APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL: INSIGHTS EMERGENTES
BERTOLIN, ROSANGELA VIOLETTI; CAPPELLE, MÔNICA CARVALHO ALVES; BRITO, MOZAR JOSÉ DE
RESUMO
Este ensaio visa refletir sobre a importância da corporeidade e do conhecimento estético no avanço teórico da aprendizagem organizacional. A teorização em torno da aprendizagem organizacional tem se direcionado rumo à superação das dicotomias tradicionalmente enraizadas nas ciências sociais assentadas em tradicionais dualidades, como sujeito/objeto, mente/corpo, indivíduo/organização. A emergência de novos estudos aponta para a necessidade de valorizar as temáticas do corpo e da estética para ampliar o entendimento da aprendizagem organizacional. Dessa forma, este ensaio teórico de natureza argumentativa busca refletir a aprendizagem organizacional a partir da perspectiva da teoria da estética, em que a corporeidade assume especial relevância. Uma das mais importantes contribuições da abordagem estética reside em buscar a superação de tais dicotomias que permeiam a vida organizacional e em sociedade. A partir do momento em que as bases de constituição do conhecimento são questionadas, não sendo apenas lógica, mas também estética e sensível, uma série de outras questões emerge em conjunto. O conhecimento estético, fruto das corporeidades em interação, é constantemente ativado por sentimentos, desejos, emoções, representações acerca do que a organização mostra aos seus e fundamenta as escolhas dos atores em interação. Tal reflexão permite buscar novos insights que possam contribuir para o avanço teórico da aprendizagem organizacional, ampliando assim a sua compreensão. Como principais insights conclusivos, evidencia-se o potencial da aprendizagem organizacional residindo na corporeidade e intercorporeidade, que, devido a sua complexidade constitutiva, demanda epistemologias e metodologias ampliadas das práticas organizacionais para clarear o entendimento da aprendizagem organizacional. Acredita-se que a aprendizagem organizacional deva ser vista como um processo fluido, que está diluído no tempo, no espaço e nas práticas individuais e sociais, em que corpos e subjetividades se entrelaçam para dar os contornos específicos a cada ponto do processo e que ao mesmo tempo constituem e são constituídos em tal processo, significam e são significados, ressignificam e são ressignificados.
Palavras-chave: Aprendizagem organizacional. Corporeidade. Estética. Subjetividade. Intersubjetividade.
EXPRESSÃO E REGULAÇÃO EMOCIONAL NO CONTEXTO DE TRABALHO: UM ESTUDO COM SERVIDORES PÚBLICOS
RODRIGUES, ANA PAULA GRILLO; GONDIM, SÔNIA GUEDES
RESUMO
As emoções caracterizam-se por um conjunto de respostas integradas que envolvem alterações fisiológicas e motoras (que preparam o indivíduo para agir) e sentimentos associados a experiências internas (que propiciam uma avaliação da situação). As expressões emocionais são cruciais para o desenvolvimento e regulação das relações interpessoais. Saber lidar com as emoções pessoais e com as dos demais tem se tornado um importante requisito nas relações do indivíduo com a organização. O manejo das emoções repercute nas interações com colegas de trabalho e no atendimento a clientes. Situações do cotidiano de trabalho, mudanças organizacionais e características de clientes e colegas de trabalho envolvem emoções que necessitam ser reguladas. A regulação emocional pode ser definida como uma tentativa controlada ou automática de lidar com as emoções, indicando quando e a forma como elas serão sentidas e expressas. O setor público vem passando nos últimos anos por mudanças na sua estrutura e dinâmica que exigem manejo emocional da parte dos servidores públicos, demandando estudos empíricos que permitam compreender melhor essa realidade. O estudo quantitativo apresentado neste artigo analisou a relação entre emoções, estratégias de regulação emocional e variáveis sociodemográficas de servidores públicos que trabalham em organizações do Sul do país. Para a coleta de dados, foi utilizado um questionário com exemplos de situações hipotéticas do cotidiano do trabalho para que os participantes escolhessem expressões emocionais a elas associadas e as estratégias de regulação emocional que poderiam ser usadas em tais situações. A amostra contou com 400 trabalhadores de instituições públicas. Os resultados indicaram que, nas situações cotidianas negativas, as emoções que prevaleceram estavam associadas à raiva, e as que menos apareceram estavam associadas ao medo. As estratégias de regulação emocional usadas para lidar com as situações foram as de ação profunda. Os resultados apresentaram também diferenças na regulação emocional quanto ao gênero, nível de atuação na instituição pública e regime de trabalho.
Palavras-chave: Emoções. Estratégias de regulação emocional. Serviço público. Psicologia organizacional. Comportamento organizacional.
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS CIRCULANTES NO PERÍODO DE MARGEM DO RITUAL DE PASSAGEM: O CASO DOS PERITOS CRIMINAIS EM ESTÁGIO PROBATÓRIO
CAVEDON, NEUSA ROLITA
RESUMO
O trabalho tem por objetivo identificar as representações sociais construídas pelos peritos criminais em estágio probatório, portanto no período de margem do ritual de passagem. A noção de ritual norteadora do artigo está baseada nos autores Turner (1974), Van Gennep (1978), DaMatta (1978, 1983), Rivière (1997), Segalen (2000) e Peirano (2003) e é definida como um momento extraordinário em que os valores e conhecimentos são apresentados aos neófitos como forma de inseri-los no universo cultural no qual estão ingressando. As representações sociais construídas ao longo desse período vão apresentar peculiaridades inerentes à posição ocupada pelos neófitos. E as representações sociais, de acordo com Sperber (2001), dentro de uma ótica antropológica, emergem de uma composição articulada em torno da representação em si, do conteúdo dessa representação, de um usuário e de um produtor (que, em alguns casos, pode ser o próprio usuário). As representações mentais são aquelas construídas no interior do usuário. As representações públicas são as representações mentais compartilhadas entre as pessoas de um determinado grupo. Os sujeitos integrantes de uma comunidade ou grupo social, cada um deles possui em seu interior uma gama de representações mentais, e parte desse saber ou dessas representações será, ao se tornar pública, compartilhada entre os integrantes do grupo. Assim, os sujeitos vão construir suas representações mentais semelhantes àquela originalmente publicizada. O método etnográfico permitiu acompanhar os ingressantes desde o estágio da separação até o momento de margem. A observação participante e simples foi empreendida desde maio de 2009 até junho de 2012 junto aos neófitos. As representações circulantes na fase de liminaridade contemplaram o trabalho, como desgaste emocional, um valor positivo, interferindo na vida familiar, identificado como CSI, positivo e negativo aos olhos da polícia, humor negro e falta de recursos. Vale destacar que a humildade e as críticas acompanhadas de aspectos positivos foram acionadas, mesmo sendo os neófitos ingressantes no setor público, o que confirma as teorizações elaboradas por antropólogos que enfatizam a humildade e o comedimento como sendo comportamentos esperados na fase de margem do ritual de passagem.
Palavras-chave: Rituais. Representações sociais. Estágio probatório. Perícia criminal. Etnografia.
TERRITORIALIDADE E IDENTIDADE NAS ORGANIZAÇÕES: O CASO DO MERCADO CENTRAL DE BELO HORIZONTE
SARAIVA, LUIZ ALEX SILVA; CARRIERI, ALEXANDRE DE PÁDUA; SOARES, ARI DE SOUZA
RESUMO
O objetivo deste artigo é analisar as relações entre territorialidade e identidade no ambiente organizacional, avançando na perspectiva de identidade quanto ao que é distintivo, duradouro e central numa organização. Para tanto, foi tomado como objeto de estudo o Mercado Central de Belo Horizonte, lugar de múltiplas práticas – de boêmios, compradores, frequentadores e turistas – em que a cultura mineira se apresenta em diversas nuanças, adequado como objeto, portanto, para a observação de fenômenos complexos como os aqui tratados. Sob um enfoque qualitativo, 40 entrevistas semiestruturadas foram realizadas junto aos comerciantes do Mercado Central de Belo Horizonte, visando compreender a visão deles sobre esse espaço, material trabalhado pela análise do discurso francesa. Percebe-se que a sobreposição dos elementos trabalhados – distintivos (comércio), duradouros (paróquia) e centrais (escritório da administração) – demonstra atritos, seja pelo extravasamento de funções, seja porque, nas organizações, o convívio entre desiguais se instala, polarizada por alguns grupos que dominam enquanto outros resistem. Equilibram-se pelos movimentos de rearranjo dos atores sociais pelos territórios que ocupam em torno da sobrevivência mútua. Observou-se que as crenças compartilhadas que os indivíduos têm da identidade de uma organização, segundo definições de Albert e Whetten (1985), também se prestam para explicitar uma dada compreensão do espaço. E se essa é a ideia-base é porque ela não se prende apenas aos elementos puramente concretos, mas também à sua perspectiva simbólica. Partilhando de um espaço de múltiplas práticas, o mercado conjuga um conjunto de territórios que oscilam entre harmonia e conflitos, visto que são dinamizados por forças que, na defesa dos interesses de grupos particulares, tropeçam umas nas outras. Os territórios, porém, da mesma forma que se digladiam, se entendem sob o manto da mesma ideologia, a da sobrevivência mútua. Os territórios não estão hierarquicamente categorizados, mas exercem papéis diferentes dentro de uma realidade socialmente construída. Seus espaços não são estáticos, tampouco intercambiáveis: uma vez institucionalizados, ganham a feição de coisas dadas, imanentes. Porém, o que explica o equilíbrio é que os atores sociais transitam entre os territórios desempenhando múltiplos papéis. No intento de resolver os problemas relacionados ao território em que atuam, percebe-se uma tentativa desses indivíduos de querer “fazer parte do jogo”, o que demonstra que, na essência, eles buscam aproximar-se do grupo majoritário e iniciar um processo de incorporação da ideologia dominante.
Palavras-chave: Territorialidade. Espaço. Identidade. Discursos. Mercado Central de Belo Horizonte.
SELEÇÃO DE CARTEIRAS COM MODELOS FATORIAIS HETEROCEDÁSTICOS: APLICAÇÃO PARA FUNDOS DE FUNDOS MULTIMERCADOS
CALDEIRA, JOÃO FROIS; MOURA, GUILHERME VALLE; SANTOS, ANDRÉ ALVES PORTELA; TESSARI, CRISTINA
RESUMO
A teoria moderna do portfólio é baseada na noção de que a diversificação de uma carteira de investimento gera portfólios com uma melhor relação entre risco e retorno. Ultimamente, gestores vêm tentando ampliar a diversificação de suas carteiras por meio do investimento em cotas de diferentes fundos de investimento que, por sua vez, já contêm portfólios diversificados. Com isso, vem crescendo o interesse acadêmico e de participantes do mercado na seleção de carteiras formadas por fundos de investimento. Neste trabalho, a aplicabilidade e o desempenho fora da amostra de estratégias quantitativas de otimização para a construção de carteiras de fundos serão analisados. O desempenho dessas carteiras de fundos otimizadas será comparado ao desempenho do portfólio ingênuo igualmente ponderado, da carteira teórica do Ibovespa e do Índice de Mercado de Renda Fixa (IRF-M). Para a obtenção de portfólios ótimos, restritos para venda a descoberto, formula-se um problema de otimização de portfólios compostos por 388 fundos de investimento multimercado brasileiros ao longo de cinco anos. Para a modelagem da matriz de covariâncias dos retornos desses 388 fundos, é empregado um modelo fatorial heterocedástico parcimonioso. Tomando como base diferentes frequências de rebalanceamento dos pesos, as medidas de desempenho fora da amostra indicam que as estratégias quantitativas de otimização proporcionam resultados superiores em termos de volatilidade, desempenho ajustado ao risco, turnover e custos de transação ao longo do tempo. Em particular, os resultados obtidos indicam que o índice de Sharpe (IS) da carteira de média-variância e da carteira de mínima-variância foram estatisticamente diferentes (maiores) em relação ao IS do índice de referência de todas as frequências de rebalanceamento utilizadas. Com relação ao desvio padrão, os testes estatísticos mostraram que a volatilidade das carteiras de mínima-variância é estatisticamente diferente (menor) da volatilidade do índice de referência. Resultados semelhantes foram encontrados quando se comparou o desempenho das carteiras otimizadas ao Ibovespa e ao portfólio igualmente ponderado.
Palavras-chave: Garch multivariado. Correlação condicional dinâmica. Análise de desempenho. Fundo de fundos. Otimização de carteiras.
ATUAÇÃO DE BANCOS ESTRANGEIROS NO BRASIL: MERCADOS DE CRÉDITO E DERIVATIVOS DE 2005 A 2011
OLIVEIRA, RAQUEL DE FREITAS; SCHIOZER, RAFAEL FELIPE; LEÃO, SÉRGIO
RESUMO
Este estudo insere-se no debate a respeito das consequências da presença de bancos estrangeiros em países em desenvolvimento. Especificamente, é investigada a atuação do conjunto de bancos de controle estrangeiro no Brasil de 2005 a 2011, com foco em sua participação nos mercados de crédito e de derivativos cambiais. Verificaram-se ainda os impactos da crise financeira internacional de 2008/2009 sobre o comportamento desses bancos. A motivação para essa análise está nos papéis que o crédito e a gestão de riscos financeiros desempenham no desenvolvimento econômico. O crédito é um canal fundamental de atuação pelo qual os bancos estrangeiros podem afetar o crescimento da economia doméstica. Os derivativos cambiais fazem parte de importante conjunto de tecnologias para gestão de risco das empresas e investidores que são mais comumente oferecidos pelos bancos estrangeiros e ajudam a explicar os efeitos benéficos da presença desses tipos de banco em economias emergentes. No período amostral, os bancos estrangeiros respondem por pouco mais de um quarto das concessões de crédito livre. Embora os testes realizados não permitam concluir relações de causa e efeito entre variáveis, observa-se que a crise financeira afetou negativamente os bancos estrangeiros, de forma mais intensa e longa do que os bancos privados nacionais. Essa observação pode ser indicativa de uma transmissão do choque de liquidez ocorrido nos mercados desenvolvidos para a economia brasileira. Entretanto, no período pós-crise, a partir do terceiro trimestre de 2010 até o final de 2011, a taxa de crescimento das concessões dos estrangeiros foi superior às dos demais. No mercado de derivativos cambiais, os bancos estrangeiros, inclusive os de menor porte, têm papel importante no fornecimento desses instrumentos, especialmente para o setor não financeiro. Os resultados mostram que, durante a crise, e, especialmente, no período pós-crise, os bancos privados nacionais diminuíram sua atuação nesses mercados. Adicionalmente, mostra-se que esse mercado é menos concentrado que o de crédito, o que evidencia a importância da existência de instituições financeiras de menor porte.
Palavras-chave: Bancos estrangeiros. Crédito. Derivativos cambiais. Transmissão de crise. Economia brasileira.
OS IMPACTOS DA GESTÃO DO CONHECIMENTO NA ORIENTAÇÃO ESTRATÉGICA, NA INOVATIVIDADE E NOS RESULTADOS ORGANIZACIONAIS: UMA SURVEY COM EMPRESAS INSTALADAS NO BRASIL
FERRARESI, ALEX ANTONIO; SANTOS, SILVIO APARECIDO DOS; FREGA, JOSÉ ROBERTO; QUANDT, CARLOS OLAVO
RESUMO
Este artigo é o resultado de uma survey realizada com 241 empresas instaladas no Brasil, com o objetivo de verificar se a gestão eficaz do conhecimento contribui para a orientação estratégica da empresa, para sua inovatividade e para os resultados organizacionais. O levantamento dos dados foi realizado por meio de questionários eletrônicos autoadministráveis contendo 54 questões com escalas de 10 pontos para medir o grau de concordância das variáveis dos quatro construtos envolvidos no estudo. Na análise dos dados, utilizou-se a técnica de modelagem de equações estruturais. Fundamentada na teoria da empresa baseada em recursos, a pesquisa partiu do pressuposto de que o conhecimento, além de ser um dos princpais recursos de uma organização, alavanca os demais recursos. Os resultados mostraram evidências que permitiram concluir que a gestão eficaz do conhecimento contribui positivamente para a orientação estratégica, porém não foi possível concluir sobre a contribuição positiva desses construtos sobre os demais, quando analisadas as suas relações diretas. Quando mediada pela orientação estratégica, a gestão eficaz do conhecimento mostrou efeitos totais e indiretos robustos e estatisticamente significantes sobre os resultados organizacionais. Os impactos da gestão do conhecimento e da inovatividade da empresa mostraram-se significantes e robustos quando alinhados com uma orientação estratégica que permite à empresa se antecipar e responder às condições do mercado. Verificou-se que a gestão do conhecimento permeia todas as relações entre os demais construtos, o que corrobora o argumento de que o conhecimento é um recurso que alavanca as demais atividades geradoras de valor nas organizações. Embora existam inúmeras pesquisas que abordam os construtos aqui envolvidos, a originalidade deste estudo repousa na análise simultânea desses conceitos, orientada por uma metodologia que permite sua replicação em outras culturas e condições. Além disso, o estudo traz implicações gerenciais no sentido de afirmar que a gestão do conhecimento e suas práticas possuem um caráter estratégico que deve ser considerado antes da aplicação de práticas pontuais para o alcance de objetivos específicos.
Palavras-chave: Gestão do conhecimento. Inovatividade. Orientação estratégica. Resultados organizacionais. Inovação.
número 3 - Fórum Especial Temático Sobre Alianças Estratégicas E Redes De Alianças
APRESENTAÇÃO
CONCEPÇÕES TEÓRICAS E VERIFICAÇÕES EMPÍRICAS SOBRE A COOPERAÇÃO ENTRE FIRMAS NO BRASIL: UMA INTRODUÇÃO AO FÓRUM ALIANÇAS ESTRATÉGICAS E REDES DE ALIANÇAS
VERSCHOORE, JORGE; BULGACOV, SERGIO; SEGATTO, ANDRÉA PAULA; BATAGLIA, WALTER
COOPERAR PARA SOBREVIVER E CRESCER: ANÁLISE DA REDE DE COOPERAÇÃO REDEMAC
FEIJÓ, RODRIGO MEDEIROS; ZUQUETTO, ROVIAN DILL
RESUMO
O alinhamento dos conceitos de cooperação em associações de empresas que buscam, por meio de objetivos comuns e estratégias coletivas, alcançar vantagens competitivas sustentáveis em longo prazo, como base nos benefícios e resultados da rede, é tema central desta pesquisa. Para fundamentar o referencial teórico exposto, buscou-se a literatura com base nos seguintes autores: Human e Provan (1997), Ebers e Jarillo (1998), Balestrin e Verschoore (2008), Powel (1998), Jarillo (1998), Castells (2012), Provan, Fish e Sydow (2007), entre outros. O objeto de estudo é o caso da rede de cooperação Redemac Materiais de Construção. Utilizaram-se, para tanto, técnicas de entrevistas em profundidade com três executivos que participaram ou participam do processo de institucionalização da Redemac. O objetivo foi examinar a formação, o desenvolvimento, os benefícios e resultados dessa associação de empresas, que se tornou um caso de sucesso na formação de uma rede de cooperação. Para finalizar, procurou-se acrescentar a visão de um lojista que ingressou na rede, observando seus resultados a partir dos propósitos de cooperação. Os resultados indicam que a Redemac é uma associação de empresas que obteve grande sucesso no cenário gaúcho, pois seguiu o paradigma colaborativo como forma de maximizar vantagens provenientes de trocas de informações, ganhos em escala, diminuição de custos, compartilhamento de marketing, aumentando o poder de barganha junto aos fornecedores e criando, dessa forma, barreiras para entrada de novos concorrentes, de maneira a torná-la mais competitiva para o enfrentamento dos grandes players do setor.
Palavras-chave: Redes. Cooperação. Redemac. Estratégias coletivas. Vantagens competitivas.
ATRIBUTOS DA TRANSAÇÃO E MENSURAÇÃO, E SUA INFLUÊNCIA NAS RELAÇÕES ENTRE COOPERADOS E COOPERATIVAS EM SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS SUINÍCOLAS
MARTINS, DANIELE DE LOURDES CURTO DA COSTA; SOUZA, JOSÉ PAULO DE
RESUMO
Neste artigo, busca-se discutir as relações entre os cooperados e as cooperativas especificamente em transações suinícolas, as quais envolvem atributos da transação e dimensões mensuráveis. Para tanto, o objetivo deste artigo foi compreender como os atributos da transação e a mensuração podem influenciar nas relações contratuais entre produtores e processadores em estruturas cooperadas suinícolas localizadas na região oeste do Paraná. Teoricamente, recebeu suporte das teorias dos custos de transação de Williamson (1985) e dos custos de mensuração de Barzel (2005). Para atender ao objetivo proposto, realizou-se uma pesquisa qualitativa de cunho descritivo em duas cooperativas no oeste paranaense. A coleta de dados foi desenvolvida por meio de obtenção de dados secundários da Organização Brasileira de Cooperativas, de institutos de pesquisa, da Secretaria da Agricultura e de órgãos relacionados à atividade de suínos. Os dados primários foram obtidos por meio de uma entrevista semiestruturada com as cooperativas e os produtores. Como resultado, identificou-se que a estrutura de governança utilizada pelas cooperativas se caracteriza como híbrida, a qual, mesmo na presença de alta especificidade de ativos, se justifica pela possibilidade de mensuração. Os contratos entre as partes são formais e informais. Em relação ao contrato formal, este tem relevância para as partes no sentido de trazer garantia e continuidade da atividade. Entretanto, a presença de aspectos acordados envolvendo certa especificidade e mensuração pode gerar perda de direito de propriedade, notadamente para os produtores. Identificou-se também que os contratos passam a desempenhar um duplo papel na relação entre as partes: 1. geram o equilíbrio na relação e reduzem a possibilidade de comportamento oportunista, em razão do investimento especifico realizado e da necessidade de obtenção de padrão de produto e processo; 2. são utilizados como um mecanismo para manter o cooperado produtor de suíno como sócio fiel na cooperativa, atuando como uma forma de manutenção na relação agente e principal.
Palavras-chave: Custos de transação. Custos de mensuração. Contratos. Cooperativas. Cadeia suinícola.
A CONFIANÇA EM SITUAÇÕES AMBIVALENTES E INCONGRUENTES: A UTILIZAÇÃO DE VINHETAS COMO MÉTODO EXPLORATÓRIO
KIRSCHBAUM, CHARLES; HOELZ, JOSÉ CARLOS
RESUMO
O objetivo deste trabalho é sugerir a utilização de vinhetas para explorar como os indivíduos interpretam situações em que há ambivalência nas características relacionais com parceiros. Para tanto, investigou-se a forma como indivíduos, em uma organização produtora de software, interpretam situações transacionais concretas e elaboram suas percepções das relações entre confiança e controle. A partir das vinhetas apresentadas aos entrevistados, coletaram-se relatos qualitativos que exibem como seus pressupostos ou indagações conduzem ao “fechamento” das situações. A análise dos dados sugere que esse “fechamento” ocorre por meio de vários mecanismos alternativos: 1. censura seletiva de sinais contraditórios, 2. inclusão de pressupostos inexistentes na narrativa original, 3. busca focada de informações adicionais e 4. reflexão crítica de corresponsabilidades. A adoção de um mecanismo em detrimento de outro pode ter implicações importantes para o desdobramento das relações interorganizacionais estudadas. Neste artigo, buscou-se utilizar a abordagem de Swidler (2001), em que, no uso de vinhetas, procurou-se evidenciar os elementos culturais mobilizados na interpretação, formação de julgamentos e estabelecimento de metáforas e analogias por parte dos indivíduos. Cabe ressaltar que, do ponto de vista metodológico, a abordagem de pesquisa exploratória com a utilização de vinhetas pode ser um mecanismo interessante de abordagem qualitativa, principalmente em contextos em que o pesquisador se interessa por abrir a “caixa-preta” de alguma variável de interesse. Com essa abordagem, é possível obter um acesso privilegiado ao repertório de narrativas dos indivíduos. Cada vinheta reflete uma situação que se coloca ao entrevistado e o leva a evocar valores, crenças, atitudes e narrativas que não seriam de outra forma coletados. Sendo assim, este trabalho postula que a elaboração de vinhetas é um importante instrumento exploratório não apenas para o avanço teórico, mas também para o ensino da administração, conforme o explicado na conclusão deste artigo.
Palavras-chave: Vinhetas. Confiança interorganizacional. Repertório. Narrativas. Dissonância.
AS ALIANÇAS ESTRATÉGICAS NO PICADEIRO DA ARTE/NEGÓCIO CIRCENSE
QUARESMA JÚNIOR, EDSON ANTUNES; SILVA, EVERTON RODRIGUES DA; CARRIERI, ALEXANDRE DE PÁDUA
RESUMO
O objetivo do artigo é estudar a contribuição das alianças para a longevidade das empresas, tendo como objeto um campo quase esquecido pela administração, as organizações circenses. A despeito de sua importância econômica e simbólica, tal setor é pouco estudado sob o ponto de vista de suas práticas gerenciais. Nesse sentido, o problema proposto para exame é identificar em que medida as unidades pesquisadas realizam alianças capazes de gerar benefícios competitivos. O foco de investigação são as parcerias com licenciadas de marcas ícones do entretenimento infantil nacional, como Patati Patatá, Galinha Pintadinha e Turma da Mônica. Como objetivo secundário, pretende-se gerar subsídios para pesquisas futuras acerca do circo, razão pela qual o referencial teórico sobre alianças organizacionais foi elaborado em uma perspectiva ampla, posição coerente com o estágio incipiente da produção científica no segmento. Metodologicamente, adotou-se uma abordagem qualitativa com base em entrevistas em três circos de grande porte, da Região Sudeste. As informações foram trabalhadas por meio da análise do discurso. Os casos estudados apontaram que as alianças são uma fonte de valor por proporcionarem ganhos de performance nas dimensões: econômica (redução de risco, maximização dos ativos e de receita), de diferenciação competitiva (oriunda da partilha de recursos), e de desenvolvimento de capacidade adaptativa, denotada pelo senso de oportunismo decorrente das parcerias. Outro achado relevante diz respeito à presença antiga das alianças no cotidiano dos circos. Também foram apontados caminhos para esforços acadêmicos posteriores sobre: 1. os modos de existência das organizações circenses; 2. a fluidez e extensão dos limites organizacionais; 3. a relação de subordinação e os jogos de poder entre as partes envolvidas, com destaque para o exame da ambivalência gerada pelas alianças, expressa pelo paradoxo da conquista de flexibilidade versus a restrição competitiva; 4. a influência dos laços sociais na escolha e na coordenação das alianças; 5. as relações contratuais na indústria circense; 6. o aprofundamento da identificação dos recursos compartilhados. Por fim, cabe pontuar que as constatações levantadas não podem ser generalizadas, dado o recorte da população investigada.
Palavras-chave: Alianças estratégicas. Circos. Parcerias. Organizações circenses. Entretenimento familiar.
PARA ALÉM DO OLHAR ECONÔMICO NAS ALIANÇAS ESTRATÉGICAS: IMPLICAÇÕES SOCIOLÓGICAS DO CASO UNIHOTÉIS
VIZEU, FABIO; GUARIDO FILHO, EDSON RONALDO; GOMES, MARCELO ALVES
RESUMO
O propósito do presente artigo é discutir o fenômeno das alianças estratégicas à luz da perspectiva sociológica de análise em contraponto com a orientação econômica que privilegia a concepção de ator racional, sob uma lógica utilitarista e contratualista. O trabalho foi construído a partir do estudo do caso da constituição de uma aliança estratégica no setor de hotelaria brasileiro. Entrevistas e dados documentais foram analisados qualitativamente, combinando análise de conteúdo tradicional e história oral. Os resultados apontaram aspectos emergentes de ordem sociológica no estudo de alianças estratégicas, os quais serviram de base para a constituição de quatro proposições analíticas: 1. o processo de constituição de alianças estratégicas é influenciado pela atividade interessada de diferentes atores distribuídos numa arena política, cujas ações são orientadas não apenas por expectativas utilitárias, mas também simbólicas; 2. o esforço de atores incumbentes para justificar e legitimar um projeto de cooperação interorganizacional e para mobilizar outros atores em favor de ideias e interesses que se coadunam a esse projeto influencia o processo de formação de alianças estratégicas; 3. princípios, categorias e entendimentos compartilhados acerca da cooperação interorganizacional, construídos na interação dos atores constituintes com agentes externos, condicionam os arranjos formais e relacionais no processo de formação de alianças estratégicas; 4. a constituição de alianças estratégicas depende do quanto os atores organizacionais interpretam sua adesão como desejável ou obrigatória em um determinado contexto social. Conclui-se em favor da complementaridade entre a perspectiva econômica e o olhar sociológico na análise das alianças estratégicas, reconhecendo a inserção social dos atores econômicos, bem como outras dimensões institucionais do ambiente, o que possibilita um entendimento mais aprofundado sobre alianças estratégicas.
Palavras-chave: Alianças estratégicas. Análise sociológica. Cooperação. Ótica econômica. Setor hoteleiro.
EMBEDDEDNESS ESTRUTURAL E ESPACIAL EM REDES ESTRATÉGICAS: EFEITOS ATITUDINAIS NO NÍVEL DAS DÍADES
VIZEU, FABIO; GUARIDO FILHO, EDSON RONALDO; GOMES, MARCELO ALVES
RESUMO
O objetivo no presente trabalho é dimensionar os efeitos da imersão (embeddedness) estrutural e espacial sobre a similaridade atitudinal dos agentes de uma rede estratégica caracterizada como arranjo produtivo local (APL). O referencial discorre sobre o embeddedness estrutural e espacial em redes estratégicas e também sobre a similaridade atitudinal dos agentes. Argumenta-se que o grau de similaridade entre dois agentes, em termos de embeddedness estrutural e espacial, será relacionado ao grau de similaridade atitudinal em redes estratégicas do tipo APL. Mais especificamente, defende-se aqui que a identificação dos agentes com sua rede e a avaliação que estes fazem do desempenho da coordenação da rede em buscar suporte externo para desenvolvimento do arranjo figuram como duas variáveis importantes em termos de grau de cooperação entre os agentes e desempenho coletivo e individual. Como facilitador ou inibidor das interações, o embeddedness espacial é o elemento que tem potencial para complementar mais prontamente a análise da influência do embeddedness estrutural sobre a similaridade entre atores sociais no que concerne ao maior grau de concordância atitudinal ou uniformidade comportamental. A análise ocorreu no nível diádico por considerar esse o lócus micro de reprodução e transformação de lógicas ou padrões sociais de maior espectro, que, portanto, afetam o sistema da rede e até o nível societal como um todo. Para teste das hipóteses, foi empregado o Multiple Regression Quadratic Assignment Procedure (MRQAP). O número de observações foi de 600 díades geradas a partir de 25 organizações. Os resultados evidenciaram que a similaridade em prestígio estrutural e em grau de clusterização do ego se relaciona positivamente com a similaridade na identificação do agente com a rede. Em relação ao embeddedness espacial, comprovou-se a hipótese de que a proximidade geográfica entre os agentes se relaciona positivamente com a similaridade na avaliação de desempenho da coordenação da rede em relação a buscar suporte externo para desenvolvimento do APL.
Palavras-chave: Embeddedness estrutural. Embeddedness espacial. Similaridade diádica. Rede. MRQAP.
OS DIFERENTES CONTRATOS DE TRABALHO ENTRE TRABALHADORES QUALIFICADOS BRASILEIROS
AZEVEDO, MARCIA CARVALHO DE; TONELLI, MARIA JOSÉ
RESUMO
Ao longo das últimas décadas, as relações de trabalho têm se modificado de forma contínua na direção de contratos mais flexíveis vis-à-vis relações de trabalho mais estáveis e de longo prazo. Essas transformações também têm atingido o mercado de trabalho brasileiro, ainda que este tenha características distintas das economias mais desenvolvidas. No Brasil, as relações de trabalho sempre tiveram um forte componente de flexibilidade, uma vez que o emprego formal e o informal são igualmente importantes na economia do país. Apesar da informalidade presente no cenário brasileiro, trabalhadores qualificados brasileiros mantiveram vínculos de trabalho estáveis, com contratos CLT, ao longo da segunda metade do século passado. Entretanto, esse panorama tem sido modificado nas últimas décadas. Apesar da constatação dessas mudanças no mercado de trabalho, pesquisas que investigam a disseminação de diferentes tipos de contrato de trabalho no mercado brasileiro são escassas. Dados referentes a profissionais qualificados são ainda mais raros. Tendo esse cenário como pano de fundo, esta pesquisa tem como objetivo identificar os diferentes tipos de contrato de trabalho existentes entre trabalhadores qualificados no Brasil. Para isso, discute os resultados de uma pesquisa empírica e apresenta, com base na literatura e nos dados de 47 entrevistas com trabalhadores, 15 tipos de contrato de trabalho que se distinguem do padrão CLT. Os resultados mostram que, dada essa diversidade, as relações flexíveis de trabalho não podem ser tratadas como um processo homogêneo. Os dados também retratam uma realidade preocupante. Podemos dizer que existe um descompasso dentro do contexto brasileiro entre as relações de trabalho atuais e o ambiente no qual elas estão inseridas. A sociedade brasileira e a legislação trabalhista estão estruturadas com base nas relações de trabalho formais. As organizações muitas vezes não sabem lidar com uma força de trabalho com diferentes tipos de contrato, enfrentando problemas complexos decorrentes dessa situação. E os trabalhadores em geral não estão preparados para atuar nesse mercado de trabalho diferenciado. Ressaltamos que os trabalhadores são o elo mais frágil desse contexto, enfrentando dificuldades de maximizar os aspectos positivos e minimizar os aspectos negativos associados aos contratos de trabalho que diferem dos tradicionais.
Palavras-chave: Contratos de trabalho. Trabalhadores qualificados. Relações de trabalho. Relações flexíveis de trabalho. Brasil.
TEORIA DA APRENDIZAGEM TRANSFORMADORA: CONTRIBUIÇÕES PARA UMA EDUCAÇÃO GERENCIAL VOLTADA PARA A SUSTENTABILIDADE
CLOSS, LISIANE QUADRADO; ANTONELLO, CLAUDIA SIMONE
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo geral compreender processos de aprendizagem transformadora – que objetivam transformações conscientes nos quadros de referência dos indivíduos, por intermédio da reflexão crítica sobre pressupostos – ocorridos entre gestores. Investigou-se a percepção destes acerca do impacto de problemáticas contemporâneas, enfocando, em especial, questões relacionadas à sustentabilidade. Além disso, discutiu-se o papel da educação gerencial na conscientização desses profissionais quanto à sua responsabilidade no desenvolvimento da sustentabilidade. Para a realização da investigação, foi adotado o método de história de vida. Essa abordagem metodológica favorece o estudo de processos de aprendizagem gerencial, possibilitando a contextualização pessoal, histórica, social, institucional e política das narrativas. Foram entrevistados sete gestores, e teve-se a preocupação de contemplar ambos os gêneros, diferentes faixas etárias e formações superiores, experiências em funções e setores diversos, e a realização de cursos de mestrado em diferentes instituições, obtendo suficiente riqueza de dados para análise e para a consecução do objetivo estabelecido. Os achados em campo revelam que a teoria e os processos de aprendizagem transformadora: 1. não podem ocorrer de modo individual, em meio a pressões sociais e corporativas contrárias, mas sim como um processo de transformação coletiva, compartilhado por outros, em meio a mudanças sociais e culturais; 2. abrem possibilidades para uma formação gerencial que vise a posturas mais críticas e reflexivas, levando em consideração a subjetividade dos indivíduos e visões mais inclusivas e participativas, tal como requer a educação para a sustentabilidade; 3. possibilitam a inserção crítica do gestor na sociedade, incorporando, no processo de ensino e aprendizagem, as dimensões socioeconômica, política, cultural e histórica, além das dimensões intelectual, afetiva e moral e não apenas as materiais, favorecendo o desenvolvimento da sustentabilidade. Sugere-se a realização de pesquisa-ação, em que se incorporem os fundamentos da teoria da aprendizagem transformadora em programas de educação gerencial que promovam a sustentabilidade, dados os potenciais benefícios da reflexão crítica para a consecução dos seus objetivos.
Palavras-chave: Aprendizagem transformadora. Reflexão crítica. Educação para sustentabilidade. Desenvolvimento sustentável. História de vida.
número 4
APRESENTAÇÃO
BATAGLIA, WALTER
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES RELEVANTES PARA UM CHEFE DE UNIDADE DESCENTRALIZADA DE PERÍCIA DA POLÍCIA FEDERAL
GLORIA JUNIOR, ODAIR DE SOUZA; ZOUAIN, DEBORAH MORAES; ALMEIDA, GUSTAVO DE OLIVEIRA
RESUMO
Esta pesquisa teve por objetivo descrever as competências técnicas e habilidades necessárias para um perito criminal federal no exercício da função de chefe de unidade de perícia da Polícia Federal, especificamente nos setores técnico-científicos (Setecs) e nas unidades técnico-científicas (Utecs), segundo a teoria de competências e habilidades. A releitura desses fundamentos, incluindo habilidades sociais nesse escopo, fortaleceu o embasamento teórico para análise dos resultados da etapa empírica desta pesquisa. Essa postura pode contribuir, na prática, para a construção de uma política de gestão de pessoas, baseada em competências, alinhada com o planejamento estratégico em desenvolvimento na organização, otimizando a designação para os cargos de liderança, sobretudo na área de criminalística, considerando as especificidades da área de atuação. Foi aplicado um questionário com dez questões sobre a atuação profissional e informações sociodemográficas, além de um inventário em que os respondentes indicavam a importância e o grau de domínio de uma série de competências selecionadas por meio de análise da literatura. Após a devida aprovação, o questionário foi enviado para todos os 53 chefes de unidades de perícia da Polícia Federal. Os resultados indicam diferenças no que tange ao domínio de competências entre os chefes da Utec, mais jovens e com menor tempo de experiência, e o grupo de chefes do Setec, com maior tempo de atuação na perícia e também em gestão. Os resultados ainda permitiram destacar algumas competências técnicas e habilidades mais relevantes que deverão ser desenvolvidas para e pelos peritos que exercem a função de chefia em unidade de perícia da Polícia Federal ou aspiram a ela. Os resultados permitiram também uma melhor compreensão das relações entre competências e habilidades, e, na prática, auxiliaram a esclarecer o panorama de avanços e limitações na gestão atual. Conclui-se, pois, que o governo federal promoveu avanços na política de recursos humanos do serviço público, no entanto a implementação de um sistema moderno de gestão de pessoas ainda não foi consolidado no Departamento de Polícia Federal. Isso fica evidenciado pela carência de competências primordiais para que os chefes exerçam com excelência a função de gestores de unidades de perícia técnica.
Palavras-chave: Competências. Habilidades. Cargos de liderança. Perícia. Polícia Federal do Brasil.
CUSTO DE LIQUIDEZ DO CONTRATO FUTURO DE BOI GORDO DA BM & FBOVESPA
MARQUEZIN, CHARLES LUAN; MATTOS, LEONARDO BORNACKI DE
RESUMO
O custo de liquidez é uma variável que não é diretamente conhecida pelos investidores, sendo tão importante quanto os demais custos de transação envolvidos em mercados futuros. Sua relevância são os fatos de poder resultar na redução do retorno esperado pelos investidores, ocorrer perda de participantes potenciais no mercado, o preço não servir mais como papel de comunicação de informação, ser essencial para a decisão da utilização de um contrato futuro, além de ser uma variável fundamental para o custo de oportunidades de hedgers e especuladores. O propósito deste trabalho foi analisar o custo de liquidez relativo ao contrato futuro de boi gordo da BM&FBovespa, no período de setembro de 2010 a fevereiro de 2013, utilizando dados intradiários, contendo 355.311 registros de negócios efetuados. Para tanto, foram utilizados os modelos de Roll (1984), Chu, Ding e Pyun (1996), Thompson e Waller (1987) e Wang, Yau e Baptiste (1997), todos bastante discutidos na literatura internacional. Os resultados mostram que, embora as metodologias adotadas sejam diferentes, três dos quatro métodos apresentaram correlações elevadas entre eles. Os contratos analisados apresentaram custo de liquidez médio de R$ 0,13 por arroba, sendo relativamente baixo quando comparado ao volume financeiro destinado para cada contrato. Quanto aos determinantes, o tempo de maturidade teve impactos nos resultados, pois os contratos acima de 80 dias úteis até o vencimento e de até cinco dias úteis até o vencimento tiveram custo de liquidez mais elevado. Os contratos que tiveram menores números de negócios efetuados, contratos negociados e volume, foram os que tiveram maiores custo de liquidez. A contribuição deste estudo está na geração de informações fundamentais para profissionais do mercado, produtores e agentes do mercado, que tomam suas decisões em ambientes de incertezas, buscando mensurar o custo de uma variável que não é diretamente apresentada e é tão importante quanto os demais custos envolvidos no contrato futuro.
Palavras-chave: BM&FBovespa. Contrato futuro. Boi gordo. Custo de liquidez. Microestrutura de mercado.
TEMPO DEDICADO AO TRABALHO E TEMPO LIVRE: OS PROCESSOS SÓCIO-HISTÓRICOS DE CONSTRUÇÃO DO TEMPO DE TRABALHO
FARIA, JOSÉ HENRIQUE DE; RAMOS, CINTHIA LETÍCIA
RESUMO
O presente ensaio tem como propósito discutir como o tempo de trabalho ultrapassa o tempo formal da jornada de trabalho a partir das três seguintes categorias de análise: 1. tempo de trabalho socialmente necessário ou simplesmente tempo de trabalho necessário, 2. tempo dedicado ao trabalho ou tempo disponível e 3. tempo livre (que compreende o chamado “tempo socialmente supérfluo”, quando se refere ao tempo ocioso, e o “tempo socialmente disponível”, o qual é mediado pela velocidade decorrente das transformações emergentes no mundo contemporâneo). O conceito de tempo empregado neste ensaio parte de uma concepção que possibilita apreender essa categoria como construção social e histórica, e não como uma categoria abstrata arbitrária. Neste ensaio, serão tratadas as concepções de construção temporal, tempo de trabalho e tempo livre, com o propósito de entender como a fronteira do tempo de trabalho invadiu sutilmente o tempo livre do sujeito trabalhador, tornando esses tempos fluidos, tensos, urgentes e flexíveis. Tempo aprisionado não por um controle minucioso da atividade, para adaptar o corpo ao exercício do trabalho, mas por dispositivos que mobilizam o sujeito a partir de objetivos e projetos, canalizando o conjunto de suas potencialidades para fins do capital. Os argumentos desenvolvidos aqui permitem sugerir que o tempo de trabalho necessário corresponde àquele em que o trabalhador produz o equivalente ao seu próprio valor. Tempo excedente é aquele que extrapola o tempo necessário de trabalho. Dessa forma, o tempo de trabalho necessário não constitui, no sistema de capital, o tempo de trabalho ou tempo disponível de trabalho, pois este engloba igualmente o tempo necessário e o tempo excedente de trabalho.
Palavras-chave: Tempo dedicado ao trabalho. Tempo de trabalho necessário. Tempo disponível. Tempo livre. Jornada formal de trabalho.
UMA INVESTIGAÇÃO ACERCA DO FENÔMENO DO TURN-AWAY ENTRE OS PROFISSIONAIS DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
RAMOS, EDUARDO AUGUSTO DE ANDRADE; JOIA, LUIZ ANTONIO
RESUMO
Dois problemas extremos têm sido observados com alguma frequência em relação aos profissionais de tecnologia da informação (TI): o turn-over – situação em que o profissional de TI muda de emprego, mas ainda se mantém na mesma área – e o turn-away – situação em que o profissional de TI abandona essa área, assumindo posição em outra área distinta da empresa ou fora dela, muitas vezes evoluindo para uma posição gerencial. O objetivo deste artigo é, portanto, estudar o problema do turn-away. Sobre tal problema, há pouca literatura tanto no Brasil como no exterior. Assim, o objetivo principal deste trabalho é entender como e por que os profissionais de TI mudam de área, de modo a identificar características típicas da transição dessa área para outras. Para tal, com base em referencial teórico sobre avanço de carreira, hipóteses de pesquisa foram geradas para serem analisadas pelos pesquisadores. Um estudo de caso múltiplo com várias unidades de análise foi adotado em duas empresas de grande porte, uma atuando na área de serviços de TI e outra na área de energia. Entrevistas foram conduzidas, entre maio e julho de 2010, com profissionais de TI que haviam migrado para outras áreas dentro das respectivas empresas, os quais foram considerados as unidades de análise dos estudos de caso. Os resultados obtidos evidenciaram que os profissionais de TI precisam de mais oportunidades de crescimento do que as empresas são capazes de oferecer ou do que é possível oferecer dentro da área técnica. Além disso, para as organizações, a pesquisa evidencia também que o desejo dos profissionais de TI de mudar de área não está tanto ligado a uma insatisfação com as suas atividades, mas sim à busca por atividades interessantes e diferentes e por novos desafios e experiências. Dessa forma, empresas interessadas em reter esses profissionais de TI devem proporcionar-lhes esses tipos de oportunidade.
Palavras-chave: Profissionais de tecnologia da informação. Turn-away. Carreira técnica. Carreira gerencial. Transição de carreira.
A PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS ENTRE 2001 E 2010
MENESES, PEDRO PAULO MURCE; COELHO JUNIOR, FRANCISCO ANTÔNIO; FERREIRA, RODRIGO REZENDE; PASCHOAL, TATIANE; SILVA FILHO, ANTÔNIO ISIDRO DA
RESUMO
Em 1990, conforme revisão de literatura empreendida na área de gestão de recursos humanos, prevaleciam os estudos de caso como método de pesquisa. Desde então, a exemplo da gestão por competências, novos modelos, sistemas e tecnologias passaram a integrar o rol de prescrições da área. Considerando que o estudo de caso tem reduzido potencial de validade externa, questiona-se até que ponto, mantida a tradição metodológica das pesquisas notada na referida década, há suporte empírico para toda a sorte de normativos que imperam nas vias profissionais, e mesmo acadêmicas, da área de gestão de pessoas. É nesse sentido que o presente estudo caracteriza a produção nacional sobre a gestão de pessoas, entre 2001 e 2010, veiculada em todos os 121 periódicos nacionais, das áreas de administração, ciências contábeis e turismo, classificados entre A1 e B4 pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e cujas linhas editoriais abarcavam temáticas relacionadas direta e indiretamente com o foco proposto. Com a utilização de filtros arbitrados por 18 juízes especialmente treinados para a tarefa, foram analisados 197 artigos cujas temáticas centrais versavam sobre modelos, sistemas, tecnologias e políticas e práticas de recursos humanos. Os resultados evidenciaram um campo marcado por estudos teórico–empíricos que descrevem facetas da gestão de funções de recursos humanos, sobretudo a da avaliação, a partir da percepção de públicos diversos amostrados de modo não probabilístico em uma organização por vez, cujo acesso transversal se deu por levantamentos de opinião e estudos de casos operados por questionários e entrevistas que resultaram no uso prevalente de técnicas estatísticas e de análise de conteúdo. Assim, considera-se que o conhecimento acumulado não permite as devidas generalizações que recorrentemente se constatam nas obras técnico-científicas da área. Observações sobre a metodologia empregada na maioria dos estudos, sobretudo no que se refere ao método de pesquisa e aos procedimentos de amostragem escolhidos, revelam que a produção da área mais serve ao propósito de descrever, ou mesmo explicar, a dinâmica dos temas pesquisados no lócus em que foram aplicados do que gerar ideais normativos.
Palavras-chave: Gestão de pessoas. Políticas e práticas de gestão de pessoas. Gestão de recursos humanos. Administração de recursos humanos. Administração de pessoal.
FUNDOS MULTIMERCADOS: DESEMPENHO, DETERMINANTES DO DESEMPENHO E EFEITO MODERADOR
MALAQUIAS, RODRIGO FERNANDES; EID JUNIOR, WILLIAM
RESUMO
O principal objetivo deste trabalho foi analisar o desempenho dos fundos multimercados brasileiros com uma medida alternativa, relacionada ao trabalho de Amin e Kat (2003). Essa medida pode ser considerada como uma alternativa não paramétrica para avaliar a performance de fundos de investimento, especialmente aqueles que têm retornos com distribuição de frequência diferente da normal. Para garantir maior confiabilidade à estimativa da performance dos fundos, foram criados intervalos de confiança para a medida de Amin e Kat (2003) por meio da técnica de bootstrap, o que pode ser considerado uma contribuição metodológica para novas pesquisas a serem desenvolvidas na área. Com dados de 107 fundos, no período de janeiro a agosto de 2011, os principais resultados do estudo mostraram que, para a performance líquida, não há evidência de geração de valor extraordinário pelos fundos, o que é coerente com a hipótese de eficiência de mercado. Já para a performance bruta, ou seja, a performance antes de serem deduzidas as taxas de administração e performance, há indícios de valor extraordinário agregado em cenários econômicos fora de fortes evidências de restrições financeiras. Em outras palavras, a gestão ativa, no Brasil, pode até agregar valor extraordinário, contudo, em linha com Jensen (1978), Fama (1991) e Castro e Minardi (2009), os custos necessários para a obtenção desse retorno comprometem-no, e, com isso, a rentabilidade líquida percebida pelos cotistas fica prejudicada. No estudo, também se evidenciou que períodos de crise impactaram significativamente a performance dos fundos da amostra e moderaram a relação entre a performance e seus determinantes, o que é uma das principais contribuições do trabalho. Esses achados podem significar importantes contribuições para estudos sobre fundos de investimentos, uma vez que resultados similares para o efeito moderador não foram identificados em trabalhos anteriores.
Palavras-chave: Crise. Conflitos de agência. Eficiência de mercado. Bootstrap. Performance bruta.
EFEITO MOMENTUM NO CURTO PRAZO: VALE A PENA COMPRAR AÇÕES VENCEDORAS NO BRASIL?
SILVA NETO, ODILON SATURNINO; SILVA, VALÉRIA LOUISE DE ARAÚJO MARANHÃO SATURNINO; RABONI, PIERRE LUCENA; OLIVEIRA, MARCOS ROBERTO GOIS DE
RESUMO
Este artigo teve como objetivo básico verificar possível persistência dos resultados de retorno das ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) no curto prazo, sob a hipótese de que ações vencedoras continuam vencendo e perdedoras tendem a manter seus retornos abaixo da média do mercado em um período de seis meses, em uma estratégia baseada no efeito momentum. Essa suposição foi feita com base no comportamento impulsivo dos investidores diante de ações com alta liquidez, está calculada pelo volume em dinheiro e supondo que se trate de uma variável relevante para uma manutenção dos bons resultados de retorno em curtos períodos. Para analisar essa estratégia, formaram-se nove carteiras de ações classificadas por volume nas categorias alto, médio e baixo, e cada uma delas foi subdividida em grupos de vencedoras, médias e perdedoras de acordo com o retorno médio mensal. A formação correspondeu a um período semestral, de outubro de 1994 a março de 2011, e as ações foram classificadas de acordo com as carteiras estabelecidas por volume em dinheiro e pelo retorno médio acumulado. Na análise do comportamento dessas ações nos seis meses posteriores (de abril de 1995 a setembro de 2011), avaliou-se a hipótese de que aquelas com retornos maiores no passado recente continuam proporcionando bons resultados no curto prazo, especialmente em seis meses de formação e análise semestral posterior. Constatou-se, por meio de uma análise de séries temporais, que foi recomendável a manutenção de ações com baixo volume em carteira por, no mínimo, três meses. Os dados em corte transversal levaram a uma versão multifatorial do modelo CAPM que consistiu na incorporação das defasagens dos retornos e do logaritmo natural do volume, sendo posteriormente rodada a regressão com dados em painel. Os resultados corroboraram que ações vencedoras com baixa liquidez e de volume intermediário se apresentaram como as melhores opções de investimentos no Brasil.
Palavras-chave: Efeito momentum. Liquidez. Modelo multifatorial. Modelos Arima. Análise de regressão.
RISCOS E INCERTEZAS NA DECISÃO DE INOVAR DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS
SILVA, GLESSIA; DACORSO, ANTÔNIO LUIZ ROCHA
RESUMO
A decisão de inovar envolve riscos e incertezas e está entre as difíceis decisões que as empresas precisam tomar em sua trajetória de evolução organizacional. Nesse contexto, as micro e pequenas empresas (MPEs), por deterem limitações financeiras e de sua própria estrutura, frequentemente se veem restringidas em suas ações e se tornam organizações pouco inovadoras. Diante disso, uma das alternativas que se apresentam a essas empresas é o modelo de inovação aberta, pautado na utilização do conhecimento externo como forma de agregar valor à organização, uma vez que o aprendizado e a interação mútua entre uma empresa e seus diversos agentes, propiciados pelo modelo, permitem compartilhar riscos e incertezas e podem conferir as competências necessárias para inovar de maneira dinâmica e contínua. Neste artigo, pretende-se analisar como o uso do modelo de inovação aberta por parte de MPEs pode reduzir os riscos e as incertezas presentes na decisão de inovar, com base na análise dos fatores de risco de Hammond, Keeney e Raiffa (1999) para verificar as incertezas, os resultados, as chances de ocorrência e consequências da decisão tomada. Trata-se de um estudo qualitativo, de caráter exploratório, com uso de entrevistas semiestruturadas e análise bibliográfica. Os resultados apontam que as MPEs, ao passarem por momentos críticos em seu desempenho organizacional, buscam na inovação uma alternativa de sobrevivência ante os novos parâmetros que lhes são impostos. Entretanto, essas empresas apresentam como incertezas associadas à decisão de inovar a falta de know-how e a insuficiência de capital para arcar com o custo da inovação. No intuito de reduzir essas incertezas, buscam, nas fontes externas de conhecimento, o suporte financeiro, tecnológico, de mercado e competitivo que lhes permita inovar e alcançar vantagens competitivas sustentáveis, tendo como resultados desse formato de inovação a superação de suas incertezas, o lançamento de inovações de produto, serviço e processo, a melhoria de seu potencial competitivo e a formação de um processo de inovação. Dessa forma, pode-se afirmar que o uso do modelo de inovação aberta não só reduz os riscos e as incertezas relacionados à inovação, mas também contribui para que essas organizações inovem e melhorem seu desempenho organizacional.
Palavras-chave: Riscos e incertezas. Fatores de risco de Hammond, Keeney e Raiffa (1999). Tomada de decisão. Inovação aberta. Micro e pequenas empresas.
número 5
APRESENTAÇÃO
POPADIUK, SILVIO
SILÊNCIO NAS ORGANIZAÇÕES: UMA REVISÃO E DISCUSSÃO DA LITERATURA
MOURA-PAULA, MARCOS JÚNIOR DE
RESUMO
O objetivo deste trabalho é apresentar como o silêncio tem sido estudado por pesquisadores de gestão ou áreas afins (como psicologia ou comunicação organizacionais). Ignorado por longo tempo, o silêncio emerge como uma área frutífera de pesquisa devido a diversas consequências que ele pode causar para os empregados (estresse, angústia, baixa autoestima e dissonância cognitiva), para as organizações (absenteísmo, maior rotatividade, baixa produtividade) e para a sociedade (não denúncia de ilegalidades cometidas pelas organizações). Faz-se um levantamento bibliográfico com base na divisão em três ondas de pesquisa sobre a evolução dos estudos de voz e silêncio nas organizações baseado em Brinsfield, Edwards e Greenberg (2009), com foco no silêncio. Da primeira onda (1970-1980) são apresentados: o conceito de voz e a subsunção do silêncio ao conceito de lealdade; as “espirais de silêncio” e o “efeito mudo” (MUM effect). Da segunda onda (1980-2000): a “denúncia de irregularidades organizacionais” (whistleblowing); a “discordância organizacional baseada em princípios” (principled organizational dissent); a justiça organizacional; a “promoção de questões” (issue selling); a cidadania organizacional; o ostracismo social e a “síndrome do surdo” (deaf-ear syndrome). Da terceira onda (2000 em diante): o silêncio organizacional; o silêncio dos empregados; retirada do trabalho (job withdrawal); aprendizagem organizacional e transferência de conhecimento. Observou-se que as pesquisas, principalmente no caso da terceira onda, têm evoluído de pesquisas conceituais e qualitativas para pesquisas quantitativas, havendo questionamentos de alguns pesquisadores sobre a necessidade de se utilizar outras abordagens teórico-metodológicas além das de inspiração positivista. A pesquisa brasileira sobre silêncio, apesar do pequeno volume, contribui para a compreensão do fenômeno na medida em que se insere na agenda atual, buscando fazer pontes entre o conhecimento obtido no exterior e sua relação com a cultura local (caso do whistleblowing), questionando a unilateralidade das pesquisas em determinado tema (caso do silêncio organizacional) ou buscando entender o silêncio também como espaço de compreensão e aprendizagem. Por fim, sugere-se que sejam feitos estudos sobre silêncio que compreendam outras línguas latinas, como também que as pesquisas brasileiras futuras levem em consideração a cultura e características locais, considerando ainda outras abordagens teórico–metodológicas para a compreensão do fenômeno.
Palavras-chave: Levantamento bibliográfico. Comportamento organizacional. Estudos organizacionais. Voz. Silêncio.
DESENHO TAMBÉM É COISA SÉRIA: DESVELANDO O “FUNCIONÁRIO PADRÃO” DA SOCIEDADE CAPITALISTA MODERNA NO DESENHO ANIMADO BOB ESPONJA CALÇA QUADRADA
PAULA, ALESSANDRO VINICIUS DE; PINTO, LAUISA BARBOSA; LOBATO, CHRISTIANE BATISTA DE PAULO; MAFRA, FLÁVIA LUCIANA NAVES
RESUMO
Considerando-se as configurações do mundo do trabalho na sociedade capitalista moderna, incluindo sua centralidade na vida do indivíduo como base da formação identitária dos seres humanos, adotou-se uma abordagem qualitativa para desenvolver um estudo observacional de um ambiente social fictício na animação infantil Bob Esponja Calça Quadrada, desvelando como ela pode representar um “modelo ideal/padrão do bom trabalhador” apresentado para o público infanto-juvenil. Os quatro episódios aqui analisados servem de pano de fundo para uma reflexão sobre os relacionamentos organizacionais e as dualidades/contrastes (prazer e sofrimento) de percepções e subjetividades presentes nesse contexto. Observa-se, nos episódios analisados, uma dicotomia entre o “bom e o mau trabalhador”. Os episódios retratam o antagonismo na relação com o trabalho do personagem protagonista Bob Esponja (que estabelece uma relação subjetiva positiva e prazerosa com sua atividade de trabalho, mas também alienada) e seu antagonista, Lula Molusco (que representa a esfera do sofrimento e da penosidade no trabalho). Os quatro episódios selecionados apresentam elementos essenciais para a compreensão da importância que o trabalho representa na vida dos indivíduos e como se dá essa dinâmica no atual modelo capitalista contemporâneo, pautado no gerencialismo, que valoriza o alto desempenho e transforma o indivíduo em capital que deve ser produtivo a qualquer custo.
Palavras-chave: Identidade. Trabalho e subjetividade. Ideologias do trabalho. Identidade organizacional. Estudo observacional.
CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS EMPREENDEDORAS EM PROPRIETÁRIOS DE MPES LONGEVAS DO VALE DO MUCURI E JEQUITINHONHA/MG
OLIVEIRA, JOSÉ ROBERTO CAJAÍBA DE; SILVA, WENDEL ALEX CASTRO; ARAÚJO, ELISSON ALBERTO TAVARES
RESUMO
As micro e pequenas empresas (MPEs) exercem papel importante para a promoção social, lastro de estabilidade política e força propulsora de desenvolvimento, e destacam-se na geração de empregos e distribuição de renda de um país, logo, deve-se estimular a continuidade dessas empresas. Por essa razão, mostra-se importante conhecer os aspectos que auxiliariam em tal continuidade. A existência de características comportamentais empreendedoras nos proprietários de empresas seria um facilitador da longevidade empresarial. Entretanto, são incipientes trabalhos que revelam a presença dessas características em proprietários de MPEs. Portanto, este artigo teve por objetivo central identificar se a presença de características comportamentais (CCEs) nos proprietários de MPEs do Vale do Mucuri e Jequitinhonha/MG é determinante para a longevidade dessas empresas. O estudo é empírico-descritivo, em que se utilizou questionário estruturado na coleta de dados, obtendo-se o retorno de 283 respondentes, sendo analisados por meio de estatísticas descritivas e análise discriminante. A amostra foi segmentada em três grupos de empreendedores categorizados pela longevidade das empresas, para aferir uma possível diferença quanto à presença das características, de acordo com a idade das empresas. Constatou-se que as únicas características que divergiram na discriminação dos três grupos de longevidade foram “Ser independente/autoconfiança” e “Relacionamento pessoal e liderança”. Conclui–se que, a partir da percepção dos empreendedores, a presença da maioria das CCEs não estaria diretamente associada à longevidade das empresas, entretanto, pode colaborar para a longevidade das empresas, caso sejam refletidas nas ações dos seus proprietários. Logo, esta pesquisa fortaleceu os resultados de Petry e Nascimento (2009), uma vez que, tanto aqueles achados quanto as constatações pertinentes às empresas da mesorregião, se alinharam ao retratar que, mesmo as CCEs sendo sugeridas pela teoria como elementos bastante associados à longevidade, esse efeito não foi confirmado pelos testes empíricos. Ainda assim, os gestores devem cultivá-las, pois a literatura sugere que podem contribuir para o aperfeiçoamento das empresas.
Palavras-chave: Empreendedorismo. Características empreendedoras. Longevidade empresarial. Micro e pequenas empresas. Análise discriminante.
CONFORMIDADE DO DISCLOSURE OBRIGATÓRIO DOS ATIVOS INTANGÍVEIS E PRÁTICAS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA
MOURA, GEOVANNE DIAS DE; VARELA, PATRÍCIA SIQUEIRA; BEUREN, ILSE MARIA
RESUMO
O estudo objetiva verificar se empresas com maiores proporções de ativos intangíveis no ativo total e melhores práticas de governança corporativa apresentam maior conformidade com o disclosure obrigatório de tais ativos. Pesquisa descritiva, com abordagem quantitativa, foi conduzida por meio de análise documental em uma amostra de 260 empresas de seis setores econômicos da BM&FBovespa. Para cada empresa calculou-se o percentual dos ativos intangíveis em relação ao ativo total. O índice de governança corporativa foi pautado no estudo de Leal e Carvalhal-da-Silva (2007) e o índice de conformidade das informações divulgadas sobre ativos intangíveis foi baseado no CPC 04. Os resultados revelaram representatividade dos intangíveis, que de maneira geral equivalem a 17% do ativo total, mas algumas empresas, principalmente aquelas de setores com maiores proporções, possuem índices mais expressivos. Na qualidade das práticas de governança encontrou-se um índice médio de 55% e no nível de evidenciação de informações sobre intangíveis, um índice médio de 75%. A correlação de Pearson mostrou-se positiva e significativa estatisticamente, corroborando o descrito no objetivo do estudo. Assim, conclui-se que entre empresas de diferentes setores da BM&FBovespa, aquelas com maiores proporções de ativos intangíveis no ativo total e melhores práticas de governança corporativa apresentam maior conformidade com o disclosure obrigatório de tais ativos.
Palavras-chave: Disclosure obrigatório. Ativos intangíveis. Ativo total. Melhores práticas. Governança corporativa.
CONVERSÃO DE VEÍCULOS FLEX PARA O GÁS NATURAL: PROBLEMA DE ESCASSEZ E CONTRIBUIÇÃO À SUSTENTABILIDADE
BASTOS, SÉRGIO AUGUSTO PEREIRA; FORTUNATO, GRAZIELA
RESUMO
Dentre as fontes de energia menos poluentes tem-se o gás natural veicular (GNV). Seu uso como fonte de energia no setor de transportes vem crescendo – há projeções de expansão de consumo na ordem de 52% em âmbito mundial entre 2008 e 2035 – e representa uma alternativa para redução do dano ambiental decorrente do uso crescente de fontes energéticas poluentes. Considerando o contexto social, político e econômico, ações sustentáveis são esperadas por parte dos indivíduos e das empresas. Com isso, este estudo objetiva valorar a opção da conversão de veículos leves flex para o gás natural veicular (GNV) tendo a contribuição para a sustentabilidade como principal motivador. A metodologia de opções reais e a simulação de Monte Carlo foram empregadas para modelar a opção europeia, já que a decisão de abastecer com GNV, gasolina ou etanol, a cada período, é totalmente independente da decisão dos períodos anteriores, de acordo com Bastian-Pinto, Brandão e Alves (2010), admitindo a capilaridade dos postos de gasolina como um fator adicional de incerteza. Assim, é calculado o valor da flexibilidade obtida pela conversão, considerando incertezas quanto à evolução dos preços dos combustíveis e à escassez do GNV devido a pouca capilaridade de postos com oferta deste combustível. Os resultados mostram que para uma escassez de 25% – aproximadamente a parcela dos postos do estado do Rio de Janeiro em que há oferta de GNV – é requerido um mínimo de 1.200 quilômetros de distância percorrida por mês para que o valor da opção seja positivo. Além disso, o valor da opção pode chegar a 416,8% de retorno sobre o custo da conversão, ou 31% do valor do veículo, mesmo desconsiderando eventual benefício fiscal dado a esse combustível pelas normas brasileiras. Os resultados evidenciam também que existe ganho incorporado à opção analisada, relacionado à sustentabilidade, dado que o GNV é um tipo de energia mais limpa.
Palavras-chave: Gás natural veicular. Escassez de combustível. Opções reais. Sustentabilidade. Conversão de combustível.
BANCOS VERSUS COOPERATIVAS DE CRÉDITO: UM ESTUDO DOS ÍNDICES DE EFICIÊNCIA E RECEITA DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ENTRE 2002 E 2012
MATIAS, ALBERTO BORGES; QUAGLIO, GISLAINE DE MIRANDA; LIMA, JOÃO PAULO RESENDE DE; MAGNANI, VINÍCIUS MEDEIROS
RESUMO
O presente estudo apresenta caráter descritivo e visa analisar o índice de eficiência e a evolução das receitas de prestação de serviços das cooperativas de crédito em comparação às instituições bancárias privadas e públicas. Segundo dados do Banco Central do Brasil, a relação PIB/crédito situou-se em 55,5% no ano de 2012, entretanto, ainda não se compara a países desenvolvidos, que atinge patamares acima de 100%. A amostra consiste nas maiores instituições bancárias e cooperativistas selecionadas de acordo com o critério “ativo total”, totalizando uma média de 69,31% para as instituições bancárias e 61,33% para as cooperativas de crédito. Para análise das variáveis foram empregados índices de eficiência, análise vertical e horizontal das receitas de prestação de serviço no período entre 2002 e 2012. O índice de eficiência é um importante indicador, pois relaciona os insumos aplicados na produção e os produtos obtidos nesse processo. A análise das rendas com prestação de serviços é significativa, pois tem se mostrado cada vez mais relevante no desempenho financeiro das instituições financeiras. Os resultados obtidos demonstraram que os índices de eficiência dos bancos privados apresentaram os maiores níveis entre os segmentos analisados, seguidos pelos bancos públicos e, por fim, pelas cooperativas de crédito. A predominância dos bancos privados não foi abalada nos anos de crise, ao contrário dos bancos públicos, que foram ultrapassados pelo segmento cooperativista de crédito nos anos de 2008-2009 e 2012. Diante das contas que formam o índice, constatou-se que, até 2006, o comprometimento do RBIF com as despesas estruturais nas cooperativas foi semelhante ao verificado nos bancos públicos, porém maior do que o dos bancos privados. Tal comportamento se diferenciou entre os anos de 2007-2010 e 2012, quando esse indicador apresentou queda significativa no segmento cooperativista. Por fim, nas evoluções horizontal e vertical verificou-se que, apesar do crescimento significativo registrado pelas cooperativas de crédito e da convergência no grau de participação entre os segmentos, a participação das receitas de prestação de serviço ainda é maior no segmento bancário do que no cooperativista de crédito. Esse fato pode representar um elemento de potencialidade a ser explorado pelas cooperativas na busca pela eficiência.
Palavras-chave: Eficiência. Bancos. Cooperativas de crédito. Receitas de prestação de serviços. Mercado de crédito.
A PRODUÇÃO CIENTÍFICA EM GESTÃO DE OPERAÇÕES NO BRASIL: UMA ANÁLISE DE TEMAS, AUTORES E INSTITUIÇÕES DE PESQUISA NO PERÍODO ENTRE 2001 E 2010
PEINADO, JURANDIR; GRAEML, ALEXANDRE REIS
RESUMO
Este artigo analisou a produção científica em gestão de operações no Brasil, procurando identificar as temáticas de maior interesse dos pesquisadores e os grupos de pesquisa mais atuantes a partir de uma amostra de 3.224 artigos publicados em 13 periódicos científicos nacionais, no período de 2001 a 2010. Além da classificação dos artigos conforme suas categorias temáticas, também se identificou a origem dos autores, que foram separados em função da área de atuação (Administração ou Engenharia de Produção) e da instituição de afiliação. De maneira geral, 18,4% de todos os 3.224 artigos publicados nas revistas analisadas se enquadram como pertinentes à área de Gestão de Operações. Os resultados apontam sensível diferença entre os percentuais referentes a revistas com origem na área de Administração, que variaram de 1,7% a 10,9%, e os relacionados às revistas com origem na área da Engenharia de Produção, cujos percentuais variaram de 57,8% a 62,4%. O tema mais abordado de Gestão de Operações foi logística e cadeia de suprimentos, com aproximadamente 20% dos trabalhos publicados. Esse tema tem merecido mais destaque nas revistas de Administração, com 35% do total de trabalhos publicados, do que nas revistas de Engenharia de Produção, em que totaliza 14% dos trabalhos publicados. Os temas operações de serviços e gestão de projetos/ desenvolvimento de produtos ocupam praticamente juntos a mesma posição, em segundo lugar entre os temas de maior interesse, tanto nas revistas de Administração como nas de Engenharia de Produção. Percebe-se também que os assuntos relacionados ao tema ergonomia e organização do trabalho são pouco abordados pelas revistas de Administração, com uma média de 2% dos trabalhos publicados. No entanto, representam 8% dos trabalhos publicados nas revistas de Engenharia de Produção. Acredita-se que a pesquisa tenha sido útil, dentre outros motivos, para que os pesquisadores consigam compreender melhor o espaço editorial que está disponível para a publicação dos seus achados de pesquisa, independentemente de terem sua origem na Administração ou na Engenharia de Produção.
Palavras-chave: Gestão de operações. Categorias temáticas. Publicação científica. Produção acadêmica. Administração da produção.
COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL E REGIME DE REMUNERAÇÃO: ESTUDO EM UMA CARREIRA PÚBLICA DE AUDITORIA FISCAL
OLIVEIRA, MARIA JOSELICE LOPES DE; CABRAL, AUGUSTO CÉZAR DE AQUINO; SANTOS, SANDRA MARIA DOS; PESSOA, MARIA NAIULA MONTEIRO; ROLDAN, VIVIANNE PEREIRA SALAS
RESUMO
No contexto da carreira de auditoria da Receita Federal, utilizou-se, por cerca de nove anos, o regime de remuneração variável, vinculado à avaliação do desempenho individual e ao alcance de metas de arrecadação. A partir de 2008, esse sistema remuneratório foi substituído pela modalidade de retribuição pecuniária por subsídio, fixado em parcela única, sem gratificações ou recompensas. O novo modelo marca o fim das metas de desempenho individual e institucional para fins remuneratórios. Dada essa realidade, a pesquisa pretende responder à seguinte questão: Que efeito a mudança do modelo de remuneração variável para remuneração por subsídio causa no comprometimento organizacional no âmbito da carreira de auditoria do fisco federal? O objetivo geral é investigar a relação do comprometimento organizacional com os modelos de remuneração variável e por subsídio. Para isso, são considerados dois momentos distintos de forma de remuneração: sob o regime de pagamento variável, vinculado ao desempenho individual e ao alcance de metas da organização, e no segundo momento sob a forma de remuneração por subsídio, sem qualquer vínculo com as metas organizacionais ou desempenho individual. A pesquisa é de natureza quantitativa e descritiva quanto aos fins, utilizando uma survey como método de coleta de dados, com 142 integrantes da carreira de auditoria da RFB lotados na 3ª Região Fiscal. A análise dos dados coletados foi realizada a partir de estatística inferencial não paramétrica, baseada, sobretudo, em testes de análise univariada de variância. Os resultados indicam um elevado grau de comprometimento organizacional por parte dos pesquisados, ausência de efeito sobre esse comprometimento com a mudança no regime de remuneração que a categoria atravessou e revelam que auditores e analistas possuem preferência pelo modelo fixo de remuneração. Verificou-se, ainda, uma percepção de alteração negativa no trabalho com a mudança na remuneração, indicando, para estudos futuros, a análise de como as variáveis de resistência organizacional intermediam a mudança em sistemas de remuneração.
Palavras-chave: Comprometimento organizacional. Regime de remuneração. Carreira pública. Remuneração variável. Remuneração por subsídio.
ERRATA
número 6 - Edição Especial Estudos Organizacionais Brasileiros: As Melhores Produções Científicas do EnEO 2014
APRESENTAÇÃO
POPADIUK, SILVIO
INTRODUÇÃO À EDIÇÃO ESPECIAL DAS MELHORES PRODUÇÕES CIENTÍFICAS SELECIONADAS DO ENEO 2014 SOBRE ESTUDOS ORGANIZACIONAIS BRASILEIROS
IPIRANGA, ANA SILVIA ROCHA; SOUZA, ELOISIO MOULIN DE; TEIXEIRA, MARIA LUISA MENDES
INSTITUTIONAL WORK E CONHECIMENTO EM REDES INTERORGANIZACIONAIS: UMA PROPOSTA PARA INVESTIGAR APLs
JACOMETTI, MÁRCIO; GONÇALVES, SANDRO APARECIDO; CASTRO, MARCOS DE
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo apresentar um esquema de análise de arranjos produtivos locais (APLs) pela via das perspectivas institucional e de redes para avaliar a institucionalização do modelo APL em aglomerações de empresas. Ao longo da base teórica do trabalho, é proposto um conjunto de 13 hipóteses que exploram novas relações entre os constructos utilizados na análise. Os argumentos se fundamentam em pressupostos institucionalistas e introduzem a lógica da mudança a partir do institutional work de atores imersos numa rede interorganizacional que trocam conhecimento por meio da relação social. O esquema de análise, definido como microprocedimento da institucionalização, é construído a partir da aceitação, implementação, internalização e difusão de padrões, ações sociais e conhecimentos, levando em conta a influência dos contextos institucional e relacional no nível do campo organizacional. A metodologia para tratamento empírico do modelo propõe iniciar a investigação mediante uma base qualitativa por meio da análise de conteúdo temática das fontes da pesquisa no nível do campo e pelo cruzamento desses dados no nível dos atores imersos com o uso de ferramentas quantitativas. Assim, a pesquisa caracteriza-se como estudo de caso múltiplo comparativo, em que casos individuais são estudados e comparados para manifestar características similares ou contrastantes e alcançar uma melhor compreensão do fenômeno. A utilização do modelo teórico desenvolvido poderá explicar como a institucionalização acontece numa lógica bottom-up em detrimento de uma visão determinista baseada somente no contexto institucional. O esquema de análise revela-se consistente, original e adequado para avaliar a institucionalização em APLs, bem como para testar empiricamente as hipóteses apresentadas. Essa abordagem mais centrada na agência, levando em conta as influências do contexto institucional e o caráter de sua lógica evolucionista, coaduna-se com a sociologia compreensiva weberiana e denota uma coerência com os pressupostos epistemológicos do construtivismo social, resultando na necessária utilização de vários métodos de pesquisa. Na conclusão, além de suas contribuições, o artigo apresenta uma agenda de pesquisa sobre institucionalização em APLs e outros objetos de pesquisa, e propõe o teste empírico do modelo e de outras teorias institucionalistas.
Palavras-chave: Institutional work. Conhecimento difundido. Redes interorganizacionais. Arranjos produtivos locais. Institucionalização.
A PRODUÇÃO CIENTÍFICA EM GÊNERO NO BRASIL: UM PANORAMA DOS GRUPOS DE PESQUISA DE ADMINISTRAÇÃO
ANDRADE, LUÍS FERNANDO SILVA; MACEDO, ALEX DOS SANTOS; OLIVEIRA, MARIA DE LOURDES SOUZA
RESUMO
Este artigo tem como objetivo mapear as atividades desenvolvidas pelos grupos de pesquisa sobre gênero na área de administração e procurar compreender as relações entre eles. Identidades de gênero são vistas como importantes categorias sociais para a compreensão de relações de poder e interações humanas nas organizações. Para compreender como se dão tais relações que envolvem tal tema, o aporte metodológico contempla estudos bibliométrico e sociométrico da produção em gênero de líderes de grupos de pesquisa em administração que lidam com a temática, seja em linhas de pesquisa ou em impactos e ações apresentados na descrição do grupo, apoiado por estatística descritiva para facilitar a visualização dos dados. Foram encontrados 32 grupos com tais características, em sua maioria recentes (metade deles com cinco anos de formalização), que têm, ao todo, 42 líderes, os quais produziram, como autores ou coautores, 88 artigos sobre gênero, entre janeiro de 1995 e janeiro de 2014, com concentração em periódicos A2 e B3. O estudo sociométrico revela uma rede de coautorias pouco densa, sem um ator centralizador, caracterizando reduzido número de relações de coautoria e um número reduzido de autores que apresentam publicações pautadas em gênero, o que indica que o tema não é trabalhado por esses autores ou os trabalhos desenvolvidos não são voltados para produções científicas. Também indica a importância das orientações na pós-graduação, para a difusão do tema em diferentes universidades e para a manutenção de relações de coautoria entre pesquisadores, que foram, em determinado momento, orientadores e orientandos. A relevância dos resultados encontra-se na compreensão inicial do campo, a partir dos grupos de pesquisa que constituem um elemento importante para os programas de pós-graduação e para a produção científica. Como limitações, coloca-se a análise parcial dos grupos, apenas da produção científica dos líderes, além da possibilidade de desatualização de dados presentes no Diretório dos Grupos. Apresentam-se como perspectivas de investigação futura: um estudo aprofundado da produção científica analisada por meio da sociometria, o resgate histórico da constituição dos grupos e suas relações com projetos de pesquisa e extensão, financiados por agências de fomento.
Palavras-chave: Gênero. Grupos de pesquisa em administração. Sociometria. Bibliometria. Produção científica.
DE ARTESÃO A EMPREENDEDOR: A RESSIGNIFICAÇÃO DO TRABALHO ARTESANAL COMO ESTRATÉGIA PARA A REPRODUÇÃO DE RELAÇÕES DESIGUAIS DE PODER
MARQUESAN, FÁBIO FREITAS SCHILLING; FIGUEIREDO, MARINA DANTAS DE
RESUMO
No despontar do século XXI, uma atividade tão antiga quanto o artesanato tem sido alvo de incentivos econômicos por parte do Estado e de organizações não governamentais (ONGs) que atuam no Brasil. Intervenções realizadas por organizações como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) têm por objetivo transformar a produção artesanal brasileira em uma grande geradora de emprego e renda, atrelada aos circuitos de consumo internacional e/ou à atividade turística. No exame das propostas que fundamentam intervenções desse tipo, é notório o discurso da ressignificação do artesanato e da identidade do artesão por meio do enaltecimento da ação empreendedora e da ênfase sobre a gestão e a necessidade premente de impor ao trabalho artesanal os padrões de competitividade inerentes à economia capitalista. Mas os novos empreendedores-artesãos têm, na ressignificação da sua atividade, a aparência de uma inserção social que não chega a se concretizar. Em virtude dos processos de intervenção que têm ressignificado a produção artesanal brasileira, observa-se certo prejuízo das características materiais e dos traços simbólicos que são peculiares ao artesanato, culminando com a naturalização da ideologia gerencialista como modelo para a reconfiguração do artesanato. Nesse quadro, o que ocorre de fato é a incorporação de cada vez mais pessoas no sistema-mundo que alimenta a matriz de poder capitalista moderno/colonial. E tal processo, que privilegia a empresarização do artesanato, tanto banaliza quanto reproduz a ideia de desenvolvimento como sinônimo de ampliação da capacidade de consumo. A lógica subjacente a essa ideologia está na concepção de que a proclamada liberdade que seria inerente à política neoliberal reside no potencial de consumo individual. A comoditização do artesanato fecha um ciclo que acaba por retirar autonomia do artesão, afasta-o de uma perspectiva emancipatória e reproduz uma situação de dependência em que não há perspectivas de transformação. “Inclusão social”, no caso em apreciação, é um eufemismo para a incorporação de novos consumidores no mercado de massa.
Palavras-chave: Artesanato. Consumo. Empresarização. Empreendedorismo. Desigualdade.
ALBERTO GUERREIRO RAMOS: CONTRIBUIÇÕES DA REDUÇÃO SOCIOLÓGICA PARA O CAMPO CIENTÍFICO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL
CAPELARI, MAURO GUILHERME MAIDANA; AFONSO, YEDDA BEATRIZ GOMES DE ALMEIDA DYSMAN DA CRUZ SEIXAS SINGER; GONÇALVES, ANDRÉA DE OLIVEIRA
RESUMO
O ensaio teórico apresenta a proposta de Alberto Guerreiro Ramos sobre redução sociológica, na dimensão de método histórico e atitude parentética, como sugestão de tema aos estudos sobre o campo científico da administração pública no Brasil. Procuramos dialogar com duas questões: “De que modo podemos desenvolver um entendimento mais sistemático da administração pública nacional?” e “O que precisamos (re)conhecer para que o campo da administração pública nacional seja mais responsivo, correspondendo melhor aos anseios públicos locais?”. Seguindo Guerreiro Ramos, sugerimos que o campo estudado lance mão do uso metodológico da história e da ação parentético-substantiva. O primeiro diz respeito à assimilação crítica da produção intelectual estrangeira que permitiria a uma comunidade não se servir exclusivamente de experiências de outras comunidades na realização de seu projeto histórico. O segundo está relacionado com um posicionamento lúcido e ativo dos seres humanos em relação aos fatores que os condicionam, permitindo um ajustamento ativo deles na sociedade e, sobretudo, nas organizações econômicas. Eis as sugestões propostas por este trabalho: reavivar a necessidade de os pesquisadores brasileiros utilizarem conhecimento e produções científicas estrangeiras de maneira subsidiária, uma vez que há intenção primeira de atender às necessidades de uma realidade que, em muitos pontos, se apresenta de modo distinto das realidades em que as teorias/modelos surgiram; e fomentar a visão parentético-substantiva dos indivíduos para a construção de modelos de organização que, embora não excluam, façam com que modelos econômicos organizacionais dividam espaços com modelos mais voltados a garantir qualidade de vida, autorrealização, interação social primária, satisfações sociais e participação na produção de bens públicos.
Palavra-chave: Guerreiro Ramos. Redução sociológica. Campo científico. Administração pública. Brasil.
MITOS FUNDADORES, TRADIÇÕES INVENTADAS E SENTIDOS DE CIDADE: UMA INCURSÃO PELA VELHA E NOVA CATAGUASES-MG
XAVIER, WESCLEY SILVA
RESUMO
Este trabalho propõe uma incursão histórica na formação de Cataguases-MG, a fim de compreender como os mitos fundadores e as tradições inventadas imputam sentidos a cidades, objeto cada vez mais presente dentro dos estudos organizacionais. As tradições inventadas e os mitos fundadores constituem um elo indestrutível na medida em que as tradições representam um passado que deve ser preservado como forma de recobrar mudanças significativas na sociedade. Essas tradições demandam necessariamente formas de serem reconhecidas como novo status e se apoiam nos aparatos legal, político, cultural e econômico, sendo mais fortes quando mais coesas e institucionalmente amparadas forem. A construção do trabalho se deu a partir da consulta a acervos públicos municipais e nacionais datados a partir de 1906, bem como da análise de obras reconhecidas como biografias oficiais sobre a cidade. Os dados foram tratados a partir de uma análise marxista do discurso, de forma que este se configure um elemento ideológico de uma superestrutura que mantém relação dialética com a base, com as questões da vida social. Os achados conduzem à existência de três núcleos de mitos fundadores, ligados ao desbravamento, à fundação do município e à vocação econômica e cultural da cidade. A transição entre estes dois últimos mitos fundadores é central neste trabalho, pois diz respeito a uma batalha entre representantes da oligarquia agrária e das indústrias. É nessa transição que se desvelam as tradições inventadas, na medida em que a vocação modernista demarca a passagem de cidade conservadora para a cidade progressista. A tradição modernista imposta à cidade é decorrência de uma disputa pelo controle político da cidade da qual um dos grupos participantes era formado por industriais. Assim, o capital vê na arquitetura moderna não apenas a possibilidade de assumir o controle político, como também de demarcar a fundação de uma nova cidade, distinta daquela herdada de uma economia cafeeira gerida por velhas oligarquias.
Palavras-chave: Mitos fundadores. Tradições inventadas. Sentidos de cidades. Materialismo. Marxismo.
A TEORIA DO DISCURSO DO CARNAVAL MULTICULTURAL DO RECIFE: UMA ANÁLISE DA FESTA CARNAVALESCA DE RECIFE À LUZ DA TEORIA DE LACLAU E MOUFFE
GAIÃO, BRUNNO FERNANDES DA SILVA; LEÃO, ANDRÉ LUIZ MARANHÃO DE SOUZA; MELLO, SÉRGIO CARVALHO BENÍCIO DE
RESUMO
Tendo em vista a importância da festa de Carnaval para a cidade do Recife, é natural que o evento envolva uma pluralidade de vozes presentes na construção dos significados relacionada à festa. Nesse sentido, optamos por recorrer à teoria do discurso de Laclau e Mouffe – que trata das articulações discursivas de diferentes agentes em torno de significados na construção de um discurso – na tentativa de buscar resposta ao seguinte questionamento: “Como se formou o discurso do Carnaval Multicultural do Recife?”. À procura por caminhos metodológicos coerentes com nossa pesquisa e com as escolhas teóricas que estabelecemos, assumimos uma abordagem crítica, de corrente pós-estruturalista e matriz pós-marxista, adotando uma estratégia de pesquisa qualitativa. A construção de nosso corpus de pesquisa se deu por meio de duas etapas distintas. Primeiramente, por meio de leituras preliminares, identificamos os diferentes grupos relevantes que estabelecem algum envolvimento com o Carnaval Multicultural do Recife. Em seguida, elaborou-se o corpus, composto por meio de pesquisa documental, a fim de acessar as fontes discursivas objeto do nosso estudo. No que compete à análise dos dados, recorremos à análise de discurso de vertente francesa em articulação com a teoria do discurso de Laclau e Mouffe. Os discursos contrários ao formato atual da festa demonstram não ter força articulatória suficiente para fazer frente a todas as posições discursivas que se articulam em favor do Carnaval do Recife. Essa cadeia de equivalência favorável parece articulada o bastante para atribuir sentido ao significante vazio “Carnaval Multicultural do Recife”, que aponta para a diversidade cultural como ponto nodal que propicia ao discurso oficial definido pelo governo municipal ocupar o espaço de hegemonia em torno desse discurso. A festa surge como um espaço de diversidade e pluralidade cultural, fonte de oportunidade econômica para diversos agentes. Por fim, apontamos como limitação deste estudo o fato de termos focado a análise na esfera das políticas públicas, do Estado, não acessando a dimensão do capital privado como agente influenciador da configuração da festa. Nesse sentido, apontamos como possibilidade de estudo a ser desenvolvido em oportunidades futuras uma análise do Carnaval Multicultural do Recife a partir da perspectiva das organizações privadas envolvidas com a realização da festa.
Palavras-chave: Carnaval. Recife. Teoria do discurso. Laclau e Mouffe. Política.
JUSTIÇA ORGANIZACIONAL PERCEBIDA POR PROFESSORES DOS ENSINOS BÁSICO, TÉCNICO E TECNOLÓGICO
JESUS, RENATA GOMES DE; ROWE, DIVA ESTER OKAZAKI
RESUMO
O conceito de justiça é um fenômeno social que penetra tanto na vida social quanto na organizacional. A percepção da justiça organizacional refere-se ao modo como as decisões são tomadas na distribuição de resultados e como a justiça é percebida em relação a estes. É por meio da justiça que os empregados determinam se foram tratados de forma justa, pois essa percepção pode influenciar subsequentes atitudes e comportamentos dos indivíduos, como comprometimento, confiança, desempenho, rotatividade e agressão. Rego (2001) considera que alguns profissionais, como os professores, têm uma percepção distinta no que tange à dimensão distributiva da justiça organizacional e desenvolveu a escala de percepções de justiça dos professores do ensino superior, com cinco dimensões: distributiva de tarefas, distributiva de recompensas, procedimental, interpessoal e informacional. Para possibilitar sua aplicação no contexto brasileiro, este artigo teve como objetivo adaptar e validar a escala, já que ela foi desenvolvida e validada em Portugal, e analisar como os professores percebem a justiça organizacional em um instituto federal de educação, ciência e tecnologia. A escala passou por processo de adaptação transcultural como sugerido por Guillemin, Bombardier e Beaton (1993) e Beaton, Bombardier, Guillemin e Ferraz (2000). A versão adaptada do instrumento foi disponibilizada para 1.191 professores, dos quais 415 responderam ao questionário. A amostra foi submetida à análise fatorial exploratória que não confirmou a estrutura proposta pelo modelo, mas garantiu a validade de construto, reduzindo os cinco fatores a quatro. A amostra foi então submetida à análise fatorial confirmatória na qual todos os índices de ajuste apresentaram valores satisfatórios. Os resultados revelaram que os professores têm uma percepção mais positiva da justiça organizacional em suas dimensões interacional e distributiva de tarefas e que os professores substitutos percebem mais positivamente que os professores efetivos as dimensões interacional e distributiva de recompensas. Para estudos futuros, sugere-se a aplicação da presente escala de justiça entre professores do contexto privado e em outras instituições de ensino públicas, verificando a validade da escala.
Palavras-chave: Justiça organizacional. Adaptação transcultural. Validação. Professor. Percepção de justiça.
BEM-ESTAR E SOFRIMENTO PSICOLÓGICOS PARA PROFESSORES NO BRASIL E NO CANADÁ
BOAS, ANA ALICE VILAS; MORIN, ESTELLE M.
RESUMO
Saúde mental, um importante objeto de pesquisa em psicologia e psicologia social, pode ser determinada pela relação entre bem-estar psicológico e sofrimento psíquico. Nesse contexto, buscamos entender: “Como se compara a saúde mental de professores que trabalham em universidades públicas em um país emergente como o Brasil com a saúde mental de professores que trabalham em um país desenvolvido como o Canadá?” e “Quais são as principais diferenças nos indicadores de saúde mental no domínio do trabalho?”. Este trabalho avalia o bem-estar psicológico e sofrimento psicológico para os professores que trabalham nesses dois países e testa suas diferenças. A amostra é constituída por 354 professores brasileiros e 317 professores canadenses. Os dados foram coletados por meio de um questionário on-line visando acessar os seguintes indicadores de saúde mental: ansiedade, depressão, perda de controle, afetividade geral positiva e laços emocionais. Os componentes de sofrimento psicológico e bem-estar psicológico foram comparados para analisar suas relações. Além disso, comparamos esses componentes com o indicador de equilíbrio vida-trabalho. As análises de confiabilidade demonstraram que todos os componentes testados são consistentes para avaliar a saúde mental. Há pequenas diferenças de médias entre professores brasileiros e canadenses em todos os cinco componentes da saúde mental, mas essas diferenças não são estatisticamente significativas. As diferenças de médias para equilíbrio vida-trabalho, sexo, idade e viés de conformidade são estatisticamente diferentes, embora o tamanho do efeito dessas diferenças seja pequeno. A análise de regressão linear, passo a passo, controlada pelos eventos marcantes, mostrou que a afetividade geral positiva, a ansiedade e os laços emocionais preveem 31,5% dos escores de equilíbrio vida-trabalho. Além disso, observou-se que os professores brasileiros encontram mais equilíbrio entre vida pessoal e profissional do que os seus colegas canadenses. Como promover a saúde mental é um desafio para a gestão pública, os gestores públicos e as organizações governamentais podem se beneficiar dos estudos da psicologia social para melhorar o desempenho no trabalho e a qualidade dos serviços oferecidos à sociedade, bem como ajudar os funcionários a melhorar sua vida pessoal e profissional.
Palavras-chave: Saúde mental. Viés da conformidade. Eventos marcantes. Recursos humanos. Faculdade.