número 1
APRESENTAÇÃO
WALTER BATAGLIA
SAINDO DA TRINCHEIRA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA NOVA PERSPECTIVA PARA A ANÁLISE E A DECISÃO EM SUSTENTABILIDADE
DIEGO ANTONIO BITTENCOURT MARCONATTO, MARCELO TREVISAN, EUGENIO AVILA PEDROZO, KLEITON DOUGLAS SAGGIN e VALDECIR JOSÉ ZONIN
RESUMO
O desenvolvimento sustentável está entrincheirado. Seu campo é marcado por visões e interesses conflitantes que retroalimentam a fragmentação da temática em dois principais grupos ideológicos que se opõem. Em uma trincheira, estão os biocentrados que advogam pela priorização da preservação dos recursos naturais sobre os sistemas socioeconômicos; a outra trincheira é ocupada pelos antropocentrados, movidos pelas crenças de que a natureza existe para servir ao homem e de que o crescimento dos mercados e o incremento tecnológico são suficientes para garantir a sustentabilidade. Essa contraposição dificulta a construção de uma visão conjunta para o desenvolvimento sustentável, o que resulta no avanço lento, quando não no retrocesso da busca por um maior equilíbrio entre economia, sociedade e meio ambiente, ao redor do mundo. Há então a necessidade de diminuir a distância entre ambas as posições, de forma que haja espaço para a construção de ações e políticas de um desenvolvimento sustentável realmente viável. O objetivo deste ensaio é propor uma nova perspectiva conceitual de análise e decisão sustentáveis, que permita uma maior aproximação dessas duas visões. A partir de um “mapa geral”, que localiza biocentrados e antropocentrados em campos opostos, inicia-se a construção de uma proposição de modelo conceitual analítico-decisório voltado para o problema. A perspectiva da ecologia industrial é integrada à teoria dos stakeholders e à sustentabilidade 3-D de Mauerhofer (2008), para a construção dessa proposição, concebida de forma a refletir características intrínsecas do desenvolvimento sustentável e funcionar como um circuito fechado, retroalimentado. O modelo proposto atende ao objetivo deste ensaio e é sua principal contribuição. Sugerem-se como estudos futuros: 1. o desenvolvimento operacional e a posterior aplicação desse modelo sobre os principais argumentos de biocentrados e antropocentrados, presentes nos diversos foros de discussão; e 2. a adaptação do modelo a indústrias específicas.
Palavras-chave: Desenvolvimento sustentável; Modelo analítico-decisório; Biocentrado; Antropocentrado; Ecologia industrial.
VALORES QUE MOTIVAM MULHERES DE BAIXA RENDA A COMPRAR PRODUTOS DE BELEZA
MARIANA NAZARÉ LIVRAMENTO, LUIS FERNANDO HOR-MEYLL e LUÍS ALEXANDRE GRUBITS DE PAULA PESSÔA
RESUMO
O artigo tem como objetivo identificar valores individuais que motivam mulheres de baixa renda, mesmo vivendo com severas limitações financeiras, a comprar produtos de beleza, que poderiam, à primeira vista, ser considerados itens supérfluos. O modelo de cadeia meios-fim de Gutman (1982) e os tipos de valores de Rokeach (1973) e Floch (1990) constituíram sua base conceitual. Foram conduzidas entrevistas em profundidade, empregando a técnica laddering (REYNOLD; GUTMAN, 1988), com 17 mulheres de baixa renda residentes na cidade do Rio de Janeiro. As entrevistas também foram interpretadas com o auxílio de análises de conteúdo e de discurso. Os resultados trazem evidências de que, com o uso de produtos de beleza, as consumidoras de baixa renda buscam elevar sua autoestima, constantemente abalada pelas restrições financeiras, que as coloca em permanente situação de desvantagem. Também buscam, por meio da beleza, obter respeito de classes sociais hierarquicamente superiores, já que a aparência parece ser uma maneira eficaz para diminuir sua percepção de discriminação por serem pobres. As entrevistadas mostraram-se muito conscientes de suas limitações orçamentárias para aquisição de produtos de beleza, comprando apenas o que podem pagar. A marca dos produtos selecionados para compra surgiu como fator importante em suas escolhas, não para obter status, mas como garantia da qualidade dos produtos. Este trabalho buscou ampliar o conhecimento sobre o comportamento de consumo dos grupos sociais na base da pirâmide, examinando questões ainda pouco exploradas, como valores de sua subcultura. Sob a perspectiva gerencial, esta pesquisa propõe contribuições para a gestão do composto de marketing de empresas que pretendam atuar nesse mercado.
Palavras-chave: Valores e consumo; Mulheres de baixa renda; Produtos de beleza; Consumo na base da pirâmide; Consumidor em desvantagem.
UMA ESCALA PARA MENSURAÇÃO DA IMPORTÂNCIA PERCEBIDA PELOS DOCENTES SOBRE A ABORDAGEM SOCIOAMBIENTAL NOS CURSOS DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS
CARLA VANESSA PINTO DE MACEDO, ANA AUGUSTA FERREIRA DE FREITAS e DIEGO DE SOUSA GUERRA
RESUMO
As empresas representam uma entidade de grande poder sobre a sociedade com relação à sustentabilidade. As decisões tomadas pelas organizações geram impactos significativos sobre a sociedade. Nesse sentido, torna-se importante saber qual é a importância atribuída pelos profissionais de educação a temas como gestão ambiental e sustentabilidade, principalmente em cursos de administração, já que eles são o principal veículo de formação dos futuros gestores. Essa foi a preocupação de Costa et al. (2008), quando os autores avaliaram a importância atribuída por professores para a área da gestão ambiental. O presente trabalho constitui-se uma extensão daquela pesquisa, à medida que se busca abordar conceitos sugeridos pelos autores, mas ainda não contemplados. O objetivo geral é a construção de uma escala para mensuração da importância da abordagem socioambiental nos cursos de administração de empresas na percepção dos docentes. O mapeamento dos constructos e sua forma de operacionalização foram obtidos por meio da revisão de literatura e da avaliação de pesquisadores doutores da área. Após essa primeira fase, realizou-se uma análise fatorial confirmatória, e os testes sugerem que as características psicométricas de um bom instrumento foram atingidas. A aplicação do instrumento com 100 professores mostrou que estes entendem que uma boa formação em administração necessita do envolvimento com questões socioambientais. Segundo eles, os cursos de administração não abordam de forma satisfatória a temática socioambiental, nem incentivam a abordagem desse tema dentro da sala de aula. Além disso, há uma descrença por parte desses profissionais quanto às reais preocupações das empresas com os temas sustentáveis. Embora a maioria tenha formado conceitos bem próximos do conceito mais usual para definição de sustentabilidade, os aspectos econômicos, sociais e culturais não foram citados. Finalmente, poucos indicam a forma como o conceito é tratado, ou seja, não há menções relevantes a projetos de pesquisa e/ou de intervenção organizacional.
Palavras-chave: Sustentabilidade; Abordagem socioambiental; Instrumento de mensuração; Cursos de administração; Percepção dos professores.
DETERMINANTES PARA A UTILIZAÇÃO DE PRÁTICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL ESTRATÉGICA: UM ESTUDO EMPÍRICO
LUIZ CLAUDIO MAGNAGO ANDRADE, ARIDELMO JOSÉ CAMPANHARO TEIXEIRA, GRAZIELA FORTUNATO e VALCEMIRO NOSSA
RESUMO
Este estudo tem por objetivo identificar a intensidade da utilização de práticas de contabilidade gerencial estratégica (CGE) e a influência de algumas das principais variáveis contingenciais (estratégia e tamanho da empresa) que podem explicar essas práticas. As práticas de CGE constantes no estudo foram baseadas naquelas identificadas por Cadez e Guilding (2008), as variáveis estratégicas foram representadas por três abordagens conceituais diferentes (MILES; SNOW, 1978; PORTER, 1986; GUPTA; GOVINDARAJAN, 1984), e a classificação do tamanho da empresa baseou-se na receita operacional bruta anual, utilizada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES, 2009). A pesquisa foi realizada a partir de uma população de 27 empresas do ramo de educação profissional, com representatividade nacional, que atuam dentro de uma mesma governança, mas que possuem estratégias, tamanhos e desempenhos diferentes. A metodologia utilizada foi o levantamento de informações por meio de um questionário enviado aos responsáveis pelas áreas de planejamento ou de contabilidade. Os resultados indicam que “medição integrada do desempenho” e “custeio meta” representam práticas de CGE amplamente utilizadas, seguidas de “benchmarking”, “precificação estratégica”, “custeio estratégico”, “avaliação e monitoramento da marca”. Observou-se uma adoção abaixo da média de algumas práticas relacionadas a custos e clientes. Todas as práticas de CGE tiveram alto grau de percepção quanto à importância do uso. Para verificar a relação das práticas de CGE com as variáveis contingenciais, foi utilizada uma regressão ordered probit. Foi revelado que as abordagens estratégicas (padrão, missão e posicionamento) parecem desempenhar um papel contingente na utilização de práticas de CGE, evidência também confirmada para a variável “tamanho da empresa”.
Palavras-chave: Contabilidade gerencial; Contabilidade gerencial estratégica; Práticas de contabilidade gerencial estratégica; Estratégia; Estratégia empresarial.
SWAP, FUTURO E OPÇÕES: IMPACTO DO USO DE INSTRUMENTOS DERIVATIVOS SOBRE O VALOR DAS FIRMAS BRASILEIRAS
PHILIPPE LEMES RIBEIRO, SÉRGIO JURANDYR MACHADO e JOSÉ LUIZ ROSSI JÚNIOR
RESUMO
O trabalho analisa o impacto do uso de derivativos e a direção e magnitude do prêmio de cobertura relacionado a cada tipo de instrumento derivativo no valor da firma para uma amostra de empresas brasileiras não financeiras de capital aberto no período de 2004 a 2007. Os resultados indicam que a utilização de derivativos está relacionada a um impacto positivo e significativo sobre o valor de mercado das empresas. As evidências mostram que o uso de derivativos está associado a um “prêmio de cobertura” (hedging premium). Dessa maneira, é possível afirmar que as firmas que fazem uso da gestão de risco com derivativos têm um valor de mercado superior, no mercado brasileiro, quando comparadas a firmas que não utilizam esses instrumentos financeiros (hedging premium). Os resultados também indicam que, quando a análise se concentra no tipo de instrumento utilizado, a gestão de risco com tipos distintos de derivativos gera impacto de magnitude heterogênea no valor da firma. Contratos de swap e futuro/termo apresentam um impacto positivo e estatisticamente significante. Já para as opções, o impacto, embora positivo, não é estatisticamente significativo. Portanto, os resultados obtidos não só confirmam as expectativas de que a utilização de instrumentos derivativos exerce um impacto positivo e estatisticamente significativo sobre o valor da firma, mas também mostram que existe uma diferença relevante no efeito associado a derivativos distintos. Em conjunto, os resultados corroboram o fato de que investidores estão dispostos a pagar um maior valor por firmas que fazem gestão ativa de risco financeiro em ambientes mais voláteis como o Brasil, e essa disposição varia de acordo com o instrumento utilizado e com a eventual combinação de derivativos financeiros. Em pesquisa futura, uma análise das causas do impacto heterogêneo dos distintos instrumentos derivativos deve ser realizada para um melhor entendimento dos mecanismos pelo qual a política de gerenciamento de risco gera valor às firmas.
Palavras-chave: Derivativos; Gestão de risco; Valor da firma; Proteção; Brasil.
CAPM CONDICIONAL COM APRENDIZAGEM APLICADO AO MERCADO BRASILEIRO DE AÇÕES
JOÃO HENRIQUE GONÇALVES MAZZEU, NEWTON CARNEIRO AFFONSO DA COSTA JUNIOR e ANDRÉ ALVES PORTELA SANTOS
RESUMO
Modelos de precificação de ativos representam uma das áreas mais discutidas e pesquisadas em finanças. São amplamente utilizados de forma teórica e prática na área de investimentos para modelar e prever o risco e o retorno de títulos e de carteiras, bem como em finanças corporativas para estimar o custo de capital e ranquear projetos de investimento. Eles fornecem uma medida útil de risco que ajuda gerentes e investidores a determinar o retorno requerido ao colocarem seu dinheiro em risco. O objetivo deste trabalho é analisar o desempenho do modelo CAPM condicional com aprendizagem proposto por Adrian e Franzoni (2009) quando aplicado às séries de retornos das ações mais líquidas do mercado brasileiro no período de 1987 a 2010. Adrian e Franzoni (2009), em seu artigo, complementaram a literatura do CAPM condicional ao modelarem um novo tipo de variação temporal nos betas condicionais. Nesse ambiente, os investidores formam expectativas sobre o nível de longo prazo dos fatores de risco com base nos retornos realizados de variáveis exógenas. Como consequência direta dessa hipótese, os betas condicionais são modelados por meio do filtro de Kalman. Utilizando dados de 25 carteiras classificadas por tamanho e pelo índice valor contábil-valor de mercado, os autores concluíram que o CAPM condicional com aprendizagem é capaz de reduzir substancialmente os erros de apreçamento quando comparado ao CAPM em sua versão original. Dessa forma, contribuímos para a literatura de precificação de ativos, na medida em que avaliamos se esse modelo é capaz de reduzir os erros de apreçamento em relação à versão original do modelo CAPM, quando aplicado a dados de ativos individuais brasileiros. Os resultados deste artigo evidenciam uma redução nos erros de precificação do CAPM condicional com aprendizagem em relação ao CAPM em sua versão original. Dessa forma, tais resultados empíricos sugerem que a aprendizagem sobre os betas deve ser levada em consideração na estimação do CAPM incondicional e condicional.
Palavras-chave: CAPM condicional; Filtro de Kalman; Previsão; Coeficiente beta; Erros de apreçamento.
INCERTEZA, RACIONALIDADE LIMITADA E COMPORTAMENTO OPORTUNISTA: UM ESTUDO NA INDÚSTRIA BRASILEIRA
ADILSON ADERITO DA SILVA e ELIANE PEREIRA ZAMITH BRITO
RESUMO
A proposta deste estudo foi entender o comportamento oportunista a partir dos conceitos incerteza, racionalidade limitada e especificidade de ativos. Para tal, um modelo teórico foi proposto e testado, em que se operacionalizou a especificidade segundo os ativos dedicados, os ativos físicos e os ativos humanos, em conformidade com os trabalhos Anderson e Schmittlein (1984), Carson, Madhok e Wu (2006) e Skarmeas, Katsikeas e Schlegelmilch (2002), ancorados na teoria dos custos de transação (TCT). O comportamento oportunista foi operacionalizado a partir dos indicadores propostos por Carson, Madhok e Wu (2006). A racionalidade limitada foi estudada na perspectiva de Simon (1957, 1980), e a operacionalização do constructo incerteza se amparou nos trabalhos de Knight (2002), Duncan (1972), Gordon e Narayanan (1984), Milliken (1987) e Milliken (1990). Os dados coletados junto a 111 gestores da indústria de transformação no Brasil, selecionados na base da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), foram submetidos à modelagem por equações estruturais. Os resultados apontam que a racionalidade limitada e a especificidade dos ativos influenciam positivamente o comportamento oportunista dos agentes econômicos, confirmando os argumentos da teoria dos custos de transação, ou seja, quanto maior a especificidade dos ativos, menores as possibilidades de reaproveitamento do investimento, tornando a continuidade do relacionamento valiosa e alvo potencial de ações oportunistas. Os resultados também confirmaram a multidimensionalidade do constructo incerteza, reforçando os argumentos teóricos da perspectiva da incerteza da informação. Tal constatação, aliada às definições de Simon (1957, 1980), possibilitou a operacionalização do constructo racionalidade limitada a partir da incerteza de efeito e da incerteza de resposta, bem como a constatação da importância dessa premissa na explicação da existência dos custos de transação. Nesse sentido, os resultados abrem um leque de possibilidades e contribuem significativamente para o avanço dos estudos empíricos no campo da TCT.
Palavras-chave: Custos de transação; Incerteza; Racionalidade limitada; Especificidade; Comportamento oportunista.
DIVISÃO DO TRABALHO SOCIAL E ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS: REFLEXOS ECONÔMICOS DE EFEITOS MORAIS DE REDES INTERORGANIZACIONAIS
GUSTAVO MELO SILVA e JORGE ALEXANDRE BARBOSA NEVES
RESUMO
Este artigo utiliza um recorte teórico que evidencia fatos sociais, especificamente da divisão do trabalho social, que atuam diretamente na eficiência de organizações, por meio da coesão e da solidariedade. Entretanto, essa leitura da realidade socioeconômica não vem sendo utilizada em sua plenitude para a compreensão da imersão social de redes interorganizacionais territorializadas, ou seja, de arranjos produtivos locais. Pode-se perceber que uma das principais características competitivas, denominadas atuais dentro do discurso empresarial e até mesmo de políticas de desenvolvimento econômico, é a necessidade de as empresas atuarem de forma conjunta e associada em determinados territórios, sejam estes distritos industriais, regiões, municípios ou cidades. Portanto, a aglomeração é uma possibilidade concreta para o desenvolvimento empresarial a partir de estruturas organizacionais baseadas na associação, complementariedade, compartilhamento, troca e ajuda mútua, que têm como referência as redes, que também compõem a estrutura social de mercados e reforçam a discussão sociológica de que a competição também gera a solidariedade. As ações econômicas individuais não estão livres de pressões estruturais e suscetíveis de ser interpretadas dentro da lógica puramente aditiva e mecânica da agregação. As pressões estruturais que pesam sobre a ação econômica não se reduzem às necessidades inscritas, em dado momento do tempo, nas disponibilidades econômicas imediatas ou na instabilidade das interações. Os interesses econômicos de mercado estão, para a nova sociologia, econômica imersos em redes pessoais e de grupos sociais. O mercado, portanto, não se constitui de organizações isoladas, como nos modelos de concorrência perfeita da ciência econômica, mas de aglomerados organizacionais que formam uma estrutura social.
Palavras-chave: Arranjos produtivos locais; Produção territorial; Divisão do trabalho social; Relações sociais; Estrutura social.
número 2
APRESENTAÇÃO
WALTER BATAGLIA
A INTERFACE ENTRE VALORES HUMANOS E MUDANÇA ORGANIZACIONAL: EVIDÊNCIAS DE UMA OPERAÇÃO DE AQUISIÇÃO
CLAUDIA SEGADILHA ADLER e ANDRÉ LUIS SILVA
RESUMO
Este artigo apresenta uma discussão sobre os valores humanos a partir de uma situação de abrupta mudança organizacional gerada por uma operação de aquisição. O objetivo desta pesquisa teórico-empírica foi compreender como os funcionários que vivenciaram a operação de aquisição da instituição financeira em que trabalhavam conseguiram lidar com essa situação a partir dos valores humanos. A pesquisa é qualitativa, descritiva, de corte temporal seccional com perspectiva longitudinal. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas e interpretados pela técnica da análise de conteúdo. A lente teórica deste estudo se sustentou no modelo de Rohan (2000), sobre o sistema de valores pessoais, o qual traz como inovação a ideia de que os valores têm mais do que um papel na sobrevivência dos indivíduos por serem, conforme denomina a autora, guias para a melhor forma possível de viver. Os resultados nos levam a concluir que, embora haja divergências nos sistemas de valor pessoal e de prioridade social dos entrevistados, ou seja, no modo como eles encaram e guiam seus comportamentos e atitudes diante de uma mesma situação, eles encontraram a melhor forma possível de viver perante a operação de aquisição, na medida em que conseguiram respeitar e preservar seus valores pessoais para se adaptarem às novas circunstâncias de trabalho, sem que isso lhes representasse sofrimento. Essa interface entre os valores humanos dos entrevistados e a mudança organizacional por eles vivenciada ressalta, portanto, aspectos que vão além da adaptação dos indivíduos para sobrevivência e para a participação em uma sociedade. Ao mesmo tempo, mostra que a complexa formação de um grupo pode conter sistemas de priorização de valores pessoais e sociais diversos em diálogo, sem com isso implicar homogeneidade para lidar com uma mesma situação. Essa compreensão justifica, finalmente, o motivo pelo qual os funcionários, ao preservarem os seus valores, desenvolveram novas atitudes e comportamentos que lhes deram condições de permanecer trabalhando na instituição adquirente, pois, ao fornecerem diferentes significados à situação vivenciada, experimentaram novas formas de pensar e sentir o seu fazer.
Palavras-chave: Ambiente de trabalho; Comportamento humano; Mudança organizacional; Relações de trabalho; Valores.
O SENTIDO DO TRABALHO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
MICHELLE PINTO DE LIMA, NATHÁLIA VASCONCELOS TAVARES, MOZAR JOSÉ BRITO e MÔNICA CARVALHO ALVES CAPPELLE
RESUMO
Esta pesquisa tem o objetivo de analisar o sentido do trabalho para as pessoas com deficiência (PcD). Optou-se por adotar a perspectiva da psicologia social para compreender a produção de sentidos relacionados ao trabalho devido à sua relação com a produção da subjetividade dos sujeitos. A dimensão do trabalho como realidade social, como bem afirma Dejours (2004), é essencial à atividade humana, contribuindo para a satisfação de necessidades não apenas econômicas, mas também psicológicas e sociais. Para as PcD, o estudo dessa atribuição de sentidos se torna instigante, visto que o trabalho tem sido considerado uma importante via de inclusão social dessas pessoas na sociedade. Para o desenvolvimento da pesquisa qualitativa que deu origem a este artigo, optou-se pela aplicação do método de análise das práticas discursivas, cujos pressupostos ontológicos e epistemológicos estão ancorados na abordagem sociocontrucionista descrita por Spink (2004). Adotou-se a pesquisa qualitativa para a compreensão da produção de sentidos, com a análise das práticas discursas. O construcionismo social foi utilizado como método da pesquisa. Foram realizadas entrevistas em profundidade com pessoas com deficiência inseridas no mercado de trabalho escolhidas por meio da técnica bola de neve. Para o procedimento, realizou-se uma adaptação do recurso dos mapas de associação de ideias utilizados por Spink (1999). A análise dos resultados permitiu a elaboração das categorias que revelam os sentidos do trabalho para as pessoas com deficiência, entre as quais se destacam o trabalho como meio de sobrevivência, a necessidade de ser útil à sociedade, de garantia da independência financeira e pessoal. Observou-se, nas produções discursivas, a centralidade do trabalho na vida de todos eles, estando, para alguns, mais relacionado à sobrevivência e, para outros, à inserção social. As vivências no trabalho estão relacionadas ao sentimento de capacidade e utilidade para com a sociedade. Este trabalho permitiu compreender que as regularidades encontradas nos repertórios discursivos remetem o sentido do trabalho para o exercício pleno de cidadania.
Palavras-chave: Trabalho; Deficiência; Diversidade; Sentidos; Inclusão.
UMA ANÁLISE DAS FORMAS DE REMUNERAÇÃO DOS SÓCIOS POR MEIO DO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
FERNANDO HENRIQUE CÂMARA GOUVEIA e LUÍS EDUARDO AFONSO
RESUMO
A redução dos custos de empresas por meio de planejamento tributário é tópico recorrente tanto na pesquisa acadêmica como na prática empresarial. Este trabalho tem como objetivo estudar as formas de remuneração de sócios de empresas que pagam imposto de renda pelo lucro real, a saber: distribuição de lucros, juros sobre capital próprio e pagamento de pró-labore. Ênfase especial foi dada ao pagamento de pró-labore, modelado por meio da matemática atuarial, de forma a incorporar o efeito intertemporal do benefício previdenciário a que o sócio tem direito, no cálculo das alíquotas efetivas das formas de remuneração. A alíquota efetiva é definida como a razão entre o valor efetivamente pago ao ente público e o valor originalmente disponível à tributação. A alíquota efetiva deve ser considerada pelo seu valor presente atuarial devido ao fato de que alguns tributos têm efeitos intertemporais de pagamentos, recebimentos e restituições no fluxo de caixa do ente pessoa física ou jurídica. Denomina-se valor presente atuarial porque, além da taxa de desconto financeiro que representa o custo de oportunidade de um segundo melhor investimento, considerou-se, pelo fato de o foco do planejamento tributário estar na riqueza da pessoa física, a probabilidade de o indivíduo receber o valor no futuro. Em outras palavras, deve-se considerar a probabilidade de o indivíduo estar vivo no instante em que terá direito ao recebimento dos valores. Como resultado, observou-se que a inclusão do desconto atuarial nas opções de remuneração dos sócios altera significativamente o que pode ser considerado como forma de remuneração mais econômica, ou então menos custosa. Ao contrário do que se poderia inferir, os juros sobre capital próprio podem não ser a forma de remuneração mais barata da empresa (com 15% de alíquota efetiva), mas sim pequenos valores de pagamento de pró-labore (que apresentam valores de até 8,61% de alíquota efetiva).
Palavras-chave: Planejamento tributário; Matemática atuarial; Distribuição de lucros; Juros sobre capital próprio; Pró-labore.
A ESTRATÉGIA DE DIVERSIFICAÇÃO E PERFORMANCE: O CASO DAS COMPANHIAS ABERTAS NO BRASIL
CLECI GRZEBIELUCKAS, ROSILENE MARCON e ANETE ALBERTON
RESUMO
Esta pesquisa analisa a relação entre diversificação e performance de empresas de capital aberto no Brasil, no período de 2001 a 2005, considerando distintas estratégias de diversificação de produtos. Compôs a amostra um total de 168 empresas brasileiras com informações sobre diversificação no Relatório de Informação Anual (IAN), as quais são enviadas anualmente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). As empresas foram divididas em três grupos de acordo com suas estratégias de diversificação: produto único, moderadamente diversificadas e altamente diversificadas. Utilizaram-se duas técnicas estatísticas: regressão múltipla e análise de variância (Anova). Na primeira técnica, de regressão múltipla, foram gerados três modelos estatísticos (com três regressões cada um, uma para cada medida de performance utilizada): estratégia de produto único com moderadamente e altamente diversificado (modelo I), produto único versus moderadamente diversificado (modelo II) e negócio único versus altamente diversificado (modelo III), a fim de verificar a influência da diversificação de produtos (Diver) na performance dos diferentes grupos de empresas. A análise de variância foi conduzida para verificar as diferenças de médias entre distintos grupos de empresas. Em todos os modelos da regressão, a variável (Diver) não apresentou significância estatística, porém indicou retornos menores com a diversificação. Em todos os modelos, a variável END foi negativa e estatisticamente significativa a 5% quando utilizado como medida de performance o ROA. Já as variáveis Cresv e TAM foram positivas e estatisticamente significativas em todos os modelos. A variável Risco foi positiva e significante estatisticamente quando relacionada à medida de performance Roaop, em todos os modelos. Quanto à Anova, os grupos estratégicos não apresentaram diferenças significativas em nenhuma das variáveis estudadas, entretanto a rentabilidade operacional das firmas com estratégias de produtos altamente diversificadas foi superior em relação àquelas com estratégia de produtos menos diversificada. O indicador de endividamento foi menor no grupo moderadamente diversificado.
Palavras-chave: Diversificação; Diversificação de produtos; Desempenho; Estratégia; Empresas brasileiras.
IMPACTO INFORMACIONAL DAS REUNIÕES PÚBLICAS APIMEC: UM ESTUDO DE EVENTO
NAYANA REITER e JAIRO LASER PROCIANOY
RESUMO
Este trabalho mensurou o impacto informacional, medido pelo retorno anormal do preço das ações de companhias abertas brasileiras, ocasionado pelas apresentações gerenciais em reuniões públicas organizadas pela Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec). Utilizando a metodologia de estudo de evento, foram analisados os retornos anormais das ações de 160 empresas que realizaram 739 reuniões entre 2005 e 2009. Os resultados encontrados sugerem que, em média, as informações geradas nesses eventos acarretaram retornos anormais pequenos no período analisado. Tal achado pode ser fruto tanto do baixo impacto informacional desses eventos quanto da possível dificuldade dos participantes das reuniões de perceberem essas informações como relevantes. A principal contribuição desta pesquisa é demonstrar que as reuniões Apimec constituem um momento em que as relações da empresa com os investidores e analistas podem ser iniciadas e fortalecidas, mas em que informações novas não são apresentadas. Essa constatação demonstra que a condução das reuniões pelas companhias está em conformidade com as recomendações dos órgãos reguladores brasileiros, as quais indicam que nas reuniões públicas devem ser comentadas apenas informações previamente divulgadas. Outros meios de divulgação de informações, como fatos relevantes, comunicados ao mercado, teleconferências, entre outros, podem ser tão eficientes na distribuição ampla e simultânea de informações aos diversos agentes do mercado, que resta para as reuniões realmente o papel de oportunizar um maior conhecimento e compreensão da empresa pelo mercado e do mercado pela empresa. Essa construção de compreensão mútua pode trazer valor nas relações das companhias com os investidores no longo prazo, mas não acarretam, em média, impactos informacionais de curto prazo.
Palavras-chave: Reuniões públicas; Apimec; Relações com investidores; Estudo de evento; Assimetria de informação.
A PRACTICE TURN E O MOVIMENTO SOCIAL DA ESTRATÉGIA COMO PRÁTICA: ESTÁ COMPLETA ESSA VIRADA?
CRISTIANO DE OLIVEIRA MACIEL e PAULO OTÁVIO MUSSI AUGUSTO
RESUMO
Em 2006, Richard Whittington, o principal autor da corrente de pesquisa denominada estratégia como prática (strategy as practice), publicou o artigo “Completing the practice turn in strategy research”. Nesse trabalho foi apresentada uma estrutura de análise que, pretensamente, completaria a virada da prática nessa área de pesquisa ao considerar diferentes níveis da prática (micro e macro). Entretanto, críticas foram e continuam sendo dirigidas aos estudos realizados sob essa perspectiva, o que evidencia a necessidade de avaliar como está se dando a practice turn nos estudos sobre estratégia. Assim, o objetivo no presente artigo foi analisar a virada da prática nos estudos sobre estratégia, tanto no que concerne às principais características quanto à finalização desse ciclo, ao tomar essa abordagem como um movimento social. Na escolha do método, optou-se pela pesquisa não reativa de documentos existentes (dados secundários) (NEUMAN, 1997). A partir desse método, foram selecionados os principais periódicos da área de administração e estratégia de acordo com o Journal Citation Reports, observando aqueles com maior fator de impacto. Com a amostra de 59 artigos, o movimento social da strategy as practice foi analisado à luz dos três momentos sugeridos por Hambrick e Chen (2008): diferenciação, mobilização e construção de legitimidade. Os resultados permitem concluir: 1. a virada da prática no campo da estratégia consiste em relacionar a corporeidade dos atores sociais, seus objetos e formas de uso, seus conhecimentos, habilidades, estados de emoção e motivações centralmente à prática; 2. essa virada está concentrada, em termos relacionais, nos pesquisadores R. Whittington e P. Jarzabkowski, com trabalhos predominantemente orientados e presos ao velho vocabulário da sociologia da regulação; 3. no que concerne à consecução ou finalização da virada da prática, como foi pretensamente estabelecido por Whittington (2006), conclui–se que a virada da prática nos estudos sobre estratégia não está completa, na medida em que examina as práticas relativamente num vácuo organizacional. Logo, é preciso recuperar a organização no estudo da prática, redefinindo o próprio termo “organização” nesse movimento social.
Palavras-chave: Estratégia como prática; Movimento social; Virada da prática; Teorias sociais contemporâneas; Link institucional.
DESEMPENHO PRODUTIVO COMO FATOR MODERADOR DA ESTRATÉGIA E CAPABILIDADE
ROBERTO GIRO MOORI, KALID ALI NAFAL e ADILSON CALDEIRA
RESUMO
Partindo da premissa básica de que em uma cadeia de suprimentos há inúmeras relações de causa e efeito entre eventos com potencial de determinar a diferenciação entre empresas concorrentes, este estudo deposita seu foco na busca pela identificação de uma correlação entre o desempenho produtivo de uma empresa e sua capabilidade. Recorreu-se, inicialmente, a fontes bibliográficas, em que se identificou que capabilidade e competência são termos usados de modo intercambiável. Se no passado se referiam primariamente a tecnologias de produção e habilidades dos trabalhadores da empresa, abrangem, na atualidade, o comportamento de negócios em termos de eficácia no serviço prestado, responsividade e tempo do ciclo de entrega. Assim, empresas estabelecem estratégias para obter capabilidade. No plano empírico, realizou-se um estudo de natureza exploratória do tipo descritivo, com o objetivo de avaliar a relação entre as dimensões de estratégia e capabilidade e o impacto moderador do desempenho produtivo nessa relação. Os dados, coletados em 90 empresas do ramo metal-mecânico e tratados com a utilização de técnicas de estatística descritiva e multivariada, revelam que há correlação positiva entre estratégia e capabilidade com magnitude que possibilita a interpretação de que o desempenho produtivo pode ter atuado como moderador nesse resultado. Devido ao caráter transversal da pesquisa, com uma amostra fixa de empresas do ramo metal-mecânico de portes diferentes e contextos variados, e dados coletados em uma única vez, a compreensão das correlações encontradas foi limitada. Recomenda-se, assim, a aplicação de uma nova pesquisa longitudinal, com foco em um número menor de empresas durante períodos prolongados, de modo a observar os processos de mudanças em contextos mais amplos, identificar relações de causa e efeito e produzir resultados acadêmicos e científicos mais significativos.
Palavras-chave: Gestão da cadeia de suprimentos; Estratégia; Capabilidade; Desempenho produtivo; Metal-mecânico.
ESTRATÉGIA COMO CONTEXTO INTERFIRMA – UMA ANÁLISE A PARTIR DA IMERSÃO SOCIAL E DA TEORIA INSTITUCIONAL NO SETOR DE CARCINICULTURA NORTE-RIO-GRANDENSE
FERNANDO DIAS LOPES e MARIANA BALDI
RESUMO
Apesar de Baum e Dutton (1996) terem chamado atenção há mais de uma década para a imersão da estratégia, os trabalhos sobre estratégia mantêm-se mais influenciados pelos teóricos da economia do que pelos teóricos da sociologia. A concepção atomizada revela-se tanto no nível de análise como no conceito de ambiente. Oliver (1996) afirma que teóricos de estratégia explicam as vantagens diferenciadas das firmas e sua capacidade de obtenção de lucro a partir das ineficiências de mercado. Explicações da ineficiência dos mercados e da heterogeneidade das firmas centram-se exclusivamente nas características da firma e dos mercados. Este artigo vai ao encontro do argumento desses autores de que diferenças sustentáveis da firma e retornos acima do normal não são somente uma função da sua capacidade e das características da indústria e do mercado. A imersão das organizações e dos mercados em um contexto institucional tem um profundo impacto sobre o seu desempenho. Este artigo enfatiza a estratégia como contexto interfirma, combinando a perspectiva da imersão social e a teoria institucional para uma análise do setor de carcinicultura norte-rio-grandense. Consiste em um estudo qualitativo, histórico, baseado na análise de documentos e na análise de entrevistas realizadas com dirigentes empresariais e de associações do setor. O objetivo foi evidenciar como a estratégia adotada pelas organizações do setor pode ser explicada pela dinâmica do contexto social. Assim, desenvolveu-se uma análise que combina os impedimentos institucionais e econômicos para a eficiência dos mercados para explicar a estratégia adotada. Para isso, realizou-se uma reconstrução histórica da sua formação, evidenciando os principais momentos e fatos, bem como o papel assumido pelos diferentes atores. Os resultados indicaram que abordagens dominantes no estudo da estratégia como economic costs theory (ECT), RBV e posicionamento estratégico, pelo caráter descontextualizado, não são suficientes para explicar a postura estratégica das empresas, sendo necessário combiná-las com perspectivas que levem em consideração a natureza socialmente construída dos processos organizacionais e seu caráter, muitas vezes, não reflexivo.
Palavras-chave: Estratégia; Imersão social; Teoria institucional; Carcinicultura; Sociologia econômica.
ERRATA
número 3 - Fórum Especial Temático Sobre Educação para Sustentabilidade
APRESENTAÇÃO
WALTER BATAGLIA
INTRODUÇÃO AO FÓRUM TEMÁTICO SUSTENTABILIDADE NAS ESCOLAS DE ADMINISTRAÇÃO: TENSÕES E DESAFIOS
ARILDA SCHMIDT GODOY, JANETTE BRUNSTEIN e TÂNIA MARIA DIEDERICHS FISCHER
CAMINHOS E DESAFIOS PARA A INSERÇÃO DA SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NA FORMAÇÃO DO ADMINISTRADOR BRASILEIRO
CLÁUDIO SENNA VENZKE e LUIS FELIPE MACHADO DO NASCIMENTO
RESUMO
As características da sustentabilidade socioambiental têm um efeito profundo no modo como as instituições acadêmicas devem gerar conhecimento para incluí–la nos seus objetivos, pois, dentre os papéis da academia, destaca-se a geração de pesquisa interdisciplinar e de conhecimento científico, baseada na resolução de problemas na sociedade. Neste ensaio argumenta-se que as instituições brasileiras de ensino que formam administradores necessitam ampliar a base epistemológica atual para serem capazes de resolver, de modo mais completo, as questões relacionadas à sustentabilidade socioambiental. Dessa forma, o objetivo é de refletir sobre o processo para a geração de arranjos de conhecimentos voltados à inserção da sustentabilidade socioambiental nos cursos de Administração brasileiros, procurando avançar em relação às pesquisas já desenvolvidas sobre o tema, tendo-as como base. Foram analisados artigos da literatura nacional e internacional que tratam do tema, buscando identificar a situação atual da inserção da sustentabilidade na formação dos administradores. O escopo teórico que embasa este artigo está focado no pensamento complexo, conforme a visão de Edgar Morin. Assim, este artigo busca relacionar as ideias sobre complexidade com proposições de autores que visualizam as relações entre as estruturas e os processos, visando propor bases para a construção de arranjos no conhecimento para a sustentabilidade, com características pluralistas e reflexivas, para os cursos brasileiros de administração. A contribuição que se espera com este artigo para a prática da administração é fornecer um ponto inicial de reflexão, necessitando, para sua continuidade, buscar com os diferentes atores, que pensam e executam o ensino e a pesquisa em administração, percepções e conhecimentos sobre a construção deste caminho em direção à inserção da sustentabilidade socioambiental na formação dos administradores brasileiros, de forma plural e reflexiva. Como implicações sociais deste trabalho e seus impactos na sociedade, espera-se propor diferentes caminhos para atender os problemas complexos da realidade, relacionando-se com um mundo dinâmico e interdependente, gerando um conhecimento plural, que se harmonize com as complexas mudanças que estão ocorrendo neste mundo.
Palavras-chave: Educação; Sustentabilidade; Administrador; Complexidade; Cursos de Administração.
ENSINO E PESQUISA EM GESTÃO AMBIENTAL NOS PROGRAMAS BRASILEIROS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
MARIA CRISTINA FOGLIATTI DE SINAY, IONE ANDRADE LOUREIRO e JEZUEL DE MENEZES VIEIRA
RESUMO
No Brasil, a educação ambiental tornou-se obrigatória em todos os níveis de ensino apenas a partir de 1999, com a lei nº 9.795, que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA). A área de administração ficou um tanto alheia a esse movimento, talvez pela dificuldade de gestores perceberem que negócios verdes podem ser lucrativos. Só ao compreender que sustentabilidade traz também inovação, é que se verifica que a preservação ambiental e a produtividade empresarial devem andar por caminhos confluentes. Este trabalho visa verificar se tal convergência tem sido sustentada pelo ensino e pela pesquisa em administração, levantando o panorama atual da pós-graduação em administração no que se refere à gestão ambiental. Concluiu-se que, dos grupos de pesquisa registrados no diretório de grupos de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq – na área de administração, 25% abordam tópicos ligados à Gestão Ambiental, sendo que 93% desses grupos se iniciaram após 2002, ano em que regulamentada a lei nº 9.795/1999, ficando clara a importância de ações concretas do setor governamental para promover a educação ambiental. Pesquisando-se as grades curriculares das Instituições de Ensino Superior (IES) com programas de mestrado e/ou doutorado reconhecidos/recomendados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), observou-se que 51% desses cursos apresentam tópicos relacionados à gestão ambiental e apenas 6% apresentam alguma das ferramentas a ela associadas. Vinte e cinco porcento desses programas não têm nem grupos de pesquisa nem disciplinas que abordem tópicos de gestão ambiental, salientando a necessidade de novos esforços em nível governamental, talvez na forma de avaliação das IES, para que a administração melhor contribua para a disseminação da sustentabilidade nos setores produtivos. Finalmente, observou-se que, do total de artigos publicados no período 2006-2012 nos seis principais periódicos nacionais da área de administração, 6,2% trataram temas de gestão ambiental. Isso representa evolução em relação aos 2,3% obtidos por Jabbour, Santos e Barbieri (2008) em pesquisa relativa ao período 1996-2005, porém corrobora, com os demais resultados desta pesquisa, que a produção científica nacional de administração em gestão ambiental, embora em expansão, ainda é incipiente.
Palavras-chave: Administração; Educação e Pesquisa Ambiental; Sustentabilidade; Administração Sustentável; Gestão Ambiental.
EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE: A CONSTRUÇÃO DE CAMINHOS NO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL (IFRS)
LISIANE CELIA PALMA, NILO BARCELOS ALVES e TÂNIA NUNES DA SILVA
RESUMO
Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs) foram recentemente criados no Brasil. Eles têm como objetivo suprir a demanda de mão de obra técnica qualificada, que tem aumentado no país, e agregar qualidade aos currículos, buscando integrar conhecimentos básicos e técnicos e preparar os estudantes para a vida e para o exercício da cidadania. Sendo assim, demonstram em seus documentos ter preocupação com questões ligadas ao desenvolvimento sustentável. Alguns estudos têm apontado a importância da inserção de debates sobre a educação para a sustentabilidade nas instituições de ensino e também nos cursos da área de gestão. Deste modo, o presente estudo tem por objetivo identificar como questões relacionadas ao assunto estão sendo tratadas nos IFs brasileiros, especialmente no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS). Para tanto, foi realizada uma pesquisa de caráter exploratório, delineado por um escopo descritivo, para verificar como a sustentabilidade tem sido abordada nos cursos do IFRS relacionados ao eixo tecnológico gestão e negócios. Para definição dos cursos, utilizou-se como referência o Catálogo Nacional de Cursos Superiores em Tecnologia e o Catálogo Nacional de Cursos Técnicos do Ministério da Educação. Observou-se que, apesar do IFRS apresentar em seus documentos uma preocupação com o assunto, não existe uma política institucional que integre as ações relativas à sustentabilidade na organização em geral, sendo que a introdução do tema nos cursos acontece de formas diversas, por iniciativa de alguns professores. Contudo, projetos que buscam a inserção da sustentabilidade em cursos da área de gestão e negócios já podem ser verificados, como os que estão sendo desenvolvidos nos campi Canoas e Osório, que também são apresentados no presente trabalho. É importante salientar que os projetos encontram-se em fase de implementação, o que impossibilita uma avaliação com relação aos seus resultados. Entretanto, estes podem servir de base para ações que podem ocorrer na instituição e de modelo para outros níveis e instituições de ensino.
Palavras-chave: Sustentabilidade; Educação; Gestão; Interdisciplinaridade; Institutos Federais.
DESAFIOS (E DILEMAS) PARA INSERIR “SUSTENTABILIDADE” NOS CURRÍCULOS DE ADMINISTRAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO
SYLMARA LOPES FRANCELINO GONÇALVES-DIAS, CAROLINA BOHÓRQUEZ HERRERA e MYRT THÂNIA DE SOUZA CRUZ
RESUMO
Apesar de quase três décadas de intensos debates em torno da temática sustentabilidade, permanecem uma série de indefinições sobre este tema, o que desperta indagações sobre suas delimitações, seus traços definidores, seu potencial de inovação, sua interdisciplinaridade e capacidade de diálogo de suas interfaces com outros campos de conhecimento e de prática. Nesse contexto, este artigo pretende analisar os desafios (e dilemas) enfrentados por uma Instituição de Ensino Superior para inserção da disciplina “sustentabilidade” no curso de administração. Isto se reflete nas estratégias e práticas tanto no âmbito da gestão empresarial, como no que tange ao projeto pedagógico e às práticas de ensino de aprendizagem utilizadas para a formação de futuros administradores. Assim, a construção do artigo está baseada em pesquisa bibliográfica, documental, entrevistas e na vivência dos autores como docentes no curso de administração, selecionado por conveniência. Organizaram-se os dados e as informações da experiência, por meio de estudo de caso em um contexto de pesquisa exploratória. Diferentes variáveis de inserção da temática de sustentabilidade foram analisadas, envolvendo desde as disciplinas que contemplam o projeto pedagó gico e seus conteúdos até a análise das estratégias didático-pedagógicas adotadas. Nesta direção, a experiência analisada revelou que permanecem desafios para a implementação de projetos pedagógicos que privilegiem novos modelos de ensino-aprendizagem e sobretudo exigem novas competências na formação docente. Deste modo, mudanças em direção à sustentabilidade requerem mais do que apenas repensar o conteúdo dos currículos de ensino ou assinar acordos internacionais. Exigem das instituições compromissos mais profundos para se transformarem em comunidades-aprendizes que trabalham em prol da sustentabilidade. A análise aqui empreendida revela que é necessário criar uma agenda institucional em que se busca “aprender para a sustentabilidade” como forma de a IES ensinar, aprender e atuar. Também evidencia que a universidade (em especial as escolas de administração) é um local privilegiado, que pode contribuir para o desenvolvimento de práticas, atitudes e comportamentos inovadores em todos os ambientes onde o futuro administrador possa estar envolvido.
Palavras-chave: Sustentabilidade; Estratégias de ensino-aprendizagem; Escolas de administração; Projeto pedagógico; Educação superior.
UM ESPELHO, UM REFLEXO! A EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE COMO SUBSÍDIO PARA UMA TOMADA DE DECISÃO CONSCIENTE DO ADMINISTRADOR
MINELLE ENÉAS DA SILVA, RENATA CZYKIEL, PAOLA SCHMITT FIGUEIRÓ, WAGNER SOARES FERNANDES DOS SANTOS e ULYSSES PAIOLA GALVÃO
RESUMO
Mudar comportamentos com base na conscientização é um fator essencial para mudar os padrões de produção e consumo vigentes. Para que uma nova visão possa emergir é necessário que haja um processo de mudança na responsabilidade tanto de produtores quanto de consumidores. Nessa perspectiva, a educação surge como agente de transformação, ao sensibilizar e estimular o indivíduo a exercer seu papel de consumidor-cidadão. Considerando que as mudanças também estão presentes no ambiente empresarial, parte-se do pressuposto que a Educação para a Sustentabilidade (EpS) nos cursos de graduação em administração atua como subsídio para uma tomada de decisão consciente por parte do futuro gestor. Tomar decisões, ou seja, fazer escolhas levando em conta os preceitos da sustentabilidade requer a formação de profissionais críticos e reflexivos. Deste modo, o presente estudo tem como objetivo compreender como a EpS pode contribuir para um processo de tomada de decisão consciente com alunos de administração na cidade de Recife-PE. A abordagem metodológica adotada foi quantitativa, e inicialmente identificou-se o comportamento de consumo consciente dos alunos. Assim, apesar da identificação de uma tendência positiva para uma consciência, entende-se que um trabalho de sensibilização e incentivo em relação a um comportamento mais ético e responsável deve ser realizado por meio da intensificação da EpS no curso de administração. Além disso, identificou-se que se deve buscar a construção de um círculo virtuoso recursivo, o qual deve orientar a tomada de decisão do nível individual ao coletivo. As discussões sugerem a possibilidade de atuação da EpS como espelho para que novos comportamentos e ações sejam incorporadas na formação desse futuro gestor e que os reflexos dessa nova visão possam ser disseminados como compromisso por uma sociedade mais sustentável. Com isso, a contribuição do estudo está em alinhar a ideia de consciência à tomada de decisão, com base na Educação para a Sustentabilidade.
Palavras-chave: Educação para a Sustentabilidade; Tomada de decisão; Comportamento de consumo; Consciência; Administrador.
VALORES PESSOAIS E GESTÃO SOCIOAMBIENTAL: UM ESTUDO COM ESTUDANTES DE ADMINISTRAÇÃO
FRANCISCO JOSÉ DA COSTA, ROBERTO RODRIGUES RAMOS, INGRID MAZZA MATOS RAMOS e LEONEL GOIS LIMA OLIVEIRA
RESUMO
Este estudo buscou compreender as avaliações dos estudantes dos cursos de administração a respeito da gestão socioambiental nas dimensões de importância do conhecimento na área, importância da prática na área, e intenções futuras de envolvimento com a área e a sua relação com valores pessoais (as dimensões selecionadas foram conservadorismo antropocêntrico, e percepção de dominação sobre a natureza). As proposições iniciais são de que haveria uma relação negativa entre as dimensões de valores pessoais com a avaliação da importância e das intenções de envolvimento com a gestão socioambiental. Foi feito um estudo de campo, com dados coletados com 193 estudantes de graduação em administração de Instituições de Ensino Superior dos estados do Ceará, Paraíba e Rio de Janeiro. Inicialmente, realizou-se a verificação das propriedades psicométricas das escalas utilizadas, por meio da análise fatorial exploratória (Afe) e da aferição do Alfa de Cronbach para verificar a sua confiabilidade. Para a análise das proposições, foram verificadas as estatísticas descritivas (médias e desvios) em relação à avaliação que os entrevistados fizeram a respeito das dimensões estudadas. Posteriormente, as duas proposições foram testadas por meio de procedimentos de análise bivariada (correlações de Pearson e Spearman). Além disso, verificou-se a diferença entre as médias por gênero e por tipo de instituição por meio da análise de Variância (Anova). Pelos resultados das análises, verificou-se a existência de uma relação negativa entre o conservadorismo antropocêntrico e a avaliação pelos estudantes do curso de administração a respeito da importância da gestão socioambiental no curso, e também com o seu interesse de envolvimento com a área no futuro. No entanto, e contrariando as expectativas, as avaliações dos interesses não têm qualquer relação com a percepção e domínio humano sobre a natureza. Em relação ao gênero e ao tipo de instituição, houve diferenças significativas apenas nas dimensões de avaliação da gestão socioambiental com as mulheres e os alunos de instituições privadas demonstrando maior valorização dessa área. Não houve diferenças significativas nas dimensões de valores pessoais. Os resultados encontrados trazem avanços no entendimento dos fatores que influenciam o interesse dos futuros administradores em relação à gestão socioambiental.
Palavras-chave: Gestão socioambiental; Valores pessoais; Educação ambiental; Curso de administração; Estudantes de graduação.
[ARTIGO RETRATADO] A INFLUÊNCIA DO CAPITAL SOCIAL PARA O DESEMPENHO EMPRESARIAL: UMA ANÁLISE NO CONTEXTO DAS REDES HORIZONTAIS DE EMPRESAS
JAYR FIGUEIREDO DE OLIVEIRA
RESUMO
Com base nos argumentos de Nahapiet e Ghoshal (1998), o presente artigo analisa a relação entre o capital social de empresários participantes de redes horizontais e o desempenho de suas empresas. Por meio de uma pesquisa com 218 empresários de 34 diferentes redes horizontais de empresas, verificou-se que o número de contatos de um empresário dentro da rede, a diversidade, qualidade das relações e a semelhança cognitiva influenciam positivamente o desempenho da sua empresa. Os resultados revelam ainda que empresários participantes de redes horizontais têm acesso a níveis altos de informações relevantes para seu negócio, a partir do capital social desenvolvido dentro da rede. A principal contribuição teórica do artigo é a confirmação da relevância do capital social do empresário para o desempenho de sua empresa, reafirmando no contexto das redes interorganizacionais estudos de Ahuja (2000), McFadyen e Cannella (2004), Smith, Collins e Clark (2005), Tsang (2005) e Liao e Welsch (2003). Como contribuição gerencial, os resultados mostram que gestores de redes horizontais podem criar mecanismos para estimular o desenvolvimento do capital social dos empresários, promovendo a criação e fortalecimento de laços, com consequências positivas para o resultado das empresas.
Palavras-chave: Capital social; Redes interorganizacionais; Redes horizontais de empresas; Cooperação empresarial; Desempenho.
AS CONEXÕES ENTRE ORIENTAÇÃO EMPREENDEDORA, CAPACIDADE DE MARKETING E A PERCEPÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL: EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS VAREJISTAS
JOSÉ FRANCISCO DOS REIS NETO, PABLO ANTONIO MUÑOZ-GALLEGO, CELSO CORREIA DE SOUZA e WESLEY OSVALDO PRADELLA RODRIGUES
RESUMO
A literatura acadêmica atual apresenta progresso no entendimento do desenvolvimento de estratégias das empresas, quanto ao aprimoramento das competências e recursos, para enfrentar a concorrência e a turbulência do ambiente competitivo. Neste trabalho são examinados os relacionamentos dos construtos orientação empreendedora (NAMAN; SLEVIN, 1993) e capacidade de marketing (VORHIES; HARKER, 2000) no desempenho empresarial (GONZÁLES-BENITO; GONZÁLES-BENITO; MUÑOZ-GALLEGO, 2009) percebido pelos gestores, focando as pequenas empresas varejistas. Foram avaliadas as evidências empíricas de modelos propostos na literatura para orientação empreendedora, capacidade de marketing, desempenho empresarial e o papel dos seus relacionamentos sob os efeitos moderadores do tipo da empresa, local da sua instalação e a idade desde a sua fundação. Os dados foram coletados em uma amostra transversal não probabilística de 262 empresas do comércio e de serviço, localizadas no Estado de Mato Grosso do Sul. As hipóteses foram testadas por meio das abordagens estatísticas da análise fatorial exploratória e da modelagem das equações estruturais, empregando-se a estimação da máxima verossimilhança e índices de ajuste do modelo conceitual. A verificação dos dados empíricos proporciona evidências para a confirmação dos modelos teóricos adotados, favorecendo a inferência de que as pequenas empresas varejistas alcançam maior desempenho empresarial, quanto maior a intensidade da orientação empreendedora e da capacidade de marketing. As evidências empíricas suportam que não existem diferenças significativas nas práticas da orientação empreendedora e da capacidade de marketing entre as empresas do tipo micro ou pequena. No entanto, foram observadas práticas diferentes entre estes dois construtos para as empresas quanto a sua localização, idade e setor empresarial. No que se refere às implicações gerenciais, decorrentes dos resultados deste artigo, leva à sugestão que os empresários varejistas adotem uma postura mais empreendedora, no conhecimento das ações estratégicas dos concorrentes e no entendimento dos desejos e necessidades dos consumidores, como na intensificação das ferramentas de marketing para a obtenção de maior desempenho empresarial. Destaca-se a originalidade deste estudo ao suprir as possíveis lacunas de poucos estudos empíricos relacionados às ações estratégicas e o desempenho empresarial das pequenas empresas varejistas, disponíveis na literatura nacional e internacional.
Palavras-chave: Orientação empreendedora; Capacidade de marketing; Desempenho empresarial; Pequenas empresas varejistas; Mato Grosso do Sul.
número 4
APRESENTAÇÃO
WALTER BATAGLIA
A APRENDIZAGEM DAS ORGANIZAÇÕES GERADA PELAS PRÁTICAS FORMAIS NO AMBIENTE DE TRABALHO
ÂNGELA FRANÇA VERSIANI, CLAUDEMIR YOSCHIHIRO ORIBE e SERGIO FERNANDO LOUREIRO REZENDE
RESUMO
Este artigo tem por objetivo avaliar em que medida práticas formais instituídas no ambiente de trabalho contribuem para a aprendizagem organizacional. O quadro teórico baseia-se no reconhecimento de que a adaptação das empresas ao ambiente implica a absorção do conhecimento dos indivíduos em propriedades coletivas legitimamente reconhecidas e incorporadas nas suas práticas. A aprendizagem se dá no momento em que as empresas, ao lidarem com o ambiente, aproveitam os recursos de que dispõem e concomitantemente exploram novas oportunidades, mudando as práticas correntes. O método de análise de solução sistemática de problemas é reconhecido como uma das práticas formais mais recomendadas para promover aprendizagem organizacional. Entretanto, se, por um lado, constata-se a exaltação de tal método para gerar aprendizado, por outro, a literatura se ressente de uma avaliação mais crítica. Isto é, há escassez de pesquisa empírica que visa verificar a sua real contribuição em promover a aprendizagem organizacional. Desse modo, verifica-se uma lacuna entre recomendações práticas e sustentação teórica de tais recomendações. Este artigo, ao indagar em que medida os métodos de solução sistemática de problemas contribuem para a aprendizagem organizacional, tem por principal contribuição esclarecer os seus efeitos nas organizações que os utilizam. Assim, focalizou-se o Masp, um dos métodos de solução sistemática de problemas mais difundidos no Brasil. Para proceder a essa avaliação, considerou-se que aprendizagem organizacional é composta de quatro dimensões: aquisição do conhecimento, distribuição e interpretação da informação e memória organizacional. O foco da pesquisa foi verificar, em uma pesquisa quantitativa junto a três diferentes organizações, como o Masp relaciona-se a tais dimensões. Mais especificamente, buscou-se identificar quais são as dimensões e os tipos de aprendizado sustentados pelo Masp. Os testes estatísticos revelaram que a utilização do Masp contribui para todas as dimensões da aprendizagem organizacional, ou seja, aquisição do conhecimento, distribuição e interpretação da informação e memória organizacional. Contudo, tal aprendizagem tende a se restringir frequentemente às correções em rotinas, o que significa que a utilização do método em si não é capaz de gerar aprendizados mais profundos. A profundidade do aprendizado parece correlacionar-se mais fortemente aos fatores contextuais das organizações.
Palavras-chave: Aprendizagem organizacional; Práticas formais de aprendizagem; Masp; Método de solução sistemática de problemas; Aprendizagem no ambiente de trabalho.
EDUCAÇÃO GERENCIAL PARA ATUAÇÃO EM AMBIENTES DE NEGÓCIOS SUSTENTÁVEIS: DESAFIOS E TENDÊNCIAS DE UMA ESCOLA DE NEGÓCIOS BRASILEIRA
KATIA CYRLENE DE ARAUJO VASCONCELOS, ANNOR DA SILVA JUNIOR e PRISCILLA DE OLIVEIRA MARTINS DA SILVA
RESUMO
O objetivo deste artigo é descrever e analisar, por meio de um estudo de caso de natureza qualitativa, como o projeto pedagógico de um programa de educação gerencial viabiliza a formação de gestores para atuação em ambientes de negócios sustentáveis. Para isso, estabeleceu-se um debate sobre os temas negócios sustentáveis e educação gerencial no contexto de uma escola de negócios brasileira com atuação internacional. Considera-se que o ambiente de negócios passa por transformações que implicam repensar a relação entre o homem, a organização e o mundo, o paradigma econômico e a forma de produzir e de gerar valor não só para o presente, mas também para as gerações futuras. Em relação ao papel gerencial, assume-se que há uma transição em curso que extrapola as funções administrativas típicas, como planejamento, organização, liderança e controle, chegando ao campo da influência, da adaptação a diferentes contextos, da imprevisibilidade, do pensamento para além das cercas mentais e da convivência com os paradoxos. Os dados foram coletados via triangulação, ao articular a realização de entrevistas semiestruturadas com dez profissionais do corpo diretivo e técnico da escola, com análise documental e observação assistemática. As evidências apontam que há esforços da escola para viabilizar seus projetos pedagógicos com base em pressupostos de uma educação voltada para a sustentabilidade, ao disponibilizar um ambiente de aprendizagem experiencial, colaborativo, coletivo e interdisciplinar, e promover a educação de pessoas reflexivas, conscientes, autônomas, com visão ampliada e responsável por suas ações. Entretanto, a escola vive situações paradoxais ao atender às demandas de um mundo corporativo, que ainda insiste em práticas gerenciais que já não são mais suficientes para o modelo de negócios em ambientes sustentáveis, uma vez que o universo corporativo ainda vivencia a lógica econômica e utilitarista de curto prazo, que se contrapõe à lógica sustentável e de longo prazo.
Palavras-chave: Educação gerencial; Sustentabilidade; Educação para sustentabilidade; Ambiente de negócios; Escola de negócios.
(RE)PRODUÇÃO DO HETEROSSEXISMO E DA HETERONORMATIVIDADE NAS RELAÇÕES DE TRABALHO: A DISCRIMINAÇÃO DE HOMOSSEXUAIS POR HOMOSSEXUAIS
ELOISIO MOULIN DE SOUZA e SEVERINO JOAQUIM NUNES PEREIRA
RESUMO
Este artigo estudou a possível existência de discriminação no local de trabalho praticada por homossexuais contra homossexuais. Inicialmente foram analisadas pesquisas brasileiras e norte-americanas que envolvem o estudo da discriminação de homossexuais no local de trabalho. Também foram apresentados os conceitos de heterossexismo e heteronormatidade, bem como os seus efeitos sobre a discriminação de homossexuais, além da relação desses conceitos com a concepção de identidade homossexual. A pesquisa foi do tipo qualitativa, e, como instrumento de coleta de dados, utilizou-se um roteiro de entrevista semi–estruturado dividido em dois grandes blocos de perguntas. O primeiro bloco intenta entender a história de vida de cada sujeito e a maneira como ele lida com sua sexualidade no meio social em que está inserido. O segundo bloco está diretamente relacionado com o histórico e a vivência profissional dos trabalhadores. Foram entrevistados oito homossexuais trabalhadores de empresa pública e de economia mista do setor de serviços. As entrevistas foram analisadas por meio da técnica de análise do discurso (AD) desenvolvida por Michel Foucault. Conclui-se que os homossexuais têm preconceitos e discriminam homossexuais no local de trabalho. Verificou-se que a discriminação exercida contra homossexuais é algo presente no discurso dos entrevistados, pois estes materializam preconceitos em atitudes direcionadas a outros homossexuais, como não sair em público com pessoas afeminadas. Isso ocorre porque toda classificação identitária atua como um dispositivo de poder (re)produtor de valores e discursos que manifestam as relações de poder já estabelecidas na sociedade. Verificou-se que, quando os homossexuais entrevistados manifestam forte discriminação e repulsa a outros sujeitos homossexuais que sejam mais afeminados, eles intentam, ao mesmo tempo, um duplo movimento que objetiva: 1. reafirmar que a característica presente em todos os homossexuais é a afeminação, característica que faz com que sejam seres inferiores dentro da escala social estabelecida, reforçando, assim, a ideia de identidade homossexual; e 2. que eles, os entrevistados, não são pessoas inferiores, pois não apresentam essa característica identitária.
Palavras-chave: Heterossexismo; Heteronormatividade; Homossexuais; Discriminação; Relações de trabalho.
A ESTRUTURA DE CAPITAL DAS MAIORES EMPRESAS BRASILEIRAS: ANÁLISE EMPÍRICA DAS TEORIAS DE PECKING ORDER E TRADE-OFF, USANDO PANEL DATA
CARLOS ALBERTO CORREA, LEONARDO FERNANDO CRUZ BASSO e WILSON TOSHIRO NAKAMURA
RESUMO
Pesquisas sobre estrutura de capital das empresas são consideradas dentre as mais relevantes na área de finanças. Diversas abordagens teóricas têm sido discutidas e testadas na literatura financeira. Este estudo buscou analisar o nível de endividamento das maiores empresas brasileiras, à luz das duas principais teorias que versam sobre o assunto, a teoria de Pecking Order e a teoria de trade–off, testando seus determinantes. A teoria do Pecking Order sugere a existência de uma hierarquia no uso de fontes de recursos, enquanto a teoria de trade-off considera a existência de uma estrutura meta de capital que seria perseguida pela empresa. O estudo é uma adaptação do artigo de Gaud et al. (2005), cujo trabalho serviu como base e principal referência para a escolha das principais variáveis e dos testes econométricos realizados. Tal como Gaud et al. (2005), desenvolvemos as análises estatísticas utilizando a metodologia de Panel Data, que considera os dados da amostra em corte transversal e longitudinal. Além de testes estáticos, foram feitos testes dinâmicos, com o objetivo de analisar o processo de ajuste da estrutura de capital ao longo do tempo, em direção a um suposto nível-alvo ótimo. Os resultados demonstraram relação negativa entre o nível de endividamento das empresas e o grau de tangibilidade dos ativos e a rentabilidade, bem como relação positiva do endividamento com o risco. Demonstraram ainda que empresas de capital estrangeiro são mais endividadas que empresas nacionais. De um modo geral, os resultados sugerem que a teoria de Pecking Order é mais consistente do que a teoria de trade-off para explicar a estrutura de capital das companhias abertas brasileiras. Em especial, destacamos a relação negativa entre endividamento e rentabilidade, confirmando vários outros resultados de pesquisa obtidos na realidade brasileira. A análise dinâmica demonstrou baixa velocidade do processo de ajuste da estrutura de capital em direção ao nível-alvo, sugerindo a existência de elevados custos de transação e confirmando o comportamento de Pecking Order dos administradores.
Palavras-chave: Dinâmica Panel Data; Capital estrutural; TOT; POT; Tangibilidade dos ativos e a rentabilidade.
GOVERNANÇA CORPORATIVA, EFICIÊNCIA, PRODUTIVIDADE E DESEMPENHO
ROBERTO DO NASCIMENTO FERREIRA, ANTÔNIO CARLOS DOS SANTOS, ANA LÚCIA MIRANDA LOPES, LUIZ GUSTAVO CAMARANO NAZARETH e REINALDO APARECIDA FONSECA
RESUMO
Há um grande número de pesquisas cujo objetivo principal é a busca por uma relação empírica entre governança corporativa e desempenho. Os estudos que visam demonstrar essa relação caracterizam-se pela utilização de indicadores contábeis e indicadores de análise de ações, conjugados com o uso de métodos econométricos. No entanto, existem sugestões para que se estabeleçam medidas alternativas de desempenho, como a utilização de análises não paramétricas. Mensurar o desempenho com o uso de outras técnicas de análise, para avaliar a relação entre governança corporativa e desempenho, representa uma contribuição relevante para esse campo de estudo. Por meio da utilização da técnica não paramétrica da análise envoltória de dados, o objetivo principal deste trabalho é verificar se existem diferenças entre a eficiência técnica e a produtividade de empresas dos segmentos de governança corporativa com a eficiência técnica e a produtividade de empresas de outros segmentos da Bovespa. A aplicação do teste t de diferença de médias demonstrou que não há diferenças estatisticamente significativas entre os escores de eficiências técnica dos grupos de empresas com e sem governança. No entanto, nos anos de 2008 e 2009 as empresas com ações negociadas em outros segmentos da Bovespa apresentaram um melhor nível de eficiência técnica. Resultados semelhantes foram verificados com o índice de produtividade de Malmquist. Com a finalidade de estabelecer parâmetros na comparação do desempenho obtido por meio dos escores de eficiência, foram analisadas as métricas tradicionais de mensuração do valor, Q de Tobin e Valor da Empresa. Observou-se, nos três anos analisados, que o valor de mercado das empresas dos segmentos de governança corporativa é inferior ao das empresas de outros segmentos de negociação de ações. Esta pesquisa avança em relação a contribuições anteriores por ter como foco a determinação do desempenho, também, por meio da mensuração da eficiência técnica e do crescimento da produtividade. Os resultados permitem um novo ângulo de análise na avaliação das empresas, de forma específica para a adoção de boas práticas de governança corporativa.
Palavras-chave: Governança corporativa; Eficiência técnica; Índice de Malmquist; Análise envoltória de dados; Produtividade.
USO DE ANÁLISE ESPECTRAL E REGRAS DE FILTRAGEM EM OPERAÇÕES COM CONTRATOS FUTUROS DE SOJA NO BRASIL
WALDEMAR ANTÔNIO DA ROCHA DE SOUZA, MANOEL MARTINS DO CARMO FILHO, JOÃO GOMES MARTINES FILHO e PEDRO VALENTIM MARQUES
RESUMO
Objetivou-se examinar a hipótese de eficiência semiforte de mercado (HEM) nos contratos futuros de soja do Brasil, negociados na BM&F-Bovespa, aplicando análise espectral e regras de filtragem. Os resultados comparados da teoria indicam conclusões diversas quanto à HEM em mercados futuros de commodities agropecuárias. Entretanto, a eficiência semiforte de mercado parece não se confirmar em preços futuros de soja. Após o teste, rejeitou-se o modelo de passeio aleatório para os preços futuros de ajuste da soja brasileiros. A avaliação ilustrou o potencial de arbitragem dos contratos, classificado posteriormente aplicando-se regras de filtragem com base em diversos intervalos de variação percentual dos preços de ajuste do grão na bolsa. Compuseram-se diversas estratégias operacionais de compra e venda no período amostral entre 2004 e 2010 com base nos intervalos. Classificando os resultados financeiros e percentuais de acertos lucrativos dos negócios, identificaram-se determinados subperíodos com maior incidência de ganhos positivos. A diferença entre os resultados pode ser atribuída ao recente regime de preços de commodities, prevalecente no mercado após 2008. Também, o potencial de lucratividade possibilita atrair novas operações de hedge e especulativas para o mercado futuro de soja brasileiro, aumentando o volume de negócios no mercado futuro de soja da BM&F-Bovespa. A lucratividade potencial examinada pode atrair novas operações de hedge e especulação, incrementando o volume negociado. O aumento dos negócios consolidará o contrato como uma alternativa eficiente de mitigação de risco e geradora de operações lucrativas no mercado futuro agropecuário brasileiro. Adicionalmente, o processo de descoberta de preços avaliando a constelação de preços futuros de um contrato desenhado com as características próprias da soja brasileira aumentará a eficácia administrativa do processo de comercialização do grão. A análise é inédita na literatura brasileira.
Palavras-chave: Análise espectral; Regras de filtragem; Mercado futuro; Soja; BM&F-Bovespa.
ATORES SOCIAIS E CAMPO ORGANIZACIONAL: ESTRATÉGIAS DISCURSIVAS E DE MOBILIZAÇÃO DE RECURSOS NA CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO AVÍCOLA NA COOPERATIVA AGROINDUSTRIAL COPAGRIL
JOSUÉ ALEXANDRE SANDER e CLEVERSON RENAN DA CUNHA
RESUMO
O artigo tem o objetivo de analisar como os atores sociais utilizaram estratégias discursivas e mobilizaram recursos no processo de adoção de uma estratégia de diversificação, já que esta estava presente no campo organizacional. São utilizados como base teórica os pressupostos da teoria institucional, especialmente os temas que analisam a agência e a mudança como o empreendedorismo institucional. Também é descrito o processo de circulação da ideia pelo campo organizacional, destacando o papel dos condutores e das organizações de referência. Para compreender como ocorre esse processo, foi realizado um estudo empírico, com abordagem qualitativa. A estratégia utilizada foi o estudo de caso da construção do complexo avícola da Cooperativa Agroindustrial Copagril. O trabalho, baseado nos estudo de empreendedorismo institucional, agrupa as ações desempenhadas pelos atores em duas categorias: mobilização de recursos (de ordem financeira e social) e o uso do discurso. A análise demonstra que os atores sociais atuaram ativamente em um processo de mudança convergente, sendo fundamentais para identificar a ideia, mobilizar recursos e construir raciocínios para apoiar a ideia apresentada. Também é relatada a importância da construção de significados, que serão compartilhados pelos atores sociais, para apoiar a estratégia adotada pela organização. O processo de construção dos significados foi auxiliado pela existência de organizações no campo que adotavam a ideia e que foram utilizadas como referência. A análise também destacou a importância dos sistemas relacionais como condutores da ideia até a organização e a influência das organizações de referências no processo de identificação da ideia. A originalidade da pesquisa está presente na análise do papel dos indivíduos no processo de adoção de uma ideia presente no campo organizacional, diferenciando-se dos estudos de empreendedorismo institucional que analisam a adoção de uma ideia inovadora no campo organizacional. Outra contribuição relevante é o foco no trabalho prático desempenhado pelos atores sociais no processo de adoção de uma estratégia, que pode gerar pontes de conversação entre quem estuda organizações e quem trabalha nelas, incentivando a tradução das ideias institucionais em discursos não acadêmicos.
Palavras-chave: Trabalho institucional; Cooperativas; Atores sociais; Empreendedorismo institucional; Difusão.
PLANEJAMENTO DE REDES LOGÍSTICAS: UM ESTUDO DE CASO NA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA BRASILEIRA
LUIZ FELIPE DE MEDEIROS FRIAS, ISABEL DE ABREU FARIAS e PETER FERNANDES WANKE
RESUMO
O planejamento de redes logísticas emerge como decisão estratégica a ser tomada na busca da manutenção da competitividade empresarial. O presente estudo desenvolveu um modelo de Programação Não Linear Inteira Mista contemplando os principais componentes de custo envolvidos no processo de planejamento de redes associados à realidade brasileira: transportes, estoques e tributos. O modelo foi testado na empresa Nova Braskem. Foram realizadas análises de sensibilidade em que se apreciaram os principais trade-offs relativos às premissas assumidas. Constatou-se que, no caso estudado, o modelo desenvolvido proporciona economia nos custos tributários e nos custos logísticos de transporte, e, consequentemente, nos custos totais. Mais precisamente, os resultados apontam que, apesar da importância dos custos de transporte ante os demais, o aspecto fiscal se apresentou como o principal potencial de retorno financeiro a ser perseguido, e, dessa maneira, foi possível demonstrar o valor associado à questão dentro da atmosfera empresarial brasileira. Para o design ótimo de uma rede, confirma-se, portanto, a tese de que não é plausível a dissociação entre logística e planejamento tributário. Ademais, dada a natureza do estudo de caso, é factível a consideração do planejamento de redes logísticas como um importante ferramental capaz de subsidiar a busca de sinergias em operações de fusões e aquisições de empresas. Há, por exemplo, diversos outros casos recentes no cenário empresarial brasileiro, como a fusão entre Sadia e Perdigão e entre outras empresas do agronegócio. Para dar continuidade aos estudos dos trade-offs entre logística e os aspectos tributários brasileiros, sugere-se a inclusão de novos tributos (PIS, Cofins etc.) e a concessão de benefícios fiscais na modelagem de redes logísticas futuras. Especificamente com relação ao estudo de caso, observa-se que a forma de agregação dos mercados consumidores deve ser aprimorada, uma vez que a disposição de clientes na indústria petroquímica é bastante pulverizada. A correlação entre as demandas igualmente poderia ser analisada em um estudo de caso futuro. Finalmente, a fim de examinar as conclusões encontradas, sugere-se a aplicação do modelo desenvolvido em outros estudos de caso.
Palavras-chave: Planejamento de redes logísticas; Programação não linear inteira mista; Indústria petroquímica; Nova Braskem; Estudo de caso.
número 5
APRESENTAÇÃO
WALTER BATAGLIA
ARRANJO PRODUTIVO LOCAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA RELAÇÃO SINÉRGICA NO MUNICÍPIO DE MARCO (CE)
RAFAELLA ALVES MEDEIROS ALVARENGA, FÁTIMA REGINA NEY MATOS, DIEGO DE QUEIROZ MACHADO, MICHELLE DO CARMO SOBREIRA e LORENA BEZERRA DE SOUZA MATOS
RESUMO
Com a evolução do próprio conceito de desenvolvimento, mediante o fortalecimento do paradigma da sustentabilidade, torna-se necessária uma evolução das discussões em torno dos arranjos produtivos locais (APLs) que incorpore ponderações acerca de tais dimensões. Dessa forma, este estudo tem como objetivo geral analisar a ocorrência de práticas de desenvolvimento sustentável, com base no modelo triple bottom line, em um arranjo produtivo local. Para tanto, escolheu-se como campo empírico de estudo um APL de móveis localizado no município de Marco, no Estado do Ceará. Sua escolha para este trabalho se deveu tanto às características desse tipo de atividade, que, por depender da extração e utilização de recursos naturais, principalmente a madeira, apresenta grande relação com questões da dimensão ambiental da sustentabilidade, quanto ao reconhecimento do forte desempenho econômico do APL de Marco, que fez com que a cidade fosse reconhecida como um dos maiores polos moveleiros do Norte e Nordeste do país. Procurou-se identificar demonstrações econômicas (profit), sociais (people) e ambientais (planet), bem como verificar a ocorrência de sinergia na relação arranjo produtivo e desenvolvimento sustentável. Na revisão da literatura, foram construídos tópicos sobre a abordagem teórica de arranjos produtivos locais, o papel do empresário político ou empresário coletivo, o desenvolvimento sustentável e o modelo triple bottom line. A metodologia fundamentou-se em abordagem qualitativa, cujas técnicas de coleta foram a entrevista semiestruturada, a observação e um corpus documental. Foram escolhidos intencionalmente e por acessibilidade seis empreendedores. Pode-se concluir que, com base no modelo triple bottom line, estão presentes algumas características de desenvolvimento sustentável, principalmente relacionadas às dimensões ambiental (planet) e econômica (profit). A dimensão social (people) ainda precisa ser aperfeiçoada, o que pode acontecer pela influência do agente sinérgico ou empresário político. Em suma, este estudo contribui para o entendimento acerca das relações entre as diversas dimensões do desenvolvimento sustentável e as práticas observadas no contexto dos APLs.
Palavras-chave: Desenvolvimento sustentável; Arranjo produtivo local; Triple bottom line; Relação sinérgica; Polo moveleiro.
ESTUDOS DE CASO NO ENSINO DA ADMINISTRAÇÃO: O ERRO CONSTRUTIVO LIBERTADOR COMO CAMINHO PARA INSERÇÃO DA PEDAGOGIA CRÍTICA
LILIAN BAMBIRRA DE ASSIS, ANA PAULA PAES DE PAULA, RAQUEL DE OLIVEIRA BARRETO e GLAUCE VIEGAS
RESUMO
Neste artigo, partiu-se do pressuposto de que o erro construtivo, como hipótese a respeito de um determinado conhecimento, é uma forma provisória de saber que coloca em questão a ideia de que o acerto ocorre quando há exata correspondência com a resposta prevista pelo educador, o que frequentemente impõe obstáculos à reflexão e à capacidade criativa. Como contraponto, buscou-se analisar como casos de fracasso e suas distintas formas de aplicação podem contribuir para uma experiência formativa diferenciada dos alunos. Recorreu-se então à metodologia de construção de casos de ensino, que foram baseados em pesquisa empírica com informantes-chave das organizações investigadas, complementada por dados secundários. Em uma segunda etapa, aplicaram-se os casos elaborados em diferentes situações de ensino-aprendizagem, e, com esses semiexperimentos pedagógicos, avaliou-se a efetividade dos casos de fracasso comparativamente aos casos de sucesso e as variadas possibilidades de aplicação destes. Os semiexperimentos realizados apontaram para o fato de que as seguintes variáveis podem influenciar nos resultados obtidos com a utilização do método: a forma como o caso é redigido; o método de aplicação (restritivo ou não restritivo); a disciplina em que é aplicado; o professor que leciona a disciplina; o conhecimento ou prévio contato dos principais conceitos teóricos sobre o tema abordado; e o conhecimento das práticas e métodos de estudos de caso. Assim, concluiu-se que a utilização do método do caso no ensino em Administração é mais complexa do que em geral se considera, especialmente se a intenção é de fato estimular o pensamento crítico. Para futuras pesquisas, recomendamos a realização de mais experimentos com os métodos de aplicação de estudo de caso descritos, de modo a explorar mais os resultados obtidos com o método não restritivo, especialmente no que se refere à inserção do erro construtivo libertador como caminho para a pedagogia crítica no ensino da Administração.
Palavras-chave: Estudos de caso; Ensino da Administração; Pedagogia crítica; Erro construtivo; Casos de fracasso.
VALORES ORGANIZACIONAIS EM INSTITUIÇÕES PÚBLICAS BRASILEIRAS: PERCEPÇÕES DOS SERVIDORES EM DIFERENTES POSIÇÕES HIERÁRQUICAS E TIPOS DE ENTIDADE DA ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
VIRGÍNIA DONIZETE DE CARVALHO, THAIS ALUXE DE OLIVEIRA e DANIELE CRISTHIANE DA SILVA
RESUMO
O estudo teve como objetivo identificar as percepções de servidores acerca dos valores organizacionais em instituições públicas da administração indireta federal, visando observar a ocorrência de variações segundo a posição hierárquica desses profissionais e o tipo de entidade analisada. Com esse propósito, focalizaram-se quatro instituições, utilizando uma amostra de 128 servidores, aos quais foi aplicado o Inventário de Valores Organizacionais (TAMAYO; MENDES; PAZ, 2000). Os resultados apontaram que, não obstante a concordância entre gestores e subordinados sobre o conjunto de valores que constituem as prioridades axiológicas das instituições analisadas, os primeiros julgam que são mais relevantes os valores de autonomia, e os segundos, os de hierarquia. Quanto às prioridades axiológicas nas diferentes entidades, as percepções apontam alguns elementos de diferenciação representados pela importância dos valores de autonomia para a autarquia e a fundação pública e dos de domínio para a empresa pública e a sociedade de economia mista. Prevalece, entretanto, a similaridade na hierarquização de valores nessas instituições, com maior ênfase na hierarquia e no conservadorismo, demonstrando que, a despeito das iniciativas implementadas a partir da reforma gerencial nos anos 1990, essas instituições seguem caracterizadas principalmente por princípios relacionados à conservação de sua estrutura, costumes, normas e tradições, além de expressarem foco na autoridade, na obediência e no poder social. As implicações, limitações e contribuições do estudo são discutidas, com sugestões para pesquisas futuras.
Palavras-chave: Valores organizacionais; Percepção de valores; Servidores públicos; Instituições públicas; Administração indireta.
UMA ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE GOVERNANÇA CORPORATIVA E ACURÁCIA DAS PREVISÕES DOS ANALISTAS DO MERCADO BRASILEIRO
FLÁVIA ZÓBOLI DALMÁCIO, ALEXSANDRO BROEDEL LOPES, AMAURY JOSÉ REZENDE e ALFREDO SARLO NETO
RESUMO
O objetivo deste artigo é investigar, sob a perspectiva da teoria da sinalização, a influência da adoção de práticas diferenciadas de governança corporativa sobre a acurácia das previsões do consenso (média das previsões dos lucros) dos analistas de investimento do mercado brasileiro. Investigou-se essa relação em virtude da ausência de uma teoria bem desenvolvida a respeito da natureza complexa e multidimensional da governança corporativa. A acurácia das previsões dos analistas foi mensurada a partir de metodologias propostas na literatura nacional e internacional. Como proxy para adoção de práticas diferenciadas de governança corporativa, foram utilizados os níveis diferenciados de governança corporativa da BM&FBovespa (Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado). A amostra de trabalho da pesquisa foi composta por 105 empresas de capital aberto com ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo e que possuíam cobertura regular dos analistas de mercado, durante o período de 2000 a 2008. Foram consideradas tanto as instituições financeiras quanto as não financeiras, totalizando 2.352 observações. De acordo com os resultados encontrados, há evidências de que a governança corporativa influencia positivamente a acurácia das previsões dos analistas de investimento. Desse modo, pode-se considerar que a adoção de práticas diferenciadas de governança corporativa representa um sinal positivo, emitido pelas empresas ao mercado de capitais, capaz de influenciar a acurácia das previsões do consenso dos analistas de investimento do mercado nacional, e que esse sinal representa parâmetros na mudança da probabilidade condicional que definem as crenças, tanto dos analistas na elaboração de suas previsões e recomendações quanto dos investidores na escolha de suas aplicações. Entende-se que este trabalho contribui não apenas para a literatura a respeito de governança corporativa e previsão de analistas, mas também para o mercado de capitais brasileiro (analistas, investidores, auditores, bancos, instituições de investimento, agências de rating, fundos de pensão, órgãos reguladores, associações, bolsas de valores, próprias empresas, gestores, entre outros), ao demonstrar os benefícios diretos e indiretos da adoção de práticas diferenciadas de governança corporativa por parte das empresas brasileiras.
Palavras-chave: Governança corporativa; Acurácia; Previsões; Analistas; Sinalização.
HIERARQUIA DE METAS DO CONSUMIDOR PARA DIFERENTES NÍVEIS DE AUTOCONEXÃO COM A MARCA: UM ESTUDO SOBRE A RELAÇÃO DOS CORREDORES DE RUA COM A MARCA DE SEU TÊNIS DE CORRIDA
AUREA CRISTINA MAGALHÃES NIADA e PAULO DE PAULA BAPTISTA
RESUMO
Este estudo apresenta contribuição à literatura de marketing ao procurar compreender se as pessoas que desenvolvem maiores níveis de autoconexão com a marca apresentam estruturas de metas diferenciadas daquelas que mostram níveis menores, associando dessa forma duas importantes teorias da área de comportamento do consumidor: metas de consumo e autoconexão com marcas. Os consumidores apresentam distintas hierarquias de metas de consumo, e isso pode resultar em diferentes níveis de envolvimento com produtos e marcas. Em algumas situações, o envolvimento do comprador é tão intenso que as marcas são utilizadas para a construção e/ou representação de seu autoconceito, surgindo assim a autoconexão com a marca. A fim de atender ao objetivo proposto, esta pesquisa foi realizada em duas etapas: primeiro, foram feitas entrevistas em profundidade por meio da técnica de laddering, para identificar as principais metas dos praticantes de corrida de rua no processo de escolha de um tênis de corrida. Com base nas informações levantadas na primeira fase, na segunda etapa, foi conduzido um estudo descritivo via internet com 352 corredores de rua, no qual se utilizou a Técnica Padrão de Associação (Association Pattern Technique – APT). Essa etapa buscou identificar as relações entre três níveis da hierarquia de metas: focais, subordinadas e superiores. De forma geral, a amostra pesquisada demonstrou uma estrutura de metas caracterizada por uma forte presença de aspectos funcionais relativos ao consumo do produto, porém constataram-se diferenças importantes nessas hierarquias entre os grupos de alta e baixa autoconexão com a marca. O grupo de alta autoconexão com marcas demonstrou ligações relativas a aspectos simbólicos e sociais, como necessidade de integração a um grupo, de ser percebido como uma pessoa que pratica a corrida de rua e importância atribuída à beleza do produto como forma de reconhecimento social, enquanto o grupo com baixa autoconexão com a marca não demonstrou essas ligações, apresentando somente vínculos mais funcionais.
Palavras-chave: Autoconexão com a marca; Metas de consumo; Cadeias meios-fim; Técnica Padrão de Associação (APT); Hierarquia de metas.
CRIAÇÃO DE EMPRESAS POR MULHERES: UM ESTUDO COM EMPREENDEDORAS EM NATAL, RIO GRANDE DO NORTE
HILKA PELIZZA VIER MACHADO, SEBASTIÃO GAZOLA e MIGUEL EDUARDO MORENO ANEZ
RESUMO
Empreendedoras iniciam negócios predominantemente nos setores de comércio e serviços (RICHARDSEN; BURKE, 2000; SANNER, 2000; SOLTÉSZ, 2000), sendo geralmente pequenos negócios (BAYGAN, 2000; BOCHNIARZ, 2000; RICHARDSEN; BURKE, 2000; SANNER, 2000; ZAPALSKA, 1997), e a maioria deles não começa com mais do que dez empregados (MORRIS et al., 2006). Mulheres encontram dificuldades para empreender, tais como: longas horas de trabalho, pressões familiares, conflitos com sócios e pouco acesso a financiamentos e redes (LITUCHY; REAVLEY, 2004; MATHEW, 2010; WINN, 2005). No entanto, há pouco conhecimento sobre aspectos associados à criação de empresas. Assim, o objetivo desta pesquisa foi compreender as razões e dificuldades encontradas por mulheres para criação das empresas. Avaliaram-se ainda possíveis associações entre dificuldades, razões e o montante do capital inicial, a idade das empreendedoras, o estado civil, a ocupação anterior e o ano de criação das empresas. A pesquisa foi feita em Natal, capital do Rio Grande do Norte. A amostra foi constituída por 96 empreendedoras. O instrumento para coleta de dados foi um questionário estruturado. A análise dos dados foi feita por meio da estatística descritiva, incluindo média ponderada, correlação linear e análise de frequências simples. Ademais, utilizou-se a análise de clusters para identificar, por meio do software Statistica 8.0, grupos de atributos similares. Para investigar a relação entre as dificuldades encontradas e o capital inicial, utilizou-se o coeficiente de correlação linear de Pearson, e, para verificar a existência de associação entre as outras variáveis, adotou-se o teste exato de Fisher. No estudo, constataram-se três razões principais para abrir a empresa: “Queria ganhar muito dinheiro”, “Estava insatisfeita com o trabalho anterior” e “Queria ganhar dinheiro”. As principais dificuldades para a criação das empresas foram: falta de experiência no ramo, filhos pequenos, falta de tempo para participar em redes, dificuldade em obter capital inicial e falta de apoio da família. O montante do capital inicial não apresentou associação com razões ou dificuldades de criação das empresas. Do mesmo modo, a idade das empreendedoras e o ano de criação não mostraram associação com as variáveis dificuldades e razões de criação.
Palavras-chave: Empreendedorismo; Empreendedoras; Criação de empresas; Processo empreendedor; Mulher empreendedora.
DIANA ESTER ALBANESE, ANAHÍ EUGENIA BRIOZZO, ÁNGEL AGUSTÍN ARGAÑARAZ e HERNÁN PEDRO VIGIER
RESUMO
A motivação desta pesquisa reside na importância da disponibilidade de informações para os usuários internos e externos à empresa, e do papel fundamental do sistema de informação contábil no registro de operações desta. O objetivo do presente trabalho é analisar os determinantes da terceirização dos serviços de informação contábil nas pequenas e médias empresas (PME), partindo de duas perspectivas: a teoria dos custos de transação (TCT) e a visão baseada nos recursos (VBR). As duas abordagens concluem que aquelas atividades que não são específicas nem essenciais a uma empresa devem ser terceirizadas, visando melhorar sua competitividade. Este estudo procurou mostrar que o tamanho dos clientes e/ou fornecedores da firma, o uso da informação contábil na tomada de decisões, o uso de tecnologias de informação, a forma de organização jurídica, o tamanho e a antiguidade da empresa têm uma relação significativa com o nível de terceirização do serviço de informação contábil. Os dados utilizados neste trabalho foram coletados por meio de uma pesquisa de campo realizada com 159 PMEs da cidade de Bahía Blanca, na Argentina, durante o período de julho a outubro de 2010. Os resultados, obtidos mediante regressão probit e regressão probit ordinal, confirmam todas as hipóteses levantadas, exceto as que se referem ao tamanho da empresa e ao tipo de clientes e fornecedores. Esses resultados demonstram a importância da especificidade dos ativos como variável determinante nas decisões de terceirização, concordando com o esperado dentro dos fundamentos teóricos da TCT e da VBR, além de serem similares aos observados em vários estudos empíricos realizados em outros países. Como futura linha de investigação, a terceirização da contabilidade, como de costume para a parte de pequenas e médias empresas, merece uma análise relacionada com a independência do auditor.
Palavras-chave: Terceirização (outsourcing); Serviços da contabilidade; Teoria dos Custos de Transação (TCT); Visão Baseada nos Recursos (VBR); Probit.
ATITUDE EMPREENDEDORA: VALIDAÇÃO DE UM INSTRUMENTO DE MEDIDA COM BASE NO MODELO DE RESPOSTA GRADUAL DA TEORIA DA RESPOSTA AO ITEM
EDA CASTRO LUCAS DE SOUZA, GUMERSINDO SUEIRO LOPEZ JÚNIOR, ANTÔNIO CEZAR BORNIA e LUCIANO RICARDO RATH ALVES
RESUMO
A escala instrumento de medida de atitude empreendedora (Imae), desenvolvida por Souza e Lopes Jr. (2005), contém duas dimensões: prospecção e inovação, e gestão e persistência. Com a finalidade de verificar a validade e o intervalo em que propicia a medida de atitude empreendedora, além de investigar sua capacidade de discriminar a resposta que o indivíduo está apto a dar, o objetivo deste artigo é validar a escala Imae por meio do modelo de resposta gradual da teoria da resposta ao item (TRI), que revolucionou a teoria de medidas. A TRI, construtos da psicologia utilizados em estudos de discriminação de respostas, em especial em grandes amostras de respondentes a um determinado fenômeno, é constituída de modelos matemáticos que relacionam um ou mais traços latentes (não observados) de um indivíduo com a probabilidade de este dar uma determinada resposta a um item. O ponto crucial da TRI é que ela leva em consideração o item particularmente, sem relevar os escores totais, portanto as conclusões não dependem apenas do teste ou questionário, mas de cada elemento que o compõe. Os principais resultados encontrados foram a identificação de dois níveis da escala, denominados âncoras, que permitem interpretar tendências de pessoas com atitude empreendedora e a constatação de que os itens da escala Imae apresentam boa capacidade de discriminar a resposta que o indivíduo está apto a dar, o que confere qualidade aos itens e, portanto, à escala. A importância deste estudo reside no papel fundamental que a atitude desempenha nas escolhas que as pessoas fazem em relação à própria vida, de modo a ajudá-las a determinar seus próprios atos.
Palavras-chave: Atitude; Atitude empreendedora; Empreendedorismo; Teoria da resposta ao item; Medidas e métodos.
m apenas do teste ou questionário, mas de cada elemento que o com–põe. Os principais resultados encontrados foram a identificação de dois níveis da escala, denominados âncoras, que permitem interpretar tendências de pes-soas com atitude empreendedora e a constatação de que os itens da escala Imae apresentam boa capacidade de discriminar a resposta que o indivíduo está apto a dar, o que confere qualidade aos itens e, portanto, à escala. A importância deste estudo reside no papel fundamental que a atitude desempenha nas escolhas que as pessoas fazem em relação à própria vida, de modo a ajudá-las a determinar seus próprios atos.PALAVRAS-CHAVEAtitude; Atitude empreendedora; Empreendedorismo; Teoria da resposta ao item; Medidas e métodos.
número 6 - Fórum Especial Temático sobre Gestão Social
APRESENTAÇÃO
WALTER BATAGLIA
INTRODUÇÃO AO FÓRUM SOBRE GESTÃO SOCIAL
YEDA SWIRSKI DE SOUZA e LUIZ PAULO BIGNETTI
GESTÃO SOCIAL SOB A LENTE ESTRUTURACIONISTA
MIGUEL RIVERA PERES JÚNIOR, JOSÉ ROBERTO PEREIRA e LUCAS CANESTRI DE OLIVEIRA
RESUMO
A Gestão Social – como campo de estudo e como prática social – tem buscado se consolidar como um tipo de gestão pública não estatal, em que a sociedade é a protagonista da ação. Grande parte dos estudos da área fundamenta-se na perspectiva crítica, em especial na teoria da ação comunicativa de Habermas. Pretende-se, aqui, indicar um novo caminho teórico para a análise da Gestão Social, fundamentado na Teoria da Estruturação, proposta pelo sociólogo inglês Anthony Giddens. Tendo entre seus principais pressupostos a dualidade da estrutura (a estrutura é, ao mesmo tempo, meio e resultado da ação) e o reconhecimento da ação humana como intencional, reflexiva e cognoscitiva, entende-se que a perspectiva estruturacionista fornece subsídios consistentes para a compreensão das práticas de Gestão Social, especialmente no que diz respeito ao processo de estruturação do sistema deliberativo e da formação da esfera pública, bases de sustentação teórica da Gestão Social. Para viabilizar essa nova abordagem, este artigo propõe um arcabouço teórico que incorpora o sistema deliberativo de Mansbridge (1999) ao modelo estruturacionista multidimensional de sistemas sociais de Whittington (1992). Neste arcabouço, à semelhança do que foi estabelecido por Whittington (1992) para os demais sistemas sociais, são definidos as regras e os recursos básicos (as propriedades estruturadas na perspectiva giddensiana) do sistema deliberativo, respectivamente, argumentação deliberativa e participação dialógica. O arcabouço sugere, ainda, que essas propriedades são, simultaneamente, meio e resultado das práticas de gestão social (entendida como ação gerencial dialógica) configurando aquela que é a concepção central da Teoria da Estruturação: a noção de dualidade da estrutura. Com seu framework, Whittington (1992) entende que está “colocando Giddens em ação”, contribuindo para que a Teoria da Estruturação seja utilizada em pesquisas empíricas, não se restringindo às discussões ontológicas. Com a agregação de um sistema deliberativo a esse modelo, acredita-se que se possa contribuir para a consolidação da Gestão Social, estabelecendo uma interface teórica profícua com a Teoria da Estruturação.
Palavras-chave: Gestão Social; Teoria da Estruturação; Práticas sociais; Sistema Deliberativo; Dualidade da estrutura.
tema deste artigo é a análise do processo socioeducativo presente que ocor-re como resultado da participação de pessoas e grupos em movimentos de economia solidária e da contribuição da universidade nesse processo, por meio de projetos de extensão universitária. Destarte, apresenta como objeto de estudo um projeto de extensão universitária em setor de baixa renda, na região do Grande ABC Paulista. Três indagações auxiliaram nessa análise, são elas: 1. Os movimentos de economia solidária possibilitam o desenvolvimento da consciência de cidadania daqueles que neles participam?; 2. Quais são as características do processo socioeducativo presente em movimentos de eco-nomia solidária?; 3. A ação da universidade acelera o processo socioeducativo dos indivíduos e grupos que participam no movimento de economia solidária? Dessa forma, um dos objetivos do artigo foi a compreensão das características dos movimentos de economia solidária, especificamente no que diz respeito aos processos socioeducativos presentes em tais movimentos. Buscou, também, caracterizar a participação da universidade, enxergando-a como um possível sujeito presente nesses processos. Ao desenvolver tal análise, o artigo pretendeu chegar a uma compreensão sobre a contribuição da universidade ao processo socioeducativo inerente à participação no movimento. A análise baseou-se n
tema deste artigo é a análise do processo socioeducativo presente que ocor-re como resultado da participação de pessoas e grupos em movimentos de economia solidária e da contribuição da universidade nesse processo, por meio de projetos de extensão universitária. Destarte, apresenta como objeto de estudo um projeto de extensão universitária em setor de baixa renda, na região do Grande ABC Paulista. Três indagações auxiliaram nessa análise, são elas: 1. Os movimentos de economia solidária possibilitam o desenvolvimento da: consciência de cidadania daqueles que neles participam?; 2. Quais são as características do processo socioeducativo presente em movimentos de eco-nomia solidária?; 3. A ação da universidade acelera o processo socioeducativo dos indivíduos e grupos que participam no movimento de economia solidária? Dessa forma, um dos objetivos do artigo foi a compreensão das características dos movimentos de economia solidária, especificamente no que diz respeito aos processos socioeducativos presentes em tais movimentos. Buscou, também, caracterizar a participação da universidade, enxergando-a como um possível sujeito presente nesses processos. Ao desenvolver tal análise, o artigo pretendeu chegar a uma compreensão sobre a contribuição da universidade ao processo socioeducativo inerente à participação no movimento. A análise baseou-se n
tema deste artigo é a análise do processo socioeducativo presente que ocor-re como resultado da participação de pessoas e grupos em movimentos de economia solidária e da contribuição da universidade nesse processo, por meio de projetos de extensão universitária. Destarte, apresenta como objeto de estudo um projeto de extensão universitária em setor de baixa renda, na região do Grande ABC Paulista. Três
PAPEL E RESPONSABILIDADES DA UNIVERSIDADE NO PROCESSO SOCIOEDUCATIVO PRESENTE EM MOVIMENTOS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA
SILVIA GATTAI e MARCO AURÉLIO BERNARDES
RESUMO
O tema deste artigo é a análise do processo socioeducativo presente que ocorre como resultado da participação de pessoas e grupos em movimentos de economia solidária e da contribuição da universidade nesse processo, por meio de projetos de extensão universitária. Destarte, apresenta como objeto de estudo um projeto de extensão universitária em setor de baixa renda, na região do Grande ABC Paulista. Três indagações auxiliaram nessa análise, são elas: 1. Os movimentos de economia solidária possibilitam o desenvolvimento da consciência de cidadania daqueles que neles participam?; 2. Quais são as características do processo socioeducativo presente em movimentos de economia solidária?; 3. A ação da universidade acelera o processo socioeducativo dos indivíduos e grupos que participam no movimento de economia solidária? Dessa forma, um dos objetivos do artigo foi a compreensão das características dos movimentos de economia solidária, especificamente no que diz respeito aos processos socioeducativos presentes em tais movimentos. Buscou, também, caracterizar a participação da universidade, enxergando-a como um possível sujeito presente nesses processos. Ao desenvolver tal análise, o artigo pretendeu chegar a uma compreensão sobre a contribuição da universidade ao processo socioeducativo inerente à participação no movimento. A análise baseou-se nos conceitos de economia solidária, processo de aprendizagem individual e grupal e educação emancipadora. Foi utilizado o método qualitativo de pesquisa denominado pesquisa-ação. Esse método possibilita a participação do pesquisador tanto na tomada de decisão sobre a realidade como a posterior reflexão sobre o processo ocorrido e consequente produção de conhecimento científico sobre o processo. Os resultados apontaram que os empreendedores que participaram no projeto de extensão adquiriram conhecimentos e conceitos necessários para a gestão de seus empreendimentos e puderam perceber-se como sujeitos ativos no processo de fortalecimento da economia solidária. A partir dessa reflexão concluíram também sobre a possibilidade de mobilização e participação em espaços públicos com suas dificuldades e benefícios.
Palavras-chave: Economia solidária; Aprendizagem individual; Processo socioeducativo; Pesquisa-ação; Extensão universitária.
RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA: UM DUPLO OLHAR SOBRE A REDUC
HÉLIO ARTHUR REIS IRIGARAY, SYLVIA CONSTANT VERGARA e MARCIO CESAR FRANCO SANTOS
RESUMO
A Responsabilidade Social Corporativa (RSC) tem sido objeto de discussão tanto nos meios empresariais quanto nos acadêmicos, já tendo sido retratada como estratégia que pode contribuir para o desempenho financeiro das empresas, uma resposta estratégica a pressões institucionais sofridas pelas empresas, um mero discurso de marketing, ou ainda, uma atividade pós-lucro. A discussão sobre o tema permanece centrada nas organizações e os outros agentes (stakeholders) são, geralmente, tratados como satélites coadjuvantes. A proposta deste estudo é deslocar o eixo da discussão sobre Responsabilidade Social Corporativa (RSC), da empresa para a sociedade civil e responder à seguinte questão investigativa: em que medida o discurso e as práticas da Petrobras são congruentes, sob a ótica da comunidade que vive ao redor da Refinaria Duque de Caxias (Reduc)? Fundamenta-se na crença de que algo essencial se perdeu na busca por soluções meramente técnico-instrumentais, as quais resultaram na geração de uma sociedade mercadocêntrica, utilitarista e calculista. Ao contrário de outros estudos que objetivaram analisar a correlação entre RSC e retorno financeiro, políticas públicas ou investimento social, neste busca-se analisar o discurso da Petrobras sobre RSC e confrontá-lo com o olhar dos habitantes da comunidade de Campos Elísios, localizada em Duque de Caxias, a qual é vizinha da refinaria, sobre o impacto das operações desta. Entendeu-se a necessidade de se dar voz aos que são marginalizados e esquecidos nos discursos oficiais, no caso, a comunidade de Campos Elíseos. Para tal, foi realizada na comunidade uma pesquisa inspirada na etnografia e suas variantes, como a autoetnografia e a fotoetnografia, e foi constatado que a imagem que a Petrobras comunica externamente em suas políticas de segurança, saúde e meio ambiente (ter uma grande virtude cívica, pautando suas atividades por práticas ecológica e politicamente corretas) não é compartilhada pela comunidade. Entende-se que as organizações devam prestar contas não só aos seus acionistas, mas também aos empregados, mídia, governo e às comunidades nas quais operam e com as quais interagem. Advoga-se a democratização do processo decisório organizacional, o qual deveria se dar sobre as bases de um diálogo mais
participativo com todos os parceiros sociais.
Palavras-chave: Responsabilidade social corporativa; Etnografia; Autoetnografia; Fotoetnografia; SMS.
VINCULAÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA DO SETOR PÚBLICO COM O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: LIÇÕES DA ÍNDIA
SUBHASIS RAY
RESUMO
Fóruns think tanks previram a Índia como a maior economia do mundo até 2050. Isso exigiria da Índia acelerar o seu desenvolvimento industrial e aperfeiçoar sua infraestrutura. Contudo, esse desenvolvimento previsto pode impactar negativamente as bases sociais e ambientais da economia nacional. Uma série de medidas regulatórias foram propostas pelo Governo indiano para assegurar o apoio social para os objetivos de desenvolvimento sustentável e inclusivo. Entre elas estão diretrizes de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) obrigatórias para as empresas do setor público. Este artigo investiga essa medida por meio da análise de documentos e de entrevistas com gestores responsáveis pela execução de programas de RSC no setor público indiano. Essa análise identifica quatro áreas que demandam atenção para a efetiva ligação entre o desenvolvimento sustentável e a RSC: engajamento de stakeholders, mecanismos institucionais, capacitação e gestão do conhecimento. Discute-se sobre as implicações dos achados sobre a Índia e outras economias emergentes. Conclui-se que o uso de RSC para promover o desenvolvimento sustentável pode funcionar em longo prazo se os interessados vierem a colaborar nas quatro áreas de atenção identificadas.
Palavras-chave: Índia; RSE; Desenvolvimento sustentável; Setor público; Implementação.
APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL BASEADA NO CONCEITO DE PRÁTICA: CONTRIBUIÇÕES DE SILVIA GHERARDI
MARCELO DE SOUZA BISPO
RESUMO
A aprendizagem organizacional é um tema que já possui muitos estudos, com diversas abordagens ontológicas e epistemológicas que se refletem em um campo multiparadigmático (ANTONELLO; GODOY, 2010). Uma dessas abordagens refere-se à visão sociológica da aprendizagem nas organizações (GHERARDI; NICOLINI; ODELLA, 1998; GHERARDI; NICOLINI, 2001; BISPO; MELLO, 2012; HAGER, 2012) na qual o ambiente social é o espaço onde ocorrem os processos de aprendizagem e a geração do conhecimento. O principal objetivo deste trabalho é apresentar e discutir as contribuições de Silvia Gherardi, uma das principais pesquisadoras internacionais na área de aprendizagem nas organizações, que possui um grande número de produção científica sobre o tema, destacando- -se a perspectiva sociológica da aprendizagem a partir das práticas. Tal objetivo se dá em razão de que, apesar de haver uma vasta literatura sobre aprendizagem organizacional, no contexto brasileiro são muito poucas as pesquisas que adotam alguma das perspectivas sociológicas da aprendizagem, esta lacuna é apontada no trabalho de Bispo e Mello (2012). Como contribuições, este artigo pretende: 1. apresentar em um único texto as principais ideias e conceitos de Silvia Gherardi; e 2. trazer para o debate dos acadêmicos brasileiros da área de aprendizagem uma perspectiva sociológica que possibilite melhor compreensão de como ocorre a aprendizagem nos níveis de grupo e organizacional. A pesquisa é qualitativa baseada essencialmente em uma revisão de literatura das obras de Gherardi complementada com as conversas informais com ela durante minha estada na Universidade de Trento em 2010 e 2013, além da troca de alguns e-mails após retorno para o Brasil. Como contribuição, o artigo traz a reflexão sobre a adoção das práticas como elemento gerador da aprendizagem coletiva, assim como formador das organizações, candidatando-se como um novo paradigma que carrega nos seus pressupostos de ordem ontológica e epistemológica uma alternativa para contribuir no avanço dos estudos sobre aprendizagem organizacional.
Palavras-chave: Aprendizagem organizacional; Silvia Gherardi; Práticas; Conhecimento; Organizações.
A CRISTALIZAÇÃO DE UMA MICRORREVOLUÇÃO FRANCESA: O CASO DAS COOPERATIVAS DE SALINAS-MG
EDSON ANTUNES QUARESMA JÚNIOR, DANIEL LANNA PEIXOTO e ALEXANDRE DE PÁDUA CARRIERI
RESUMO
Como as forças dos indivíduos se voltam contra si mesmos? Aonde o próximo passo pisará a ponto de levar uma organização a uma mudança radical? Até que ponto a estratégia pode ser vista enquanto um processo separado da prática? Este paper traz algumas pistas de como esses processos podem acontecer. Ao acompanhar o cotidiano de duas cooperativas, com o objetivo de conviver com suas estratégias de controle, bem como as interações dos cooperados, verificou-se que as diretorias foram deslegitimadas do poder por meio de processos não planejados, mas subscritos em uma ordem visível pelas traduções de lógicas de outros sistemas e de outros episódios do mesmo sistema, inscritos em espaços habitados, desnudados pelo cotidiano dos cooperados. Por esta via de análise, contribui-se para a inserção de dois autores nos estudos organizacionais, no campo da estratégia como prática: Niklas Luhmann (com os episódios, a comunicação, tradução para dentro dos sistemas) e Michel de Certeau (com as táticas e a concepção de um espaço habitado). Acredita-se que ambos podem ser ainda mais elucidadores de sentidos quando trabalhados juntos. Com eles, foi possível perceber como as táticas contribuíram para que as diretorias fossem percebidas como “culpadas” de práticas que consideraram como certas, e que eram oriundas de sistemas de referências externas. Com as novas diretorias, o poder emana da fluidez: ao mesmo tempo que cristalizado em novas pessoas, é filtrado pelo conjunto, que controla as decisões através das reuniões em que são deliberadas as questões mais relevantes. Mas as táticas continuam. E assim, abrem cotidianamente os novos episódios para algum futuro.
Palavras-chave: Estratégia como prática; Cotidiano; Cooperativas; Mudanças; Poder.
A TERCEIRA MARGEM DO RIO DOS ESTUDOS CRÍTICOS SOBRE ADMINISTRAÇÃO E ORGANIZAÇÕES NO BRASIL: (RE)PENSANDO A CRÍTICA A PARTIR DO PÓS-COLONIALISMO
ALEXANDRE REIS ROSA e RAFAEL ALCADIPANI
RESUMO
O objetivo deste ensaio é apresentar uma introdução ao pensamento pós- -colonial a partir da sua origem, das principais vertentes de estudo e de possíveis diálogos entre as tradições anglófona e latino-americana. Para tanto, discutimos os conceitos de subalternidade, descolonização e hibridismo como possibilidade teórica de se explorar a perspectiva pós-colonial nos estudos críticos sobre organizações no Brasil. Embora o debate sobre subalternidade e pós-colonialismo seja relativamente novo nos estudos organizacionais, dentro e fora do Brasil, a revisão da literatura na área mostra que, mesmo fora do contexto da démarche pós-colonial, muitos trabalhos produzidos sobre administração e organizações no Brasil levaram em conta as mesmas preocupações dos autores pós-coloniais. De forma indireta, os trabalhos abordam temas que estão ligados aos efeitos do colonialismo no mundo contemporâneo e ainda reconhecem a necessidade de se descolonizar este campo de estudos quando analisam a questão da dependência cultural na tradição intelectual brasileira e na transferência de tecnologia gerencial entre países do centro e da periferia, quando problematizam o uso de teorias produzidas no Norte Global e buscam referências que valorizem um olhar a partir do Sul Global, e quando identificam a forte presença do hibridismo na dinâmica cultural brasileira. Por outro lado, ao analisar o campo de estudos críticos no Brasil, constatamos a presença de uma visão dicotômica que tende a radicalizar a relação centro/periferia com a separação entre uma suposta crítica nacional e o critical management studies (CMS), reproduzindo um tipo de binarismo intelectual típico da mentalidade colonial, que neste caso busca definir quem é e quem não é crítico. A fim de superar este impasse, propomos um processo de hibridização capaz de reconciliar os dois polos. Ao final do ensaio, argumentamos que o desenvolvimento teórico e político de ambos os lados depende de uma abordagem que explore as fissuras do discurso colonial e se configure a partir de um terceiro espaço de produção do conhecimento.
Palavras-chave: Pós-colonialismo; Estudos subalternos; Hibridismo; Estudos críticos; CMS.
DILEMAS E DESAFIOS VIVIDOS POR MULHERES QUE MIGRARAM EM FUNÇÃO DO TRABALHO DO CÔNJUGE
SIRLENE APARECIDA CARVALHO BEZERRA e ADRIANE VIEIRA
RESUMO
A intensificação da movimentação das empresas e de pessoas ao redor do mundo tornou-se cada vez mais constante e valorizada, fazendo surgir uma espécie de nomadismo organizacional e profissional. Nesse cenário não é apenas a vida profissional dos trabalhadores que é afetada, mas também a de toda a sua família, em especial das esposas, uma vez que a adaptação do funcionário ao novo ambiente organizacional e da própria família depende, em grande parte, da dela. Este trabalho teve por objetivo analisar os dilemas e desafios vividos por mulheres que migraram de cidade e em alguns casos de estado em função do trabalho do cônjuge. O arcabouço teórico contemplou os temas: gênero, trabalho, família e mobilidade. Com esta pesquisa pretende-se preencher parte da lacuna nos estudos acadêmicos relacionados à interculturalidade, no que diz respeito à mobilidade nacional e às questões de gênero, uma vez que pouco se tem discutido a respeito dos problemas de adaptação regional, principalmente em países com grande extensão geográfica e diversidade cultural como as do Brasil. Trata-se de uma pesquisa qualitativa cujos dados foram coletados por meio de entrevistas e analisados por meio da técnica de análise de conteúdo. Foram identificadas seis mulheres nessa condição na empresa em foco e quatro delas consentiram em participar da pesquisa. No que diz respeito à renúncia da carreira, o principal motivo foi dar aos cônjuges a oportunidade de realizarem o sonho de trabalhar numa grande empresa multinacional que é referência no ramo de atividade. Nos primeiros meses, as mulheres se dedicaram às questões do lar e da família e só depois tentaram retomar suas vidas profissionais. Nenhuma delas conseguiu retomar a carreira interrompida. Dentre os dilemas vivenciados pelas mulheres, destacam-se dificuldades de adaptação à cultura local, à construção de nova rede de relacionamento e amizades, e a retomada da vida profissional. Os sentimentos e comportamentos associados à atual condição são de frustração e isolamento, mas também de resiliência e superação.
Palavras-chave: Mulheres; Interculturalidade; Mobilidade nacional; Carreira; Cônjuge.